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Cotidiano

A vida entre as estradas e o escritório

A rotina de quem enfrenta diariamente as rodovias.

Laís Mazagão

Publicado em 19/05/2019 às 11:37

Atualizado em 19/05/2019 às 12:29

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Milhares de moradores da Baixada Santista sobem e descem a serra todos os dias para trabalhar na capital e grande São Paulo. / RAFAELLA MARTINEZ/DL

Tem quem trabalhe em casa, ou no período noturno e até os que são agraciados por horários flexíveis. Mas a maioria dos trabalhadores brasileiros ainda segue a rotina do horário comercial para correr atrás do sustento. Acordar cedo, tomar café da manhã, enfrentar o trânsito - seja a pé, de carro ou transporte - trabalhar, pausa para o almoço, trabalhar mais um pouco e finalmente voltar para a casa.

Nessa realidade, milhares de moradores da Baixada Santista sobem e descem a serra todos os dias para trabalhar na capital e grande São Paulo. A reportagem conversou com um grupo de amigos publicitários em que três, em busca de oportunidades melhores, enfrentam o fretado diariamente e contam como é.

Maitê Laira, que trabalha próximo ao metrô Vila Prudente e mora em Santos falou sobre o esgotamento. "Acho que o pior de tudo é o cansaço físico e mental. Muita gente diz 'viajar de carro é uma delícia, você vem e volta dormindo', mas não é assim. Suas costas começam a doer, você nunca sabe que horas vai chegar em casa por conta de trânsito e afins, então é uma vida bem cansativa".

A publicitária ainda conta seu relacionamento com o lar. "Além de que só durmo em casa. Nem comer eu como, porque chego tão cansada que só quero tomar banho e dormir, passo cerca de 8 horas em casa por dia".

André Scandiussi também passa poucas horas em Santos. "Chego em casa umas 22 horas. Mas para mim, o pior é o percurso de metrô. Pego uns 40 minutos de metrô - faço três baldeações para ir e voltar", conta. "Em casa é basicamente o tempo de chegar, jantar, tomar banho e dormir".

E na hora do almoço, estar longe de casa também pode ser um problema. "Eu como fora todos os dias. Na região onde eu trabalho, existem poucas opções por menos de R$ 25,00. O bom é que meu Vale Refeição cobre essa despesa".

Já Maitê, que não tem Vale Refeição, conta que leva almoço todos os dias. "Eu trabalho como Pessoa Jurídica - PJ e não tenho VR. O custo de alimentação em São Paulo é alto demais. Então compensa levar marmita".

Para Leandro Correa, almoçar fora também é uma parte importante do dia de um profissional. "Valorizo muito a experiência de sair do ambiente do trabalho para almoçar, então não descarto de jeito nenhum alguns almoços fora durante a semana", explica.

Leandro conta que para ele, acordar e sair cedo não é um problema. "O problema maior é chegar tarde em casa, pois sinto que perdi o dia só trabalhando e isso está me incomodando", explica.

Mas a vida na serra compensa na área dos publicitários."Na área de publicidade o campo na Baixada é péssimo, tanto em condições de trabalho quanto em questão salarial, chego em casa tarde e cansada, mas chego feliz", conta Maitê.

Para Leandro, morar na capital não chega a ser uma hipótese. "Moro em um lugar privilegiado em Santos e dificilmente conseguiria um lugar parecido em São Paulo sem pagar um valor absurdamente mais caro. E profissionalmente não há comparação. A diferença do mercado e da média salarial na minha área em São Paulo nem se compara a Santos".

Distante do ambiente do escritório, mas sem fugir das estradas, lá estão eles. Ao lado do ônibus fretado sempre existe um caminhão.

O caminhoneiro Rodrigo Ferreira trabalha há mais de 15 anos na boleia, ama a vida na estrada e diz que não trocaria por nada. "Eu tenho muita sorte. Mesmo com o trabalho cansativo e com uns desafios bem pesados, pagamentos até ingratos, eu me divirto muito", conta. Para ele, viajar pelo Brasil compensa os esforços. "Eu conheço muitas cidades, muitos estados e também muita gente boa. Dormir fora e comer mal é bem ruim, mas eu não conheceria tanto da vida trabalhando em outra coisa", explica.

Assim como Rodrigo Ferreira, o ajudante de feira Pedro dos Santos também tem uma rotina que requer trabalho duro e viagem de caminhão.

"Trabalhar na feira não é mole não", começa a entrevista rindo. "Estou rindo mas é de nervoso".

Pedro diz que seu horário é trocado. "Lá em casa é o dia pela noite. Durmo de tarde até o começo da noite para acordar de madrugada e subir para pegar mercadoria. Aí é montar barraca, vender, desmontar barraca. É no sol de torrar ou no dilúvio".

Por outro lado, o contato com as pessoas é algo que, como diz o ajudante, "de esquentar o coração".

"Sempre tem gente ruim e arrogante, mas por outro lado também tem gente boa. As senhorinhas que compram com a gente, aquelas fiéis nos produtos, já chegam perguntando como a gente está, as vezes até trazem lanchinhos... eu gosto de trabalhar com gente por causa disso", se emociona.

O ajudante já trabalhou em feiras por vários lugares no Estado. "Eu me mudo bastante, mas não é difícil arrumar emprego na feira. As pessoas se conhecem, então é bem legal. Cheguei aqui tem menos de um mês, antes morava em Santo André. A gente se vira. Só tem que ter braço", finaliza.

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