Cotidiano
A geração Z vive um período de transformações profundas e, com isso, vem redefinindo a forma como enxerga a vida, os afetos e o lugar que ocupa na sociedade
A geração Z vive momentos complicados / Pixabay
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A geração Z vive um período de transformações profundas e, com isso, vem redefinindo a forma como enxerga a vida, os afetos e o lugar que ocupa na sociedade. Entre essas mudanças, uma das mais perceptíveis é a revisão dos modelos tradicionais de relacionamento.
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Hoje, não é raro ouvir jovens afirmarem que não pretendem se casar ou ter filhos. Para gerações mais antigas, esse posicionamento pode soar estranho ou até inconcebível. No entanto, o que antes era visto como exceção vem se tornando cada vez mais comum.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram esse movimento: em 2023, o Brasil contabilizava cerca de 81 milhões de pessoas solteiras, enquanto o número de casados era de aproximadamente 63 milhões.
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Dentro desse novo cenário, um conceito tem ganhado espaço entre os jovens: a agamia. O termo tem origem no grego, a partir da junção de a (sem ou não) e gamos (casamento ou união íntima), e descreve um estilo de vida baseado na escolha de não estabelecer vínculos amorosos.
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Diferentemente da monogamia, que pressupõe um relacionamento exclusivo, ou da poligamia, que envolve múltiplos parceiros, a agamia se caracteriza pela ausência de interesse em qualquer tipo de relação romântica. Essa opção também costuma estar associada ao desejo de não ter filhos.
Segundo a antropóloga Heloisa Buarque de Almeida, professora do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH), a principal diferença entre ser solteiro e ser agâmico está na intenção. Enquanto a condição de solteiro pode ser circunstancial, a agamia é uma escolha deliberada.
Para a pesquisadora, as novas gerações estão buscando formas alternativas de se relacionar, muitas vezes sem vínculo legal ou expectativas tradicionais de longo prazo.
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A agamia não se limita ao Brasil. Tendências semelhantes podem ser observadas em outros países da América Latina, além de nações como Estados Unidos e Japão. De acordo com Heloisa, essas mudanças refletem uma revisão mais ampla da ideia de relacionamento amoroso.
Ela destaca que o ideal do amor romântico, amplamente difundido por filmes, livros e séries, nunca representou fielmente a experiência real da maioria das pessoas. Agora, esse modelo passa a ser ainda mais questionado.
Outro aspecto relevante desse movimento é a preocupação ambiental. Muitos jovens que optam pela agamia também demonstram forte consciência em relação às mudanças climáticas, à preservação do planeta e à sustentabilidade.
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Na avaliação da antropóloga, reflexões constantes sobre aquecimento global e esgotamento de recursos naturais acabam influenciando diretamente a decisão de não ter filhos, já que o futuro do planeta se torna uma questão central.
O avanço da tecnologia e a presença constante das redes sociais também contribuem para esse cenário. O ambiente digital amplia as possibilidades de interação, mas, ao mesmo tempo, pode retardar o início da vida sexual e afetiva de parte dos jovens.
Paralelamente, novos arranjos familiares surgem com mais frequência: casais homoafetivos, famílias com dois pais ou duas mães, além de parceiros que optam por viver em casas separadas, mesmo mantendo vínculos afetivos.
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Apesar das transformações nas formas de se relacionar, os conceitos de amor, família e convivência continuam existindo — apenas passam por releituras, mais alinhadas aos valores, preocupações e prioridades do mundo contemporâneo.
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