Guaciane explicou a importância da representatividade dos povos originários na COP 30 / Nair Bueno/DL
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Enquanto a crise climática se estabelece como uma realidade de preocupação em diversas áreas da Baixada Santista, os territórios dos povos originários têm se mostrado um contraponto de resiliência.
Em vez de serem as principais vítimas, as Terras Indígenas (TIs) na costa paulista atuam como guardiãs da Mata Atlântica e são significativamente menos afetadas por desastres climáticos do que seu entorno.
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Os impactos do aquecimento global, como o aumento da frequência de eventos extremos, atingem a região, mas a integridade da floresta mantida pelos povos indígenas garante um equilíbrio que protege a subsistência e a vida nativa.
O profundo conhecimento da natureza e as práticas tradicionais de manejo da terra e das águas são, na verdade, ferramentas vitais para a adaptação e resiliência climática de toda a região.
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Em entrevista ao Diário, Guaciane da Silva Borges, líder da aldeira Tapirema, relatou que a área verde do território Piaçagüera não sofreu tantos impactos com a subida das marés devido a preservação do Jundu (restingas), que cria uma espécie de barreira contra o nível do mar.
"É por isso que outros lugares acabam tendo essa destruição, por não ter mais essa proteção natural. Aqui, a maré até avança, entra um pouco [no território], passa da porteira, mas não chega a ser drástico. A própria natureza dá conta, é importante não tirar o Jundu da beira da praia", explicou ela.
Guaciane ainda comentou que, quando a maré enche, a área de preservação fica cheia de embalagens e itens que deveriam ser reciclados. No papo, ela lamentou a falta de conscientização dos seres humanos: "Às vezes, o que aparece aqui é absurdo!"
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"Parece um mar de lixo, vem até garrafas com escrita chinesa, inglesa... Sempre tem bastante lixo na praia. A Prefeitura [de Peruíbe] vem fazendo a limpeza, mas não tem como retirar todos os resíduos. É muito plástico, muita coisa", afirmou a líder.
Confira na galeria abaixo algumas imagens da aldeia Tapirema, localizada em Peruíbe.
A Mata Atlântica preservada dentro dos territórios indígenas é um dos ecossistemas mais importantes para a absorção de carbono no Estado, agindo como um escudo natural. O modelo de ocupação tradicional, focado na preservação, é um contraponto direto ao modelo de desenvolvimento predatório que intensifica as mudanças climáticas no restante da região.
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Apesar de a elevação do nível do mar e as chuvas torrenciais serem ameaças reais na Baixada Santista, atingindo áreas de manguezal, restinga e provocando deslizamentos no entorno, a conservação da Mata Atlântica dentro das TIs minimiza a destruição e garante o acesso sustentável aos recursos.
Os líderes indígenas têm buscado levar suas preocupações e seus conhecimentos para os fóruns de debate, como as conferências climáticas (COP 30) e os planos de adaptação do Estado de São Paulo.
Não existe justiça climática sem o reconhecimento e a proteção integral dos territórios indígenas. O futuro da Baixada Santista, que se torna cada vez mais vulnerável, passa diretamente pela garantia de que as aldeias possam continuar existindo, cumprindo seu papel crucial de proteger a floresta.
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