Meu filho foi se desenvolvendo e parecia que estava tudo bem. Eu ia todo mês na pediatra e ela confirmava isso. / NAIR BUENO/DIÁRIO DO LITORAL
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Estava tudo bem durante a gravidez. Próximo de ele nascer, fui ao médico e ele achou que eu tinha pouca passagem. Comecei a ir no hospital dia sim, dia não, mas os médicos falavam para esperar mais um pouco, que ainda não estava na hora. Isso tudo aconteceu na data prevista do nascimento, mas a minha bolsa não estourou. Até que decidiram fazer o parto.
Lembro que ele nasceu meio roxinho, mas estava respirando. Eles não explicam muito bem para gente o que está acontecendo, mas lembro que os médicos ficaram conversando. Ele não chorou quando nasceu, só um tempo depois.
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Meu filho foi se desenvolvendo e parecia que estava tudo bem. Eu ia todo mês na pediatra e ela confirmava isso. Mas aí com quatro, cinco meses ele não sentava. Então a pediatra pediu para passar com o neurologista.
Por conta da demora do SUS, ele passou com o especialista com nove meses e já foi encaminhado para a fisioterapia. Com um ano, fez a tomografia e descobrimos que ele tinha as células mortas. Meu nome é Jussara Monteiro Araújo Lino, tenho 53 anos e meu filho, Danilo Araújo Magalhães Lino, hoje com 25 anos, é cadeirante e tem paralisia cerebral.
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A gente nunca teve nenhuma criança assim na família. Mas eu já sabia que tinha alguma coisa errada, porque tenho um sobrinho que nasceu cinco meses depois e a gente via a diferença.
Depois do diagnóstico, só perguntei para o doutor o que ia acontecer e ele disse que não tinha como saber, que "algumas pessoas com paralisia ficam com uma boa dicção, um bom cognitivo, outras não".
Com o tempo, fomos percebendo que o Danilo tinha um bom entendimento e estimulamos ele para tudo. Com quatro anos ele era louco para ir para escola, mas eu tinha muito medo, porque ele era muito molinho.
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Ele começou a fazer grupo pedagógico e foi se desenvolvendo mais. Com seis, sete anos, já sabia muita coisa, juntava as letras, era pré-alfabetizado. Mas só entrou na escola com oito anos porque tive medo de colocar antes. Todos da família tinham medo de não cuidarem direito dele.
Até os 11 anos eu andava com meu filho no colo para tudo quanto era lugar. Eu e meu marido, Walter Lino Júnior, que hoje tem 52 anos. Só com 12 anos ele ganhou uma cadeira de rodas. Ele sempre teve baixo peso, mas mesmo assim pesava. E não era só o peso dele, eu andava com sacola, mochila.
Quando o Danilo tinha sete anos, antes de entrar na escola, eu levava ele da minha casa, no Saboó, em Santos, para a casa da minha mãe em São Vicente. Depois, ia para a natação com ele, voltava para a casa da minha mãe, dava banho e trocava ele para ir até a Casa da Esperança, na Ponta da Praia. Voltava para minha mãe para buscar minhas coisas e só depois voltar para casa. Tudo com ele no braço.
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Quando eu andava com ele no colo, os ônibus não eram adaptados. Mas eu só pegava ônibus se ia mais longe, se fosse perto, andava com ele no colo mesmo. Quando o transporte adaptado começou a surgir, eu comecei a andar com ele na cadeira. E ficou muito mais fácil.
Agora a acessibilidade de Santos está bem melhor. Estão padronizando os pisos, o que é muito importante, porque se a roda entra em um buraco ela pode até tombar.
Os cinco primeiros anos ele estudou em escola especial, depois coloquei em escola regular. Tirei da especial, porque, depois de um certo tempo, achei que ficou a mesma coisa, não tinha evolução e ele tinha condições de desenvolver.
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Graças a Deus ele sempre foi muito bem aceito e servia de incentivo para os outros. Ele estudou em dois colégios particulares, mas do 9º ano do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio foi na Escola Estadual Dona Luiza Macuco.
Sempre estimulei o desenvolvimento dele. Ele fazia fisioterapia e se eu descobria outro lugar que ele poderia fazer, levava também. O que eu podia fazer, eu fazia.
O Danilo sempre gostou de esportes. Desde 2013 pratica bocha adaptado. Agora, também participamos de corridas de rua. Era uma vontade dele há muitos anos, mas a gente não tinha uma cadeira própria e é perigoso correr com a comum. Foi aí que entramos para o projeto 'Empresto Minhas Pernas'. Eles têm triciclos próprios para corrida. Todo mundo é bem vindo como voluntário, seja para empurrar a cadeira, conversar ou participar de qualquer forma. Todo sábado nos encontramos no Emissário Submarino.
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Já fomos para o Rio de Janeiro, São Paulo, Jundiaí, Campinas, Sorocaba. Até rapel ele já fez. Ele quer se aventurar em tudo.
De vez em quando eu corro, mas quem corre mesmo é meu marido. Nunca tinha corrido na vida e agora corre até a São Silvestre. O pai dele fala: "É por emoção, não por tempo. A gente tem um propósito e não importa que chegue por último, só importa participar".
A maior dificuldade dele é motora e a gente sente muito por ele não poder fazer algumas coisas que gostaria. Mas eu e o pai dele fazemos tudo que podemos por ele e temos o maior prazer em ajudá-lo. O que nos importa é a felicidade dele. Se ele estiver feliz, também estamos felizes.
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