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Cotidiano

38 espécies de peixes mortos no Estuário são desconhecidas

Ao todo, pesquisadores da Universidade Santa Cecília encontraram 116 espécies; seis ameaçadas

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 18/04/2015 às 00:50

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Após coleta dos peixes mortos feita durante três dias no estuário de Santos, ao lado de pescadores da região, próximo à região afetada pelo incêndio da Alemoa, pesquisadores da Universidade Santa Cecília (Unisanta) ficaram surpresos. Encontraram 116 espécies, enquanto, até 2012, eram conhecidas apenas 78 no estuário santista.

Seguno o coordenador do Laboratório de Pesquisas Biológicas do Acervo Zoológico da Unisanta, biólogo Matheus Marcos Rotundo, o único lado positivo da notícia é que o estuário de Santos não estava tão  impactado ambientalmente antes do incêndio, como se pensava, pois mais espécies, não capturadas antes pelas redes dos pescadores, apareceram mortas na região. Para ele, o desastre ecológico provocado pelo incêndio trouxe, de maneira triste, maior conhecimento para os estudiosos na área.

No total, foram identificadas 116 espécies mortas pertencentes a 48 famílias de 19 ordens. As famílias que apresentaram maior representatividade de espécies foram Sciaenidae (pescadas), Carangidae (xaréus) e Gerreidae (carapebas), perfazendo, respectivamente, 13%, 11% e 5% do total.

“Tendo como base o Decreto Estadual Nº 60133 de 07/02/2014, que declara o status de conservação da Fauna do Estado de São Paulo, 12 espécies registradas no presente levantamento estão quase ameaçadas, ou seja, em vias de em futuro próximo, integrar as espécies com alto risco de desaparecimento na natureza”, acrescenta Matheus Rotundo. Outras 11 espécies “possuem necessidade de diretrizes de gestão e ordenamento pesqueiro para sua conservação, enquanto 36 espécies não possuem informações suficientes para análise do seu grau de conservação”.

Rotundo ressalta que, em âmbito nacional, seis  espécies registradas estão ameaçadas de extinção (Portarias MMA Nº 444 e 445/2014): Epinephelus itajara (mero) e Rhinobatos horkelii (raia viola), categorizadas como criticamente em perigo, Pogonias cromis (miraguaia) e Genidens barbus (bagre branco), em perigo, e Epinephelus marginatus (garoupa) e Hippocampus reidi (cavalo marinho), classificadas como vulneráveis.

'A mortalidade dos peixes vai impactar o ecossistema da região', diz Matheus Rotundo (Foto: Divulgação)

Impacto ambiental e consumo

Entre 2009 e 2012, na mesma área afetada, foram realizadas coletas bimensais junto aos pescadores locais através do Projeto Pró-pesca : pescando o conhecimento, do Acervo Zoológico da Universidade Santa Cecília (AZUSC). Durante o período da pesquisa foram catalogadas 78 espécies de peixes, 33% a menos do registrado entre as espécies mortas durante o incêndio. Dentre as espécies registradas naquele período, 58% possuem valor comercial ou são utilizadas como alimento por comunidades locais.

Com a mortalidade dos peixes devido ao incêndio da Alemoa, Matheus se uniu a outros pesquisadores da Unisanta e Unifesp, para a pesquisa conjunta intitulada Incêndio na área portuária de Santos (SP): impacto sobre a diversidade de peixes. Integram o grupo além do Laboratório do Acervo Zoológico, o Laboratório de Biologia de Organismos Costeiros e Marinhos (LABOMAC),  o Laboratório de Ecologia Humana e o FIFO (Fisheries and Food Institut),  ligados ao Programa de Mestrado em Sustentabilidade de Ecossistemas Costeiros e Marinhos da Santa Cecília, e o Departamento de Ciências do Mar - Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

As causas da mortalidade e seu afloramento no estuário podem ser explicadas pelos produtos químicos e até pelo calor. A temperatura da água chegou a 9 graus acima do maior registro para a região, e apenas isso bastaria para matar boa peixes”, explica Rotundo.

Ele afirma que a população não corre riscos à saúde se comprar o produto adequado no Mercado de Peixe de Santos, pois a maior parte do que ali está à venda vem da frota pesqueira que atua a cerca de 150 quilômetros ao sul da baía de Santos ou até mais distante, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.

“Mas o impacto ambiental com o despejo de produtos químicos é grande. A mortalidade dos peixes vai impactar o ecossistema da região, pois eles deixarão de integrar a cadeia alimentar e reprodutiva. E boa parte desses peixes que morreram no estuário iriam completar seu ciclo de vida no mar”, conclui o pesquisador.

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