O gavião-asa-de-telha (Parabuteo unicinctus) apareceu morto em Santos / Nair Bueno/DL
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Um gavião-asa-de-telha (Parabuteo unicinctus) apareceu morto em Santos, perto do canal 3, justamente no local onde ele se envolveu em uma polêmica. De lá, vieram notícias de que ele atacou pessoas. Noticiar sem contar o outro lado pode ser uma irresponsabilidade e levar pessoas a maltratar essa bela ave, que, no geral, não oferece perigo e raramente ataca humanos.
Ainda não se sabe se ele foi morto por populares ou se ocorreu outra situação, como ter batido em uma vidraça, por exemplo. O que é possível afirmar é que o cadáver do animal inflamou o debate nas redes sociais, que já estava bastante quente.
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Rodrigo Passos, biólogo e membro do Clube de Observadores de Aves de Santos (COA Santos), explicou que só dá para saber a causa da morte após uma necropsia. “No entanto, podemos ver diversos comentários nas postagens dos ataques, com cunho de violência e extermínio desses animais. Não ficaria espantado se a causa da morte fosse uma arma de chumbinho”, afirmou.
Apesar disso, ele falou da passagem do ciclone que trouxe ventos fortes para a região e da possibilidade de o gavião ter colidido com algum vidro, que é uma das maiores causas de mortes de aves pelo mundo, lembrou ele.
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O biólogo disse que é importante realizar campanhas para monitorar os pontos em que há gaviões em atividade reprodutiva, a fim de prever novos acidentes e também sinalizar as áreas em que os gaviões estão criando, além de conversar com a população ao redor para entender a relação que elas têm com essas aves.
“Dessa forma, teremos dados suficientes para propor uma campanha para mitigar os ataques às pessoas. É importante que a prefeitura possa realizar a sinalização dos ninhos para evitar outros acidentes. Os gaviões não são nossos inimigos de forma alguma, eles nos ajudam a controlar os pombos e ratos das cidades”, disse.
Na mesma linha, o biólogo e autor do livro Aves da Costa da Mata Atlântica, Leonardo Casadei, apontou algumas ações que o poder público deveria tomar:
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“A prefeitura poderia mapear esses ninhos e colocar uma faixa zebrada ou algo que impeça as pessoas de circularem por perto na época da reprodução do gavião, que é a época que estamos agora. A gente não pode e não deve demonizar o animal e dizer que ele é ruim por conta dessa situação. No passado, corujas foram mortas por se dizer que elas eram de mal agouro, né? E tanto as corujas quanto os gaviões são animais lindos e necessários para a natureza e para nós.”
Assista também a um vídeo da TV Cultura Litoral e entenda mais sobre o que aconteceu:
Nas redes sociais, dezenas de comentários foram publicados a respeito da morte do gavião. A maioria em favor dos gaviões e uma minoria contra. Leia alguns:
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“Que pecado! Tem uns filhotes no canal 3 que agora ficaram órfãos. Um deles pousou na minha varanda, mas pacificamente”.
“A primeira coisa que eu pensei: ‘envenenaram o bicho”.
“Poxa vida, ainda ontem pensei 'alguém vai acabar matando o gavião', foi mais rápido do que imaginei. Que tristeza, a natureza não nos merece”.
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“Eu fui atacado pelo gavião, mas entendi que é o instinto do bicho. Só me afastei. Segui vivo e deixei ele em paz também”.
“Graças às matérias tendenciosas realizadas nos últimos dias sobre a ave. Duvido muito que a morte tenha sido por naturalidade. Como sempre, o ser humano é decepcionante”.
Quanto às notícias veiculadas recentemente, Casadei falou que o ataque dos gaviões não é comum e chega até a ser raro. Disse que, provavelmente, algum indivíduo mais territorialista está com ninho e defendendo o seu bebezinho.
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“Na verdade, ele só quer afugentar as pessoas. Ele não quer atacar ou machucar, só quer que você saia de perto. Às vezes, em um desses rasantes, pode ser que ele machuque, como noticiaram, mas é uma situação bem difícil de acontecer.”
Rodrigo Passos, por sua vez, falou que, enquanto algumas pessoas admiram os gaviões e apreciam a chance de poder vê-los livres, outros acreditam que não há espaço para esses animais na cidade e que precisam ser manejados de toda maneira.
“Esse pensamento só é possível quando as pessoas perdem o senso de coletividade e conexão com a natureza. Essa perda da conexão é muito nociva para a fauna, flora e para os próprios humanos.”
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Vale lembrar que maltratar, matar ou capturar qualquer animal silvestre é crime ambiental, e denúncias devem ser encaminhadas para os órgãos competentes.