Repórter da Terra
Ricardo Stuckert / PR
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O preço do arroz disparou logo após as enchentes no Rio Grande do Sul em abril e maio. Havia o temor de que pudesse faltar o parceiro do feijão no prato dos brasileiros e os supermercados chegaram a racionar as vendas. Aí, o Governo Federal anunciou que iria zerar as alíquotas de importação do arroz e a Conab lançou edital para compra do cereal no exterior. Os produtores protestaram, entidades representativas dos fazendeiros tentaram ridicularizar a medida e a bancada ruralista no Congresso Nacional ameaçou retaliar o governo. E, de repente, o grão reapareceu nos armazéns do Sul. Encerrado o ano, a cotação da saca de 50 quilos de arroz acumulou queda de 19,58% em 12 meses, segundo a consultoria Safras & Mercado, uma das referências para o agro nacional. Agora, com a disparada na inflação, o Governo Federal avalia zerar as alíquotas de importação de outros alimentos. E entidades representativas do agro já começaram a atacar a medida...
Na sexta-feira (24), durante reunião no Palácio do Planalto para tratar da inflação dos alimentos, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, demonstrou que o governo pretende dialogar com produtores rurais, com a agroindústria e com os donos de supermercados. Mas, também deu a entender que o Governo Federal avalia a hipóteses de reduzir ou zerar alíquotas de importação de alimentos com histórico recente de aumentos excessivos nos preços.
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Foi o suficiente para começar a gritaria dos fazendeiros: “Reduzir alíquotas, conforme anunciado pelos ministros da Casa Civil e da Agricultura e Pecuária (Carlos Fávaro), para reduzir preços internos dos alimentos é um absurdo”, reclamou Ágide Eduardo Meneguette, presidente interino da Federação da Agricultura do Paraná (FAEP), que congrega os sindicatos de produtores rurais do Estado.
“É um ataque à produção nacional e ao produtor rural”, completou o representante dos fazendeiros do Paraná. O Estado é o maior produtor brasileiro de feijão, mas também é reconhecido como grande exportador de grãos, como soja e milho, insumos básicos para várias cadeias produtivas, como a do leite e a das carnes.
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Em seguida, Meneguete apelou para clichês como o tal “custo Brasil” e alegou um suposto aumento dos custos de produção no campo para justificar a carestia dos alimentos. Em defesa da categoria que representa, o presidente interino da FAEP afirmou ainda que a inflação não é resultado de grandes margens de lucro por parte dos produtores rurais nem das agroindústrias.
Sem os estoques reguladores do Governo Federal, que foram zerados durante os governos Michel Temer (2016/2018) e Jair Bolsonaro (2019/2022), a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) não tem como intervir no mercado.
Política pública criada nos anos de 1930 pelo então presidente Getúlio Vargas (1882/1954) e mantida durante todos os governos que o sucederam, os estoques reguladores eram usados para controlar a inflação sempre que ocorria uma quebra de safra de algum alimento básico, como feijão, arroz, milho ou café.
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Com os estoques reguladores, a antiga Cobal (atual Conab) despejava no varejo os grãos armazenados pelo governo durante as boas safras, ajudando a conter a alta nos preços.
Brasil, o País dos fazendeiros...
A alta dos juros pelo Banco Central e a tensão recorrente dessa pressão do mercado financeiro sobre o governo turbinaram a valorização do dólar sobre o real. E, se os juros altos favorecem aqueles que vivem de renda, a disparada do dólar enche os bolsos dos fazendeiros.
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...e dos que vivem de renda
Dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior na segunda-feira (27) revelaram que o faturamento total das exportações brasileiras de café foi de US$ 1,1 bilhão. E essa montanha de dinheiro entrou no País apenas nos 17 primeiros dias úteis de janeiro. Só para se ter uma ideia do que isso representa, no mês inteiro de janeiro de 2024 o faturamento do setor foi de US$ 739,2 milhões.
...e você paga a conta!
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Calculada pela média diária, a arrecadação dos exportadores de café foi de US$ 65 milhões nos 17 primeiros dias úteis de janeiro de 2025, o que representou um aumento de 93,4% comparado ao mês inteiro de janeiro de 2024. E o volume de grãos exportado cresceu quase 20% em relação a janeiro do ano passado. Enquanto isso, nos supermercados brasileiros o café foi um dos campeões da inflação, com alta de quase 40% nos últimos 12 meses...
Cadê a minha...
A Argentina é reconhecida mundialmente por suas fazendas de gado e por seus bifes suculentos. E os argentinos são os maiores consumidores per capita de carne bovina do mundo. O volume, historicamente, ultrapassa os 50 quilos de carne por habitante/ano.
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...picanha?
Mas, o preço da carne bovina subiu tanto que, pela primeira vez na história, os ‘hermanos’ consumiram mais frango do que carne bovina em 2024. A mudança reflete como os argentinos estão apertando o cinto e adaptando suas dietas às medidas econômicas do presidente Javier Milei. Dados da Bolsa de Cereais de Rosário revelados pela Agência Reuters de Notícias nesta semana mostraram que o consumo de frango saltou em 2024 para, em média, 49,3 kg por habitante, superando o de carne bovina, que caiu para 48,5 kg.
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