Olhar Filosófico
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Aprender filosofia é inútil! Mas não deixa de ser interessante notar que a disciplina de Filosofia já é, em si mesma, um conjunto de linhas de saberes, ou melhor, de possibilidade de saberes (o filósofo Edgar Morin, ao falar especificamente da disciplina de Filosofia, pontua, entre outras coisas, que sua importância é tamanha que ela “deve estar em tudo, aberta a todos os conhecimentos, nem que seja só para uma reflexão.”). Não que ela não possua especificidades, mas é inegável que também traga em seu cerne a busca rigorosa e sistemática dos fundamentos racionais das discussões para a construção do saber. É na Filosofia que encontraremos o eco necessário para a reflexão e renovação, inclusive, do que vem a ser o próprio saber; e daí, o próprio saber conhecer!
Orientado em seu doutoramento pelo maior filósofo da educação brasileiro, Paulo Freire, o professor Mario Sergio Cortella fornece uma significativa definição filosófica do que é, precisamente, o conhecimento. Segundo ele, “o conhecimento é fruto da convenção, isto é, de acordos circunstanciais que não necessariamente representam a única possibilidade de interpretação da realidade. (…) não se deve atribuir apenas a algumas formas de investigação da realidade a característica de serem portadoras de certezas menos contundentes, em função dos métodos utilizados; o conhecimento, qualquer um, origina-se do que fazemos e aquilo que fazemos está embebido da Cultura por nós produzida, ao nos produzirmos.”
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A ideia de Cortella acerca do conhecimento, muito corrobora com o papel da Filosofia na escola. Em virtude do professor, de maneira geral, ser o provocador, no aluno, do conhecimento a ser obtido e ressignificado em sala de aula, e uma vez que a disciplina de Filosofia nos traz este conhecimento, por meio de seu rigor reflexivo à produção do argumento e no trabalho para com o estabelecimento de conceitos (como também indicaram os filósofos Deleuze e Guattari), torna-se necessária sua presença para que a formação humana seja cada vez mais completa, cada vez mais abrangente, cada vez mais, na emancipação correspondente à sua dignidade enquanto ser humano, possibilitada de dotar-se de sentidos.
Portanto, conhecer e/ou produzir saberes é estabelecer sentidos, e a Filosofia não tem, enquanto disciplina, outro paradigma de aprendizagem a não ser este, claro que sob a perspectiva do Ser. Nesse sentido, a própria História da Filosofia é um exemplo. Ou seja, o ensino desta, traz ao aluno a possibilidade (num currículo interdisciplinar e não hierarquizado) de produzir:
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a) um SIGNIFICADO de Ser, de estar no mundo e de identidade de ser com o mundo;
b) uma CRITICIDADE que provoca a encontrar saídas racionalizadas para o falso estacionamento da realidade;
c) uma CRIATIVIDADE que permite a transformação de si e do seu redor, inclusive ao transpor, problematizar e criar conceitos por entre contextos, em princípio, distintos;
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d) uma PERENIDADE acerca do saber desenvolvido, isto é, a ideia de que o conhecimento pode, se bem desenvolvido, significado e aplicado, ser mais duradouro, assim podendo servir como base lógico-racional à tomada de novos saberes futuros.
Vem à luz diante do exposto, portanto, a questão há muito debatida da (in)utilidade da Filosofia para o nosso tempo mercantilizado e fluido de sentidos mais abrangentes no que diz respeito ao fazer humano e sua estadia no planeta.
Como nos alerta a maior filósofa brasileira, Marilena Chauí: “Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para ser conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes.”
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