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Cotidiano

Até breve, Brasil: jovens deixam o país em busca de oportunidades

De acordo com a pesquisa do Datafolha, o destino mais citado de quem pretende deixar o Brasil é os Estados Unidos com 14% e Portugal fica em segundo lugar com 8%.

Rafaella Martinez

Publicado em 19/08/2018 às 12:51

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Jovens tem deixado o Brasil em busca de novas perspectivas. / Arquivo Pessoal

O roteiro já está traçado, os preparativos finalizados e Rafael Schaefer aguarda apenas a liberação do visto australiano para engrossar a fila de pessoas que estão deixando o Brasil para tentar a vida no exterior. O engenheiro caminha para realizar o sonho de 43% dos adultos brasileiros: se pudesse, essa parcela da população deixaria o País para tentar a vida no exterior.

O que impulsionou Schaefer foi a possibilidade de fazer uma especialização em Gerenciamento de Processos Industriais, área em que atua hoje no Brasil. “Trabalho em uma multinacional de polímeros, que tem filiais em vários países do mundo e acredito que ir para Austrália estudar pode agregar oportunidades futuras de crescimento pessoal e profissional”, afirma.

Para se adaptar melhor no novo continente, Rafael escolheu a dedo a nova morada: Brisbane, a terceira maior cidade da Austrália e que por estar no Hemisfério Sul tem o clima semelhante ao de Santos. “Já tive a oportunidade de passar as férias na África do Sul e foi uma experiência incrível. Minha expectativa é fazer um network e conhecer pessoas que trabalham na mesma área que a minha – engenharia mecatrônica - em outros países, além de conhecer uma cultura diferente. Estou calmo, mas com o coração cheio de expectativas do mundo que vou conhecer lá fora”, afirma.

O destino escolhido por Rafael é o mesmo para onde Fernanda Borges, de 25 anos, embarcou em março do ano passado.  Mesmo após quatro anos e duas promoções em uma gigante do ramo de Comércio Exterior, Fernanda via a necessidade de experimentar mais do mundo, além de se aperfeiçoar no inglês.

“Depois de ser transferida de Santos para São Paulo e aprender a morar sozinha, percebi que era hora de realizar aquele sonho antigo que estava adormecido, quando passei um mês na Califórnia. Eu sabia que para me sustentar teria que trabalhar e pesquisei países que me permitiriam isso e a Austrália foi a escolhida”, conta ela, que sete meses após a chegada no novo continente começou a trabalhar na mesma área que atuava no Brasil.

De acordo com ela, a adaptação em um país culturalmente diferente foi a maior barreira na mudança.

“O começo foi muito difícil. Embora existisse a vontade de morar fora, eu estava em uma fase muito boa em termos pessoais no Brasil. Eu tinha muitos amigos, estava envolvida em muitos projetos. Por conta disso tive uma instabilidade emocional muito grande, que dificultou a minha adaptação. Eu estava na Austrália, mas meu coração estava no Brasil e teve um momento em que eu precisei me desligar para que as coisas fluíssem melhor”, afirma.

Para ela, a diferença mais significativa entre os dois países é a segurança. “Emocionalmente eu quero estar no meu país, mas racionalmente sei que a Austrália é melhor. Eu tenho liberdade para andar na rua sem medo de ser assaltada e isso faz toda a diferença. Também vejo que não existe uma grande diferença econômica aqui: mesmo as pessoas que fazem serviços mais simples conseguem ter um bom padrão de vida. Todas as profissões são valorizadas e respeitadas”, aponta.

Em aspectos negativos, ela destaca os gastos com saúde e a saudade da energia do povo brasileiro. “Aqui ir ao dentista é um absurdo, por exemplo. Mas o que eu mais sinto falta é da energia do povo, do calor. Da dança, da música, da festa. Achar um grupo de forró me ajudou demais a matar um pouco essa saudade, mas nenhum povo tem a energia do brasileiro”, finaliza.

Estados Unidos e Portugal são os principais destinos

De acordo com a pesquisa do Datafolha, o destino mais citado de quem pretende deixar o Brasil é os Estados Unidos  com 14% e Portugal fica em segundo lugar com 8%. Aparecem também Canadá (3%), França, Espanha, Inglaterra (2%, cada), Itália, Suíça, Japão, Austrália e Alemanha (1%, cada). Outros destinos não alcançam 1%.

Ir para América estudar e ‘fugir’ da crise econômica do Brasil: essa foi a ideia da vicentina Érika Silva. Após trabalhar por uma década com Comércio Exterior, primeiro em Santos e depois em São Paulo, ela viu precisava aperfeiçoar o inglês e aproveitou a instabilidade econômica do Brasil para alçar voos no exterior.

“Eu comecei a ver que seria um ano ‘perdido’ por aqui: não iria crescer e nem ter aumento salarial. Aproveitei para pegar um ano e ir para fora estudar e voltar apta para conseguir uma oportunidade melhor”, conta.

Na Califórnia, o sonhou cresceu e ganhou novos contornos. “As coisas funcionam nos Estados Unidos. O transporte público é ótimo, a educação é incrível, as ruas são limpas. Eu cresci no Jóquei Clube, em São Vicente, e vi o descaso com o qual o bairro era tratado. Quando mudei para São Paulo já notei uma diferença grande, mas morar no exterior deu uma outra dimensão. Eu ando com meu celular sem medo, as pessoas se respeitam. É outra realidade”, afirma ela, que pretende continuar os estudos no país com um mestrado no seu ramo de trabalho.

Destino escolhido por muitos jovens que desejam deixar o Brasil, foi por amor à arte que Henrique Alves escolheu Portugal para chamar de lar. Após visitas ao país por quatro anos para produção de um espetáculo de rua em Vila do Conde, neste ano o artista conseguiu o visto para estudar no Instituto Nacional do Circo (INAC) e partiu definitivamente para o país. 

“Eu tenho direito à cidadania portuguesa por conta dos meus bisavós, mas o processo está muito demorado. Desde a primeiro vez que pisei em Portuugal, quando vim apenas em um trabalho rápido, notei a qualidade de vida, a infraestrutura e as facilidades artísticas e percebi que era aqui que queria ficar”, conta.

Ter trabalhado no país facilitou o processo de adaptação, mas, como Fernanda, Henrique sente falta do povo brasileiro. “No Brasil tudo é festa, o povo está sempre de bem com a vida, mesmo quando as coisas não estão bem. A energia é diferente fora”, aponta.

Por ter apenas o visto de estudante, o jovem não pode trabalhar e pretende usar o dinheiro juntou nos últimos anos para se manter o maior tempo possível. “O Euro está muito caro e esse é um problema grande que estou enfrentando. Espera que a cidadania saia para trabalhar e conseguir se manter ao menos nos três anos de curso. Todo mundo me pergunta se pretendo voltar. Eu não sei a resposta, mas no fundo eu duvido que volte. Me encontrei em Portugal”, finaliza.

A pergunta é a mesma feita constantemente a Rafael Schaefer que afirma não ter, no momento, essa resposta. “Só o tempo e as oportunidades poderão dizer. Não tenho uma obrigação familiar hoje, portanto sei que esse é o momento de me lançar. Profissionalmente estou crescendo e vejo que é a oportunidade de me qualificar mais, crescer em uma área mais estratégica na própria empresa em que eu trabalho. Poder me aperfeiçoar e quem sabe, se eu voltar, conseguir voltar melhor”, finaliza.

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