Contraponto
Em janeiro último, a cidade inaugurou a primeira Praça da Bíblia à beira-mar do Brasil, na Avenida Newton Prado (Morro dos Barbosas)
São Vicente inaugurou a primeira Praça da Bíblia à beira-mar do Brasil / Divulgação/PMSV
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A Constituição estabelece o Estado laico. Não pode ser vinculado a nenhuma crença religiosa. Isso significa que o Estado não pode privilegiar ou preterir crenças, e que nenhuma política pública deve ser executada por motivações religiosas. Dito isso, o que não dizer da história recente de São Vicente?
Em janeiro último, a cidade inaugurou a primeira Praça da Bíblia à beira-mar do Brasil, na Avenida Newton Prado (Morro dos Barbosas). A inauguração reuniu autoridades, vereadores e secretários municipais, lideranças religiosas e membros da sociedade civil. A justificativa: incentivo ao turismo.
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Não precisa ser calunga para lembrar que a mistura Estado-Religião sempre foi o fraco de São Vicente desde a época do governo Márcio França (PSB) – hoje ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.
Em 2001, o seu secretário de Cidadania e Ação Social, Luis Cláudio Bili, por ser evangélico, retirou a imagem de Nossa Senhora da Aparecida do refeitório das crianças de um centro de convivência e formação de crianças que ficava na Rua Saturnino de Brito, na Praia de Paranapuã. A atitude gerou crise governamental e legislativa.
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Depois de uma semana de embate, o então Padre Paulo Horneaux de Moura (falecido), junto com um grupo de mulheres, organizou uma passeata e França acabou reconduzindo a santa ao altar.
Mas a intolerância permaneceu. Quando se tornou prefeito, Bili mudou a artilharia para os simpatizantes das religiões afro-brasileiras e nunca permitiu a instalação da imagem de Iemanjá na orla da praia. Tudo por conta de uma ‘carta aberta’ distribuída nas igrejas evangélicas convocando os fiéis a participar do Abraço da Fé para impedir a instalação. E foi um sucesso.
Em 2015, nova polêmica entre a Prefeitura e a Câmara ocorreu para decidir onde instalar a estátua, que acabou sendo guardada na casa do espírita e jornalista Edgar Falcão, que faleceu sem ver a estátua receber a mesma atenção da nova Praça da Bíblia.
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A desculpa do turismo serviria também para Iemanjá, cuja festa atrai milhares. Só na cidade há mais de 45 mil adeptos à religião afro-brasileiras, espelhados por 400 terreiros, que sonham em ver Iemanjá embelezando e resguardando a orla vicentina.
Hoje, a estátua está sob a guarda da Associação Filhos de Aruanda, que aguarda uma decisão dos poderes sobre onde afixar Iemanjá na praia de uma cidade que já tem monumentos dedicados a evangélicos e católicos sobrando.