O livro “O mundo de Sofia”, do norueguês Jostein Gaarder, foi um sucesso editorial. Vendeu mais de cinquenta milhões de cópias, desde que foi publicado em 1991. É uma iniciação objetiva e clara sobre filosofia e atraiu leitores de todas as idades.
Recentemente, ele ficou apavorado ao verificar que não havia abordado aquela que considera a mais importante questão da filosofia: a preservação da Terra. Por isso, escreveu novo livro: “Nós que estamos aqui agora”. Começa com uma carta aos seus quatro netos. Para o avô escritor, solucionar a crise ambiental é uma responsabilidade ética. É o compromisso desta geração para com as próximas.
Ele detectou algo que existe na Constituição da República Federativa do Brasil desde 5.10.1988. O artigo 225 foi considerado o mais belo dispositivo fundante – que figura numa Constituição – produzido no século XX. Por que? Titulariza as futuras gerações como sujeitos ao direito fundamental de disporem de sadia qualidade de vida, resultante de um ambiente equilibrado.
Para Gaarder, há dois aspectos nessa responsabilidade. O primeiro é moral e o outro intelectual. No aspecto moral, é óbvio que os negacionistas, que se recusam a crer no aquecimento global e consideram a ecologia uma pseudociência, nutrida por nefelibatas, carregam a culpa sob a modalidade dolosa. Ou seja: estão querendo destruir a vida no planeta ou pelo menos aceitam esse risco.
Intelectualmente, é impossível negar que a ciência emite alertas há décadas, para que a humanidade corrija seu modo insano de viver. Os cientistas hoje lamentam a timidez com que advertiram os humanos. Deveriam ter sido mais contundentes. Por isso, agora é a natureza que está com a palavra. E ela está zangada. Cansou-se de sofrer e responde como pode: com fenômenos extremos, com chuvas copiosas, vendavais, violentas rajadas de vento, tudo entremeado com ondas de calor, escassez hídrica e seca.
Minha geração falhou e continua a falhar. Será que a juventude será mais sensível e determinada a enfrentar a policrise? É a esperança que nutre os que ainda acreditam possa haver alguma perspectiva para a humanidade que parece ter escolhido o suicídio coletivo como destino final.