Olhar Filosófico
Não sofras de véspera, meu bem
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Não sofras de véspera, meu bem. A vida é isso. Segue firme o seu passo, espera o trem na hora incerta, pois não tem estação que dê jeito de estar totalmente correta.
Não sofras de véspera, meu bem. A vida é isso. A dúvida que brota nos pés, os pés que brotam das grutas, as grutas que dão a água viva das fontes. E aí está, estamos, somos essa água viva, meu amor.
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Não sofras de véspera, meu bem. Aguarda o tempo certo, pensa no tempo de agora e no tempo da esperança que nasce junto no nosso peito aberto, posto à prova.
Não sofras de véspera, meu bem. Hoje é o dia perfeito para a saudade correr em nossas veias e o sangue fazer capotar de emoção o coração. Amanhã é o amanhã do agora que somos já. Como calcular um mês em meio à eternidade? O início, o fim e o meio, e em meio a tudo, bailamos a valsa dos fortes na leveza da sincronia do um pra lá, um pra cá e gira, gira, gira.
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Não sofras de véspera, meu bem. A existência há de se ajeitar em meio aos contratempos da distância. Aliás, a existência sempre vence. O organismo sempre vence. A necessidade do encontro e o abraço do desejo sempre vencerão. A realidade é plena e nossas demandas justas. Vida, amor e completude. Praia, mato, nevoeiro e bichos.
Não sofras de véspera, meu bem. Pense que estamos momentaneamente num navio com escalas diferentes, mas que irá sempre ancorar no mesmo porto. Num porto sólido, de rocha, rubi e ametista. E caminharemos desde ali até o horizonte das cores e das lendas, dos mitos de amores tardios e certeiros, e humanamente divinos e divinamente humanos. Lascas de céu já nesta terra estrangeira de todos nós e dos nossos que queremos perto.
Não sofras de véspera, meu bem. Frente ao vento forte, lembremos que não fará mais tempestade. Tudo nos soa como brisa leve nos cabelos, carinho doce no rosto, frio delicado de fim de tarde que nos coloca na varanda observando o mundo que para e não quer andar. Nós andamos, pés descalços e juntos, pernas num tango imprevisível e lindo.
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Não sofras de véspera, meu bem. As almas são crianças que brincam com luz e sombras. Como Zaratustra, o profeta de Nietzsche, disse certa vez, que as crianças e seus espíritos maduros, de amores maduros, levam com a máxima dignidade a sentença do perecer. Vive-se o hoje com ganas e vontade de ser, amanhã seremos o Sol, a força que anima um ao outro, que promove o canto, que vale a pena do sacrifício que é sempre saudade. Sem medo! “De modo imaturo ama o jovem, e também de modo imaturo odeia os homens e a terra. Pesados e presos ainda são seu ânimo e as asas de seu espírito.
Mas no homem há mais criança do que no jovem, e menos melancolia: ele entende mais da morte e da vida.
Livre para a morte e livre na morte, um sagrado negador, quando já não é tempo de dizer Sim: assim entende ele da morte e da vida.
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Que o vosso morrer não seja uma blasfêmia contra os homens e a terra, meus amigos: eis o que suplico ao mel de vossa alma.
Em vosso morrer devem ainda refulgir o vosso espírito e a vossa virtude, como um crepúsculo a incendiar a terra: ou então vosso morrer terá malogrado.”
Não sofras de véspera, meu bem. Já basta que sofra eu neste momento. E sofra por mim e por ti também. Por amor, por amor, por amor. Pois nele tudo vale. No amor tudo renasce. Tudo floresce na terra da ternura. Então, não sofras de véspera, meu bem.
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Ou, talvez, se preferires, façamos assim, sofras um pouquinho na segunda e na terça, meu bem, sofrerei um pouquinho na quarta e na quinta também. E na sexta já não sofre ninguém.
Não sofras de véspera, meu bem. Eu tenho a ti e você tem a mim, para todo sempre, amém!
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