O engenheiro eletricista Eduardo Lustoza. / Nair Bueno/DL
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Em 2019, o Brasil viveu um dos meses de janeiro mais quentes dos últimos anos, com temperaturas acima dos 30 graus durante a maior parte dos dias. De acordo com levantamento feito pela plataforma GetNinjas, houve um aumento de 248% na demanda por instalação e manutenção dos aparelhos de ar-condicionado em janeiro deste ano, em comparação com o mesmo período de 2018. Ao longo do mês, o aplicativo registrou mais de 29 mil solicitações para o serviço, contra pouco mais de oito mil no ano anterior, quando as temperaturas estavam mais amenas.
No último dia 12, dez jovens jovens morreram em um incêndio no Centro de Treinamento do Flamengo, no Ninho do Urubu, no Rio de Janeiro. Outros três ficaram feridos, um deles - que segue internado - em estado grave. Uma análise preliminar da perícia da Polícia Civil constatou que o fogo no alojamento da divisão de base do Flamengo teve início a partir de um curto-circuito no ar-condicionado do alojamento. Após a tragédia, surgiram dúvidas se, de fato, os aparelhos de ar-condicionado são 100% seguros.
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Para responder essas dúvidas e entender melhor os riscos dos aparelhos de ar-condicionado, o Diário do Litoral entrevistou o engenheiro eletricista Eduardo Lustoza, diretor de Portos da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Santos (AEAS).
Diário do Litoral - Como um aparelho de ar-condicionado pode iniciar um incêndio?
Lustoza - O equipamento em si tem pouca chance de ocasionar isso. O problema costuma estar na instalação. O equipamento vem de grandes marcas, que fazem testes, e possui material anti-chamas. Então, eles costumam ser muito confiáveis, e as chances de problema são bem pequenas. Nesse acidente (do Rio de Janeiro), dá para supor, com uma grande chance de acerto, que foi problema de instalação. O alojamento era improvisado, sem caixas adequadas de passagem de fiação. Quando se faz a emenda de fios nessas condições, normalmente ficam falhas. Muito provavelmente foi nas emendas que aconteceu o chamado arco voltaico. O fio serve para transportar corrente e na vibração forma esse arco, um foguinho, que é onde começa a aquecer e derreter o material.
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Diário - Surgiram boatos de que, apesar de alguns aparelhos atingirem temperatura de 16°C, o uso neste limite poderia acarretar problemas, isso é verdade?
Lustoza - O fabricante garante que você pode alcançar - dependendo do isolamento térmico do ambiente - 16°C, 17°C. É até difícil chegar a essa temperatura, mas isso não muda nada a segurança do aparelho. Se isso fosse verdade, estaríamos condenando todos os equipamentos com essa opção. É uma causa improvável.
Diário - Quais as melhores formas de prevenir este tipo de acidente?
Lustoza - Instalação e manutenção. Na instalação elétrica feita de forma incorreta é que está o risco de problemas futuros. Não tem uma regra de tempo de manutenção, cada caso é diferente.
Diário - Existe alguma maneira de evitar os picos de energia que costumam causar problemas em aparelhos de ar-condicionado?
Lustoza - Usar estabilizador para evitar problema de alteração de voltagem. É uma maneira de ter mais garantia de qualidade de transporte de energia e proteção para o equipamento.
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Diário - Mais de um aparelho de ar-condicionado pode ser instalado no mesmo circuito elétrico?
Lustoza - Não. Se você coloca tudo em um ramal você sobrecarrega. É preciso colocar um fio para um ar, outro fio para outro ar, e cada um deles deve ir para a caixa de disjuntor, que é um dispositivo de proteção.
Diário - Existe algum indicativo de que o aparelho vai apresentar problemas?
Lustoza - A recomendação para aparelhos de ar-condicionado nas residências é dimensionar corretamente o disjuntor. Como alerta, nas altas cargas, como chuveiro e ar-condicionado, é importante ter um profissional se responsabilizando. Principalmente nas periferias do Brasil, temos uma desordem enorme em cima disso, é onde surgem os chamados ‘gatos’. Com eletricidade você tem uma responsabilidade, tem norma técnica para seguir. Eu sempre falo que ou tem um responsável técnico ou um irresponsável técnico. As pessoas vão fazendo as coisas e pensando: sempre deu certo, vou continuar fazendo; é aí que surgem os problemas.