Cotidiano
Enquanto a esponja usada na pia da cozinha precisa ser trocada em poucas semanas, um 'parente' distante que vive no fundo do oceano pode atravessar milênios sem morrer.
O caso mais emblemático é o da Monorhaphis chuni, uma esponja-do-mar peculiar encontrada em regiões como o Mar da China Oriental e áreas próximas à Antártida / Wikimmedia Commons
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Enquanto a esponja usada na pia da cozinha precisa ser trocada em poucas semanas por questões de higiene, um 'parente' distante que vive no fundo do oceano pode atravessar milênios sem morrer.
As chamadas esponjas de vidro, animais marinhos que habitam águas profundas e frias, estão entre os seres vivos mais longevos do planeta, com estimativas que chegam a 15 mil anos de vida.
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O caso mais emblemático é o da Monorhaphis chuni, uma esponja-do-mar peculiar encontrada em regiões como o Mar da China Oriental e áreas próximas à Antártida. Apesar de ter apenas cerca de um centímetro de espessura, o animal pode ultrapassar dois metros de comprimento e viver, em média, 11 mil anos, segundo pesquisas científicas.
A Monorhaphis chuni foi descoberta em 1986, durante operações de dragagem realizadas a aproximadamente 1.100 metros de profundidade.
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Por viver em ambientes extremos, com baixas temperaturas e pouca disponibilidade de alimento, seu crescimento ocorre de forma extremamente lenta — um fator diretamente ligado à sua longevidade extraordinária.
Para estimar a idade do animal, pesquisadores utilizaram microscopia eletrônica e análises químicas do seu esqueleto, composto por sílica. Os estudos indicaram uma faixa etária entre 8 mil e 14 mil anos, com média em torno de 11 mil anos, o que coloca a espécie entre os animais mais antigos já registrados.
A estrutura mais impressionante da Monorhaphis chuni é sua espícula, um eixo rígido de sílica semelhante ao vidro, que funciona como uma espécie de âncora, fixando a esponja ao fundo do mar.
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O crescimento desse eixo ocorre pela adição de camadas concêntricas de sílica, em um processo comparável aos anéis de crescimento das árvores.
Essas camadas não representam necessariamente anos individuais, mas refletem variações ambientais, sobretudo mudanças na temperatura da água ao longo de milhares de anos. A composição química da espícula transforma o esqueleto da esponja em um verdadeiro arquivo climático natural.
Análises isotópicas revelaram períodos de aquecimento abrupto e resfriamentos subsequentes nas águas profundas, oferecendo pistas valiosas sobre as dinâmicas oceânicas e eventos geológicos desde o início do Holoceno, período que compreende os últimos 11 mil anos.
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A longevidade da Monorhaphis chuni também desperta grande interesse na biologia. Pesquisas indicam que o animal possui mecanismos eficientes de proteção celular, capazes de reduzir danos causados pelo estresse oxidativo — um dos principais fatores do envelhecimento em organismos mais complexos.
Além disso, como outras formas de vida consideradas basalmente simples, como corais, medusas e vermes planos, essas esponjas mantêm populações de células-tronco pluripotentes, responsáveis pela regeneração contínua dos tecidos. Esse sistema ajuda a preservar a integridade do organismo por milhares de anos e levanta hipóteses sobre processos de renovação celular e até sobre conceitos de “quase imortalidade” em algumas espécies.
O contraste entre a esponja marinha e a esponja doméstica chama atenção. As esponjas sintéticas, feitas de poliuretano, duram em média de duas semanas a três meses, dependendo do uso, e precisam ser descartadas assim que apresentam odor, manchas ou rasgos, para evitar a proliferação de bactérias. Já as esponjas vegetais, apesar de biodegradáveis, também exigem substituição frequente.
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Enquanto isso, no silêncio das profundezas oceânicas, uma esponja de vidro pode passar séculos filtrando alimento, resistindo às condições mais extremas do planeta e registrando, em seu próprio corpo, a história climática da Terra.
A Monorhaphis chuni não é apenas um dos animais mais antigos conhecidos, mas também uma fonte única de informação científica. Seu esqueleto ajuda pesquisadores a compreender mudanças climáticas de longo prazo nos oceanos profundos e oferece pistas importantes sobre os mecanismos biológicos que tornam possível uma vida tão longa.
Estudar essas esponjas é, ao mesmo tempo, olhar para o passado do planeta e buscar respostas para um dos maiores desafios da ciência moderna: entender o envelhecimento e os limites da vida.
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