Cotidiano

A história da canção que provou que nem 'todo mundo é filho de Papai Noel'

Entenda como Assis Valente criou o clássico 'Boas Festas', transformando a frustração do Natal em um hino imortal da música brasileira

Giovanna Camiotto

Publicado em 24/12/2025 às 05:23

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A casa do Papai Noel recebe visitações de turistas do mundo afora / Pexels

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Se você cresceu no Brasil, certamente já se pensou que "todo mundo fosse filho de Papai Noel". Mas, o que parece uma rima infantil de Natal, na verdade, é uma das críticas sociais mais ácidas e melancólicas da nossa música.

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Em 1932, o compositor baiano Assis Valente decidiu quebrar o encanto natalino em sua canção "Boas Festas", no qual ele decretou que o bom velhinho "com certeza já morreu", dando voz a todos aqueles que o Natal insiste em esquecer.

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A ironia de Valente é fantástica e atemporal. Enquanto o comércio vende a ideia da felicidade plena, ele a define como um "brinquedo de papel", algo frágil, que rasga no primeiro sinal de realidade.

Composta em um quarto solitário de pensão no Rio de Janeiro, a música nasceu da observação crua de quem via a festa passar pela janela, sem ser convidado. Para o autor, o Natal não era sobre renas ou neve, mas sobre a ausência de quem "já faz tempo que eu pedi, mas o meu Papai Noel não vem".

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Você sabia que o maior clássico de Natal do Brasil nasceu de uma profunda crise de solidão?/Pexels
Você sabia que o maior clássico de Natal do Brasil nasceu de uma profunda crise de solidão?/Pexels
A canção retrata uma metáfora para algo frágil e inacessível para muitos, tornando-se um hino de sensibilidade que atravessa gerações de brasileiros/Pexels
A canção retrata uma metáfora para algo frágil e inacessível para muitos, tornando-se um hino de sensibilidade que atravessa gerações de brasileiros/Pexels
Ao fundir o lamento original de Assis Valente com elementos do rock, os Novos Baianos reafirmou o papel da música como crônica social, provando que a melancolia natalina do autor ainda refletia o sentimento de exclusão de grande parte do país/Pexels
Ao fundir o lamento original de Assis Valente com elementos do rock, os Novos Baianos reafirmou o papel da música como crônica social, provando que a melancolia natalina do autor ainda refletia o sentimento de exclusão de grande parte do país/Pexels
É uma das poucas canções natalinas no mundo que troca o otimismo comercial por uma reflexão existencial profunda sobre o que significa ser feliz sozinho/Pexels
É uma das poucas canções natalinas no mundo que troca o otimismo comercial por uma reflexão existencial profunda sobre o que significa ser feliz sozinho/Pexels
Ao longo de nove décadas, a composição provou que o Natal brasileiro possui uma identidade própria, longe da neve e dos trenós, focada na esperança de quem ainda espera por uma felicidade que não seja apenas de papel/Pexels
Ao longo de nove décadas, a composição provou que o Natal brasileiro possui uma identidade própria, longe da neve e dos trenós, focada na esperança de quem ainda espera por uma felicidade que não seja apenas de papel/Pexels

Essa ousadia lírica atravessou gerações. Foi imortalizada pela voz de trovador de Carlos Galhardo nos anos 1930 e ganhou uma roupagem psicodélica e rebelde com os Novos Baianos em 1973.

No auge da ditadura militar, misturar o lamento de Assis Valente com o peso do rock foi uma forma de lembrar que, sob o brilho das árvores de Natal, o país ainda buscava uma felicidade que não fosse descartável.

O segredo do sucesso de "Boas Festas" é que ela é honesta. Ela fala com o cristão, com o agnóstico e até com o ateu que, entre um panetone e outro, sente aquele aperto no peito pela efemeridade da festa.

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Ao "matar" Papai Noel na letra, Assis Valente acabou criando algo imortal: um hino para quem sabe que a verdadeira celebração está em reconhecer que a felicidade é difícil de alcançar, mas que "é impossível ser feliz sozinho".

Se nem todo mundo é filho de Papai Noel, pelo menos todo mundo tem essa canção para se sentir menos só. Ouça abaixo!

 

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