Cotidiano

Após mais de 35 anos, livraria Saraiva encerra as atividades na Ana Costa

O fechamento desta e de outras 19 lojas do grupo no Brasil acontece dias após o anúncio de recuperação judicial feito pela Livraria Cultura

Rafaella Martinez

Publicado em 31/10/2018 às 08:00

Atualizado em 31/10/2018 às 11:33

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A empresa afirma ainda que continua a investir em seu futuro e reforçará sua estratégia voltada para o digital, passando a contar com 84 lojas físicas e e-commerce / Rodrigo Montaldi/DL

No dia do livro – comemorado na última segunda-feira (29) – Santos amanheceu sem uma de suas mais tradicionais livrarias no coração do Gonzaga. Três cartazes afixados na fachada da Saraiva anunciavam o encerramento das atividades da unidade Ana Costa, ativa desde a década de 80.

O fechamento desta e de outras 19 lojas do grupo no Brasil acontece dias após o anúncio de recuperação judicial feito pela Livraria Cultura, em uma das piores crises do mercado editorial brasileiro. Nos últimos meses, as gigantes não conseguiram liquidar o pagamento para seus fornecedores - agravando ainda mais a situação das editoras. Por outro lado, livrarias como Martins Fontes e as redes Leitura, Livrarias Curitiba, Travessa e Vila, mais conservadoras em sua gestão, vem conseguindo enfrentar mais tranquilamente a crise.

“Uma livraria fechada diz muito sobre o nosso tempo. Nossa cultura está empobrecendo”, argumenta Luciano Moreira, que ao lado da filha, Carolina, ficou surpreso com o fechamento da loja. “Sempre estimulamos a leitura em nossa casa e não basta comprar um livro pela internet: a magia é passear dentro de uma livraria, ler um pouco mais sobre os títulos e levar aquele que mais encantou. Voltamos para casa de mãos vazias hoje”, complementa.

Também surpreendida com o anúncio do encerramento das atividades, Neide Mantovani não esconde a tristeza ao relembrar as constantes visitas no espaço. “Meus filhos compararam muitos livros aqui e agora meu neto compra pela internet e pede para eu vir buscar. Vim aqui hoje comprar um para mim e vi esse aviso. É muito triste, me dá vontade de chorar”, lamenta.

História

A Saraiva da Ana Costa surgiu na década de 80 com o nome de Livraria Siciliano, marca criada em 1928 em São Paulo, pelas mãos de Pedro Siciliano, ex-distribuidor das publicações de Roberto Marinho e Assis Chateuabriand. A unidade santista foi uma das primeiras no processo de expansão que atingiu outros estados como Minas Gerais e Rio Grande do Norte.

No dia 6 de março de 2008 a Livraria Saraiva adquiriu todas as ações da Siciliano por R$ 60 milhões, passando a ser proprietária das 63 lojas em 13 estados brasileiros. A unidade santista foi transformada em Saraiva e continuou funcionando no mesmo endereço por mais dez anos, até a última segunda-feira.

Uma unidade da livraria segue ativa no Shopping Praiamar, localizado na Rua Alexandre Martins, 80 na Aparecida.

Posicionamento

Em nota, a Saraiva informa que, ante os desafios econômicos e operacionais do mercado e indicadores que retratam uma mudança na dinâmica do varejo, se esforça para obter rentabilidade e ganho de eficiência operacional, dentro de uma estrutura mais enxuta e dinâmica.

“Nesse sentido, as medidas adotadas pela companhia incluem o fechamento de algumas lojas. Com este movimento, a empresa dá continuidade ao seu plano de transformação, que inclui aberturas, reformas e fechamentos de unidades, a fim de manter sua operação saudável e cada vez mais multicanal”, destaca a nota.

A empresa afirma ainda que continua a investir em seu futuro e reforçará sua estratégia voltada para o digital,  passando a contar com 84 lojas físicas e e-commerce. Este último, com crescimento significativo nos últimos anos, alcançando 38,4% do total de vendas da companhia no segundo trimestre de 2018. Além disso, focará seu negócio no mercado de livros, que representa a essência da companhia e é hoje a categoria mais vendida pela rede.

“Há que se ter investimento no ser humano”, enfatiza livreiro

Não deixa de ser um contraste conversar com o livreiro José Luiz Tahan, dono da pequena e charmosa livraria de rua Realejo, sobre o fechamento da gigante Saraiva. Em seu QG, instalado no primeiro piso da casa de número 2 na Avenida Marechal Deodoro, Tahan fala com tristeza da crise no mercado editorial.

“É uma notícia ruim e muito triste. Mas a meu ver a Saraiva tomou uma medida consciente de encolher suas atividades para conseguir permanecer de pé. Só o tempo vai dizer se esse encolhimento será o bastante, mas acho que é melhor que a ação da Cultura de pedir recuperação judicial. Ambos os casos são tristes, pois quanto menos lugares físicos de vendas, menos as pessoas lembrarão dos livros”, afirma.

Tahan reconhece as dificuldades do setor, mas afirma que apesar do cenário é possível estar com as contas em dia.

“Nunca devemos perder de vista a vocação das livrarias, que é estar próxima dos leitores. O livreiro precisa atuar não apenas para vender livros, mas para instigar o público, promovendo ações que vão além do puro comércio. Aqui na Realejo trabalhamos com essa usina de produção que é necessária, mas não tão simples de executar. Há que se ter investimento no ser humano”, finaliza.

 

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