10 de Outubro de 2024 • 04:34
Cotidiano
Sem força política, Baixada Santista acabou preterida pela Petrobras, que transferiu voos com trabalhadores do pré-sal para o Rio de Janeiro
O aeródromo de Itanhaém tem capacidade para receber aviões para 100 passageiros / Divulgação/PMI
Inaugurado em 1950, o Aeroporto Antônio Ribeiro Nogueira Júnior já foi um dos mais movimentados do Estado. Na década passada, a pista localizada às margens da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega chegou a registrar até 22 mil operações de pouso e decolagem por ano. E a economia de Itanhaém decolava junto, com a atração de 1.600 novas empresas e a geração de novos postos de trabalho.
Mas, vieram novos ventos e ‘cumulonimbus’ cobriram o aeroporto do Litoral Sul desde que a Petrobras resolveu transferir para o Rio de Janeiro todos os voos com trabalhadores e suprimentos para as plataformas de petróleo da Bacia de Santos.
Hoje, o movimento de pousos e decolagens caiu 66% e o número de passageiros despencou mais de 90%. No auge, 19 mil passageiros embarcaram ou desembarcaram na Terra de Anchieta em 12 meses. Hoje, seriam mais de 100 mil passageiros/ano, segundo cálculos da Federação Nacional dos Petroleiros. Mas, em 2023, foram só 1.436.
Segundo a Gerência de Imprensa da Petrobras no Rio de Janeiro, atualmente, os voos da empresa “para a Bacia Petrolífera de Santos são atendidos pelos aeroportos de Cabo Frio, Maricá e Jacarepaguá”, todos no Estado do Rio de Janeiro.
A companhia conta com “um efetivo aproximado de 12.900 que atuam diretamente na Bacia Petrolífera de Santos, entre próprios e terceirizados, nos regimes em terra e no mar”. Em relação à possibilidade de retomada das operações em Itanhaém, a empresa se limitou a dizer que “avalia, permanentemente, a necessidade de bases de voos para garantir segurança e bem-estar aos seus trabalhadores”.
No início da década passada, a Petrobras chegou a investir R$14 milhões na melhoria da infraestrutura de segurança e de embarque/desembarque no Litoral Sul de São Paulista. O Governo do Estado também aplicou R$9 milhões no aeroporto, antes de transferir a administração do aeródromo do Departamento Aeroviário (Daesp) à Rede Voa SP, que gerencia outras 15 pistas de pouso em diversas regiões de São Paulo.
“A partir de 2016, com a saída da Dilma (Rousseff), e até 2022, eles centralizaram tudo no Rio de Janeiro. Com (Michel) Temer na Presidência da República (2016/2018), acabou a exigência do conteúdo local, acabou a indústria naval”, explica Adaedson Costa, secretário-geral da Federação Nacional dos Petroleiros.
“Quando existia a obrigação do conteúdo local, a Petrobras tinha duas plataformas no pré-sal, Merluza e Mexilhão, e tinha a previsão de mais nove plataformas. No mínimo multiplicaria por quatro ou por cinco o número de embarques/desembarques em Itanhaém”, completa o Secretário-geral da Federação dos Petroleiros.
Hoje, funcionários da Petrobras residentes na Baixada Santista precisam se deslocar até o Aeroporto de Congonhas para, daí, pegar a ponte aérea até o Rio de Janeiro, onde embarcam para as plataformas da Bacia de Santos. Já os terceirizados vão dirigindo até o Rio ou vão de ônibus até o Litoral Norte, quando o embarque se dá nos aeroportos de Cabo Frio ou Maricá.
“A decisão da Petrobras causou prejuízos para as redes hoteleira, comércio e prestação de serviços”, resumiu a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Itanhaém, em nota.
Além de atenderem as plataformas da Bacia de Santos, os aeroportos de Maricá, Cabo Frio e Jacarepaguá também servem de apoio a todas as plataformas da Petrobras na Bacia de Campos, no litoral norte do Rio de Janeiro, no embarque e desembarque de trabalhadores e mantimentos.
Ainda de acordo com a empresa, diariamente são realizadas entre 20 e 26 operações de pouso e decolagem de helicópteros a serviço da Petrobras. E esses números são relativos apenas ao Aeroporto de Jacarepaguá em direção ao pré-sal da Bacia de Santos.
Com uma pista nas mesmas dimensões daquela disponível no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, o aeródromo de Itanhaém tem capacidade para receber aviões para 100 passageiros, como os Boeings 737.
Segundo a Rede Voa SP, em 2023 o Aeroporto de Itanhaém registrou o embarque ou o desembarque de 1.436 passageiros. Isso representou apenas 6,52% do volume de pessoas que transitaram do aeródromo do Litoral Sul. Neste ano, de janeiro a agosto, foram 1.091 passageiros.
Já em relação aos voos, foram 3.665 pousos e 3.616 decolagens em 2023. Neste ano, de janeiro a agosto, foram 4.238 movimentações de aeronaves.
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