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Olhar Filosófico

Deus me livre do classemedismo

Para qualquer democracia que se preze, é fundamental erradicar o pensamento classe média (ou “classemedismo”) que persiste em sabotá-la.

O “classemedista” respira, bebe e regurgita gasolina. Ele aceita efusivamente que tudo se justifique pelo aumento da gasolina. A gasolina é o seu símbolo. O acesso à gasolina foi a vitória da pequena burguesia para sua entrada definitiva no mundo da ostentação urbana e da fluidez do capitalismo (com poluição e destruição do meio ambiente completamente aceitáveis pela sua moral “classemedista”).

O “classemedismo” é o laboratório ideal da classe dominante, da plutocracia reinante e do alto empresariado que a usa e lhe deixa carcomida para todo o sempre. Ele compartilha da ideologia do aqui e agora, do bolso, do dinheiro, da busca desenfreada por ascensão econômica, doa a quem doer, no venda-se quem puder em meio à falácia da meritocracia e da competência.

Por isso, o “classemedista” jamais apoiará uma luta trabalhadora, ele não se vê como trabalhador, ele foi forjado no egoísmo, o seu vocabulário para trabalhador é importado da elite econômica da qual ele sempre almejará fazer parte (ele tem “classe”, oras bolas!). O trabalhador sempre será pobre, vagabundo e invejoso. O “classemedista” despreza  o trabalhador, empregado em serviços nos quais ele não se vê fazendo, mas, apenas, deles se servindo; ele é egocêntrico e medíocre por excelência.

O pensamento “classemedista” é originário do comércio, do negócio e do orgulho liberal. Ele se vende e se compra todo o tempo e se acha proprietário dos meios de produção, mesmo quando tudo o que lhe resta é ser massa de manobra daqueles que nada sabem, mas tem dinheiro. Faz parte do seu dna agir com o fígado, por isso, sua religião (seja qual nome tenha), utilizada como reserva moral, é o Deus self service da prosperidade.

Ele não pensa e nega a cultura, ele odeia o conhecimento porque ele o desnuda, o acusa e o supera; por isso nunca apoiará a educação, os professores e as escolas públicas (inclusive, a de seus filhos). Via de regra, sua relação interpessoal é sempre entre consumidor e fornecedor. Esse pensamento “classemedista” apóia as ideias que sabotam sua própria existência. Eis por que todo indivíduo com o espírito “classemedista” é um kamikaze em estado de negação.

Desde o começo da democratização da escola, a burguesia propriamente dita, de onde sairá a  ficção social de nome “classemedismo” ou pequena burguesia, só se interessou pelo ensino como forma de ascensão econômica e status high society.

Foram os filhos dos trabalhadores que, uma vez na escola, seriam muito mais impactados pelo saber acumulado, pois não tinham outra alternativa para a afirmação da sua identidade social, formação política, ascenção econômica e domínio cultural que não fosse a aquisição do conhecimento. Ainda assim, muitos se formaram “a la classe média”, outros, como alguns filhos de burgueses intelectualizados e na contramão de sua própria classe, passaram a cobrar direitos, criar uma outra ideia de humanidade e a ter a filosofia, a ciência e a história nas mãos.

O carro, esse troféu “classemedista” despudorado, desde o sr. Ford e toda a fabricação em série, é o “classemedismo” em estado bruto, a alma exposta fora do corpo. Pois ele odeia tudo o que é coletivo! Do transporte público ao planeta Terra. A primeira coisa que um profissional, genuinamente, “classemedista” compra com seu parco dinheiro acumulado é um carro grande, um SUV branco (como se faz em Dubai [risos]), que ocupe, de preferência, a pista inteira e duas vagas de garagem coletiva! Foi o carro que fez os Estados americanos bancarem com o dinheiro dos trabalhadores, as highways, suas routes, para o ir e vir do desfile do capitalismo pujante, para que a FORD e a GENERAL MOTORS pudessem desovar sua produção para a formação do espírito da classe média ascendente.

O “classemedismo” é um fenômeno psíquico, é o cão de Pavlov, se a alta burguesia toca uma campainha imaginária, já começa a salivar e, depois de espumar, ele rosna e ataca, mas ataca o cachorro ao seu lado (que na maioria das vezes é o seu próprio rabo). Ele, ainda, tem enormes vontades inconscientes, mas é óbvio e completamente previsível. O espírito “classemedista” come arma e atira feijão, bebe whisky e odeia o teatro, não quer a ciência e reza pela Terra plana.

Deus me livre do “classemedismo”! Isso não é minha raiva, é minha singela oração!

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