José Renato Nalini

Verde é a cor da vida

É uma questão de educação no sentido estrito

Johannes Plenio/Pexels

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Nossas cidades se tornam cor de cinza. É só concreto, aço, vidro e outros materiais cuja fabricação é altamente poluente. Outra característica da construção civil é que 35% do material utilizado é descartado, constituindo o resíduo sólido mais nefasto para a vida humana. Em São Paulo, por exemplo, todas as noites muitos caminhões clandestinos, a maioria com placas falsas, despeja detritos da construção civil nas represas, nos córregos, nos jardins, nas praças e nas ruas. 
 
Não é uma questão apenas de polícia. É uma questão de educação no sentido estrito. Não necessariamente educação ambiental. É urgente se crie uma consciência de que as cidades precisam adotar soluções de acordo com a natureza e não continuar a ser concentrações inóspitas e insalubres de grandes caixotes de concreto. Não são apenas os edifícios. Também as residências, perderam os jardins, erguem muros elevados, tornam-se verdadeiros bunkers, onde a natureza não tem acesso. 
 
O remédio é multiplicar as áreas verdes em todas as cidades brasileiras. A ciência o recomenda. Ranny Michalski, professora da FAU-USP, especialista em conforto ambiental e acústica urbana, realça a importância das áreas preservadas para a vida humana, sobretudo ante o quadro de cataclismo climático ora enfrentado pela humanidade. 
 
Para ela, deve-se criar espaços verdes em toda a cidade, como praças, parques, corredores ecológicos, que permitam a circulação de aves, insetos e mamíferos. O Brasil desprezou os córregos, os cursos d’água, criando uma civilização que se notabilizou por construir moradias de costas para a água, cujo limite é o muro por cima do qual se lança lixo na benção da natureza chamada rio. 
 
Brincamos de Deus e “corrigimos” o curso natural dos rios, potencializando as enchentes, porque eles querem retomar suas margens. Não investimos em telhados verdes, nem multiplicamos as “vagas verdes”, para tomar do automóvel – esse veículo egoísta – um pequeno espaço para plantio de espécies vegetais. 
 
O ideal seria a adoção do conceito de “cidade esponja”, tão bem desenvolvido pelo arquiteto chinês Yu, recentemente falecido, quando propagava sua estratégia de fazer cidades mais conformes com a natureza, algo que precisaria envolver toda a poderosa indústria da construção civil nacional. Vamos fazendo o que é possível, enquanto a consciência pátria ainda parece adormecida para as urgências criadas por nós mesmos, ao desrespeitarmos o ambiente e a nos servirmos dos recursos naturais de maneira cruel e desmedida. 
 
*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.  

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