Cotidiano
Durante nove anos, a escritora Andrea Gerassi foi mãe de Eros, que, há cerca de um ano, foi embora, dando lugar à Milena, uma menina transgênero que veio para ensinar à Andrea um amor que permite ser livre.
'Encontros' conta a história de Andrea e sua filha Milena. / Divulgação
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Durante nove anos, a escritora Andrea Gerassi foi mãe de Eros, que, há cerca de um ano, foi embora, dando lugar à Milena, uma menina transgênero que veio para ensinar à Andrea um amor que permite ser livre. O dia em que tudo mudou foi marcante para a família. Como uma forma de externar todos os sentimentos, Andrea escreveu o livro 'Encontros', que será lançado dia 18.
Hoje, Andrea Gerassi comemora o primeiro Dia das Mães ao lado da filha Milena. Durante nove anos, ela foi mãe de Eros, mas, há cerca de um ano, ele foi embora, dando lugar à Milena. Andrea é mãe de uma criança transgênero.
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Nome do Deus do amor na mitologia, Eros veio para ensinar Andrea um amor que permite ser livre. "Fiquei grávida do Eros com 40 anos, depois de duas meninas, vem meu menino. Com um ano começamos a perceber que tinha algo diferente, diziam que era muito novo, que era porque tinha irmãs, mas me intrigava muito".
Quando Eros desenhava a si mesmo, por exemplo, era ela retratada no papel. Um amigo foi quem falou para ela que o filho era transgênero. Na época, ela nem sabia o que isso significava.
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O dia em que tudo mudou foi tão marcante para a família que Andrea chama de 'dia da transição'.
"No dia da transição, ele começou a gritar 'Você está vendo eu? Eu não sou pedra, eu sou cristal'. Ele falou que não aguentava mais". Nesse momento, a mãe percebeu que ele tinha chegado no limite e que eles precisavam buscar ajuda. "Eu senti que meu filho ia embora, que ia chegar ao extremo do pior acontecer".
Pouco tempo depois, no mesmo dia, outra filha de Andrea veio chorando ao encontro da mãe. "Ele disse para ela que tinha vontade de se rasgar inteiro. Eu e meu marido fomos até o quarto para abraçá-lo, e ele falou que só queria ser ele, mas que não sabia lidar com o preconceito".
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No dia seguinte, Eros acordou e disse para a mãe: "A partir de hoje meu nome é Milena". "Isso vai fazer um ano".
A mãe fala sobre o filho no passado, porque passa por um luto simbólico. "Você lida com o luto e o nascimento no mesmo corpo. Eu descobri depois que realmente que existia o luto. É simbólico, tem mães que não sentem, mas eu sim".
PRECONCEITO.
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Quando saíram para comprar roupas pela primeira vez, sofreram o primeiro preconceito velado. "A gente foi em uma loja que a moça já tinha visto o Eros, ao ver ela vestida de menina, a mulher nos ignorou completamente".
Andrea tentou fingir que estava tudo bem e saiu da loja, mas Milena também percebeu e questionou: "Ela teve preconceito comigo ou foi impressão minha?". "Eu acho que a gente não pode mentir, tem que falar, para ela ter discernimento. Então, disse que sim, que muitos virão e que discutir muitas vezes não resolve, mas ela também não pode deixar que 'batam'".
TRATAMENTO.
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Milena e os pais fazem terapia. Andrea ressalta a importância de procurar um profissional adequado. "Se para gente adulto é difícil, imagina para criança? Gostaria que todos tivessem acesso a profissionais especialistas no tema".
Por um pedido dela, a mãe mudou Milena de escola, onde ela usa o nome social. A família já entrou com retificação do nome no documento. "Ela escolheu ser Milena Eros. Geralmente elas negam o nome de menino, mas ela não".
Milena ainda não começou tratamentos hormonais.
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LIVRO.
Como uma forma de externar todos os sentimentos, Andrea escreveu um livro relatando sua história e de sua filha.
"Tem tanto amor. A minha vida e a da Milena estão abertas ali".
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'Encontros' será lançado no próximo dia 18, na Realejo Livros, em Santos.
MILENAS E PAULOS
Andrea lembra que, muitas vezes, os pais não assumem que têm filhos transgênero. "Parece que não tem outros pais de trans aqui na Baixada Santista, porque eles não assumem. Quando é criança, os pais não falam que tem um filho transgênero. Quantas crianças não estão nessa situação agora?", diz. "Tem que ficar claro que não é moda, não foi uma escolha, minha filha nasceu assim".
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Neste Dia das Mães e em todos os outros dias, Andrea ensina Milena que ela não precisa ter vergonha de quem é.
"Minhas outras filhas são amparadas pela sociedade, para elas é mais fácil. E para Milena? E para todas as outras Milenas e 'Paulos' que têm por aí?".