Repito, qual mantra, que ética é a matéria-prima de que o Brasil mais se ressente. Estudei ética durante décadas e tentei trazer algum alento aos heróis que a levam a sério. Daí os livros “Ética Geral e Ambiental”, que parou na 14ª edição, exatamente no momento crítico em que a ética no Brasil passou a agonizar. Mas também escrevi “Ética Ambiental”, que, milagrosamente, chegou a uma 4ª edição.
Falar em ética num Brasil que sepultou a prática dessa ciência do comportamento moral do homem em sociedade é um ato de coragem. Como aquele ora liderado pela Ministra Marina da Silva, a criar o Balanço Ético Global – BEG, instrumento que “propõe uma escuta ética e planetária sobre a crise climática”.
A ideia é salutar. Reunir líderes de diversas áreas para refletir sobre as emergências climáticas sob enfoque ético. Somente a ética pode salvar a humanidade. Sim, é preciso ter em vista que não é o planeta que corre o risco de desaparecer. É a humanidade. Louca varrida, sem juízo, parece ter escolhido o suicídio coletivo, pois o ecocídio inclui também a espécie dita racional quando a vida desaparecer do planeta.
Marina diz que o BEG “nada mais é do que trazer a dimensão da ética para dar suporte às decisões políticas, aos encaminhamentos técnicos, porque só ela será capaz de nos atravessar para dar o sentido de urgência dos problemas que estamos enfrentando”. Ela sabe que todas as respostas técnicas já existem. Só que existe um fosso aparentemente intransponível entre o discurso e a prática. Para Marina, “só mesmo a perspectiva da sociedade para trazer todos os constrangimentos éticos, que não só o Brasil, mas o mundo inteiro, está passando diante das mudanças climáticas”. Com exploração de petróleo em alta e eliminação de barreiras de licenciamento ambiental em curso pelo Congresso, parece difícil pensar que a ética ecológica prevaleça.
Queira Deus que a sociedade tupiniquim se converta e protagonize a mudança de conduta de que depende a continuidade da instigante e maravilhosa aventura humana sobre a Terra.