Aqueles que só pensam em dinheiro deveriam lembrar que preservar florestas ou reflorestar pode ser uma atraente opção de novos lucros. Se a circunstância de a cobertura vegetal preservar a vida não é, por si, suficiente a seduzir o empresariado a investir, pelo menos a certeza de nova fonte de receita deveria motivá-lo.
Assim é que o Brasil já se aproxima de duzentos projetos de crédito de carbono em operação ou em vias de vir a sê-lo. Ainda é pouco, se for considerada a dimensão do país. Nove desses projetos ficam em territórios indígenas e quilombolas ou são desenvolvidos por cooperativas e associações.
Os povos indígenas e tradicionais têm dificuldade em acessar o mercado de carbono devido aos custos e à elevada burocracia no formato tradicional dos projetos. A certificação de um projeto de crédito de carbono do tipo REDD – Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal custa cerca de um milhão de reais por ano. Nesse segmento, os proprietários de terra recebem um estímulo para manter a vegetação em pé. Mais de setenta milhões de hectares degradados poderiam se converter em reflorestas. E isso ampliaria os ganhos de seus titulares dominiais.
É preciso acelerar a regulamentação da lei que regularizou o mercado de crédito de carbono, recuperando o tempo perdido em sua elaboração e aprovação. Há muito dinheiro ainda disponível para investimento no Brasil e nós perdemos tempo com uma invencível e burra burocracia.
Outra questão que impede a intensificação desse mercado é a falta de regularização fundiária. Não se sabendo a quem pertence a área, como fazer o seu posseiro receber os créditos de carbono?
Coisa boa é que também é possível ganhar dinheiro com a preservação, mediante a negociação de uma nova comodity chamada “unidade de conservação”. É o que a empresa “Tesouro Verde” negocia e consegue mostrar que preservação, em lugar de trazer dissabores, trás dinheiro. E essa é a linguagem que a maior parte do empresariado tupiniquim quer ouvir.
*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo