O Brasil oscila entre promissora promessa verde e pária ambiental. Quer fazer bonito na COP 30 em novembro, com a Belém do Pará suscitando tanto interesse da comunidade internacional e, simultaneamente, libera dezenove novas áreas para exploração de petróleo na bacia Foz do Amazonas.
Permite o desmatamento ilegal, marcando prazo para que ele cesse. A lembrar a triste anedota da vítima de estupro que estipula trinta minutos para que o estuprador saia de cima dela. Invoca os eventuais e futuros ganhos com o petróleo que só começará a ser produzido – isso se a prospecção for exitosa – como fomento para a desfossilização. É o mesmo que representaria marketing das indústrias de fumo, em construção de hospitais para cancerosos do pulmão.
Para culminar a contradição, lançou o Balanço Ético Global – BEG, em inglês GST – Globl Stocktake, mecanismo previsto pelo Acordo de Paris, para avaliar o progresso dos países rumo às suas metas de redução na emissão dos gases venenosos causadores do efeito-estufa.
A iniciativa é bonita e pueril. Não se coaduna com o que o Brasil tem evidenciado no retrocesso ecológico, algo decepcionante para um governo que trouxe de novo Marina Silva, a grife verde, outra vez desprestigiada e ofendida quando levanta a sua voz lúcida e coerente, em favor da maltratada natureza.
É muito bonito trazer a dimensão ética para o discurso ecológico. Mas ele precisa ser afinado com a política integral. Vai na contramão daquilo que se conhece: a nefasta consequência do uso excessivo dos combustíveis fósseis, permitir que se prossiga na exploração do petróleo. Ele já serviu, já foi útil, mas agora está matando a humanidade. Que falta de juízo acomete um governo que tem um discurso edificante e uma prática decepcionante.
Como deve estar sofrendo a Ministra do Meio Ambiente ao verificar que a tutela da natureza é um tópico irrelevante para um governo que também permite aprovação de projetos de lei de extermínio do nosso patrimônio ambiental, o famigerado PL da devastação. Até quando ela resistirá, ou terá de novamente abandonar o barco furado, num previsível “déjá vu”?
*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.