Cotidiano
Talvez como um símbolo de esperança por dias melhores, uma árvore cresce entre os trilhos no Centro de Itanhaém, denunciando os anos de esquecimento e abandono
Em Peruíbe, os trilhos localizados nas passagens de nível foram cobertos pelo asfalto / Márcio Ribeiro/DL
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A linha do trem, que já foi motivo de orgulho e desenvolvimento para as cidades do Litoral Sul de São Paulo, está desativada e, em alguns pontos, sucateada e depredada. Ao longo dos seus 214 km de extensão, faltam estações de trem, dormentes e até trilhos.
Talvez como um símbolo de esperança por dias melhores, uma árvore cresce entre os trilhos no Centro de Itanhaém, denunciando os anos de esquecimento e abandono.
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Seguindo sentido Mongaguá e Praia Grande, a situação é a mesma, com mato, árvores e aparente falta de manutenção. A mesma situação pode ser vista nas cidades do Vale do Ribeira, onde os vagões passavam.
Em Peruíbe, os trilhos localizados nas passagens de nível foram cobertos pelo asfalto. Em outros pontos, os ferros foram furtados, restando apenas os dormentes apodrecidos pela ação do tempo.
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A Rumo Logística, que é a atual concessionária do ramal, assumiu o trecho em julho de 2014, ao comprar da América Latina Logística (ALL). Sem receber trem desde janeiro de 2002, tal condição é um desafio para tirar da gaveta o antigo plano regional de reativação desta ferrovia.
Em matéria publicada em 2018 pelo portal Editoria Livre, um esboço inicial da concessionária do trajeto indicou que seriam necessários R$ 184 milhões para que a malha fosse retomada. Pressionada por órgãos de controle, a empresa concluiu ser inviável reativar o ramal para transporte de carga.
O documento concluído pela Rumo naquele ano indica questões técnicas, econômicas e ambientais para a sua recusa em operar a linha, aberta no começo do século passado. Por isso, quer devolver a malha à União. Assim, abriria oportunidade para acelerar a expansão do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) até o Litoral Sul.
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Ainda de acordo com o estudo, o trecho precisa de 89,4 quilômetros de trilhos, pouco mais de 299 mil dormentes (peças para fixação dos trilhos), 26 aparelhos de mudança de via e 200 metros de reforço e plataformas.
Fora isso, ações judiciais obrigam a concessionária a arcar com o custo de manutenção (corte de mato e limpeza de entulho) nas cidades do Litoral. Recentemente e em fase de andamento, esse tipo de serviço pode ser observado em Peruíbe, ao menos.
“Mesmo com valor de demanda bastante otimista, os custos operacionais, somados aos investimentos necessários, são superiores às receitas a serem obtidas”, continua o documento da Rumo. A publicação conclui, ainda, que a restauração do transporte ferroviário de cargas do ramal regional não traria nenhuma contribuição à economia paulista.
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A Prefeitura de Itanhaém afirma que acompanha com atenção o processo de encerramento da concessão da empresa Rumo Logística, responsável pelas estradas de ferro na região, junto ao governo federal.
Neste ano, o prefeito Tiago Cervantes esteve reunido em Brasília com representantes da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para tratar do tema.
O município defende que a discussão sobre o futuro da linha férrea seja conduzida de forma regionalizada, com o envolvimento dos demais municípios da Baixada Santista, priorizando a reativação do transporte intermunicipal como alternativa para a mobilidade urbana na região.
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Em entrevista ao Diário do Litoral, o atual prefeito, Felipe Bernardo, disse que a prefeitura entrou com ação judicial e, mesmo condenada, a empresa não cumpre suas obrigações de manutenção:
“Estivemos na ANTT com o deputado federal Marangoni pedindo providências administrativas. A empresa já foi multada. Também discutimos a possibilidade de devolução da concessão, o que abriria espaço para a municipalização e uso turístico ou urbanístico do trecho.”
Em nota para o Diário do Litoral, em novembro do ano passado, a Rumo Logística disse:
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"O ramal ferroviário de Juquiá, que está localizado no ramal Samaritá - Cajati, está em processo de devolução junto ao Poder Concedente, conforme definido quando da renovação da Concessão da Malha Paulista. Após a finalização do procedimento de devolução, competirá ao DNIT, em conjunto com o Ministério dos Transportes, definir qual a melhor destinação para o trecho".