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Cotidiano

Águas fétidas invadem as praias de Guarujá

Em pelo menos três pontos da Praia da Enseada, a Reportagem descobriu indícios fortes de esgoto

Carlos Ratton

Publicado em 05/06/2016 às 08:00

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Do Rio Tejereba, a praia recebe dejetos de todas as espécies / Rodrigo Montaldi/DL

Três palavras não devem fazer parte do vocabulário dos técnicos de meio ambiente da Prefeitura de Guarujá, da Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb): fiscalização, consciência e investimento. No Dia Mundial do Meio Ambiente, pelo menos três pontos de água fétida, com características de recebimento de esgoto, foram encontrados pela Reportagem na Praia da Enseada, a maior e mais frequentada do Município. A água suja atingia o mar, apesar das bandeiras verdes da Cetesb, ligada ao Governo Paulista.

Os pontos estão na Avenida Miguel Estefno ao lado do Morro do Maluf; em frente à Rua Leonor da Silva Quadros (no meio da praia) e em frente à Rua Acre, que fica próximo ao Costão das Tartarugas. E o problema não é novo e nem único. Conforme informações encaminhadas ao jornal e que gerou a reportagem, há despejo também nas praias do Perequê e do Guaiúba.

As informações dão conta que a água suja que deságua ao lado do Morro do Maluf vem do Rio Tejereba, que começa no local conhecido como Vale da Morte (Vila Júlia), onde recebe dejetos de toda espécie, passa na lateral do cemitério da Vila Júlia, segue contornando o morro, passa ao lado do Supermercado Pão de Açúcar (Avenida Dom Pedro), atravessa a via e deságua na praia da Enseada. Nos finais de semana, a água muda de cor e se torna mais escura, o que é um indício de que devem existir ligações de esgoto de prédios usados por veranistas.

Já o despejo em frente à Rua Acre, a possível contaminação vem da Chácara Virgínia, Areião, Sossêgo e Vila Rã. É um ponto que quase sempre está impróprio para banho. O Rio do Peixe é outro que recebe suposto esgoto, pois em sua foz há um gigantesco conjunto de palafitas. A carga de contaminação é tão grande, que torna a Praia do Perequê imprópria 365 dias por ano.

Ex-funcionário aponta diversos outros pontos da Cidade

O Diário conversou com um ex-funcionário da Secretaria de Meio Ambiente do Município (Seman), que pediu para não ser identificado, mas deu um panorama da situação da Cidade. “Praticamente não existe nenhum curso de água que não esteja contaminado. A exceção é o Rio Iporanga e outras fontes na região do Rabo do Dragão, mesmo assim a Lagoa da Prainha Branca é um imenso depósito de fezes e, apesar de existir um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para que o problema fosse resolvido, até hoje os esgotos da Prainha Branca são despejados na lagoa ou em fossas sépticas”, revela.

Segundo conta, a Praia do Pernambuco também recebe resíduos contaminantes de um rio que deságua na praia, ao lado do Hotel Jequitimar. “Na Enseada, além da Rua Acre e do Rio Tejereba, existe outros dois canais que recebem dejetos da Vila Baiana como o canal das ruas Abílio de Santos Branco e Salin Farah Maluf, que acabam desaguando na praia”.

O ex-funcionário conta que o Rio do Meio, em Santa Cruz dos Navegantes, é outro totalmente contaminado, com dezenas de palafitas em suas margens. “O elegante Iate Clube de Santos é banhado pelo Rio Santo Amaro, que ao longo de seu curso, vai recebendo dejetos da Vila Zilda, Cachoeira e Mangue Seco (Santo Antônio)”, explica.

Ele finaliza revelando que o Rio Acaraú, em Vicente de Carvalho, recebe dejetos da favela do Acaraú, do Caixão e de ligações clandestinas. “Outro que está contaminado é Rio Grumaú, que recebe esgotos dos moradores de parte da Vila Edna, Vila Zilda, Morro da Bela Vista, Morrinhos Quatro e Canaã”.

A Sabesp garante que o sistema de esgoto é seguro e opera plenamente, sem qualquer irregularidade (Foto: Rodrigo Montaldi/DL)

Sabesp garante que não existe irregularidade

A Sabesp informa que verificou os trechos da Enseada mencionados pela reportagem e a ocorrência está relacionada às galerias de drenagem de água pluvial, que são de responsabilidade da Prefeitura. O sistema de coleta de esgoto da companhia de saneamento opera plenamente, sem quaisquer irregularidades. A Sabesp se mantém 24 horas à disposição da população na Central de Atendimento, que atende nos telefones 195 ou 0800 055 0195. A ligação é gratuita. A Cetesb não enviou resposta sobre os questionamentos.    
 
Prefeitura. A Seman explica que os corpos d’água que, naturalmente desaguam na praia, são monitorados pela Cetesb, com resultados das análises publicadas em site oficial. O deságue de águas pluviais na praia ocorre devido à decomposição de vegetação, de detritos dos resíduos urbanos inertes, de águas de subsolo de edifícios e lençol freático.

“Eles apresentam coloração e odor peculiares, que muitas vezes, a olhos nus, são confundidos com resíduos de esgotamento sanitário. Caso seja constatada a presença desses resíduos, a Prefeitura aciona a Sabesp, de forma imediata, para que sejam tomadas as devidas providências”, informa a nota.

A Prefeitura ressalta que projetos como “Caça Esgoto”, realizado pela Sabesp, estão em análise. Para total segurança com relação à qualidade ambiental, estão sendo implantados diversos programas habitacionais com redes de saneamento básico inseridas. Em estudos também está a urbanização para área do Perequê.

Finalizando, garante que nos últimos 10 anos, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente já aplicou multas à Sabesp que, somadas, chegam a, aproximadamente, R$ 3 milhões. É importante salientar que a pasta realiza um forte trabalho de fiscalização permanente, de modo a promover melhorias em todo o sistema.

Dia do Meio Ambiente

O Dia Mundial do Meio Ambiente foi estabelecido na conhecida Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, e passou a ser comemorado todo dia 05 de junho. A comemoração tem como objetivo principal chamar a atenção de todas as esferas da população para os problemas ambientais e para a importância da preservação dos recursos naturais, que até então eram considerados, por muitos, inesgotáveis.

Nessa Conferência, que ficou conhecida como Conferência de Estocolmo, iniciou-se uma mudança no modo de ver e tratar as questões ambientais ao redor do mundo, além de serem estabelecidos princípios para orientar a política ambiental em todo o planeta. Atualmente existe uma grande preocupação em torno do meio ambiente e dos impactos negativos da ação do homem sobre ele.

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