Depois das emergências climáticas, o principal perigo posto na rota da humanidade e seu projeto de continuar a existir se chama “plástico”. Ele foi útil e até continua a ser. Mas, em compensação, empesteia o mundo. Está em todos os espaços, no solo, no mar, até em nossos órgãos, no cérebro e na placenta das gestantes.
O pior é que os homens não se dão conta disso ou parecem considerar algo menor. Daí o fracasso da sexta rodada de negociações de um tratado global de combate à poluição plástica em Genebra. Depois de dez dias de negociações e impasses, os cento e oitenta e três países que participaram do Painel Internacional de Negociações da ONU não chegaram a um acordo sobre qualquer instrumento global juridicamente vinculante para frear a escalada da poluição plástica.
Ele invadiu nossa vida. É arremessado nos resíduos sólidos – para dar pálida ideia, a cidade de São Paulo produz 15 mil toneladas diárias daquilo que até ontem era chamado lixo e que os países mais adiantados perceberam que vale dinheiro, daí a mudança de nome. Desse montante, apenas 3% chegam à reciclagem. Enquanto isso, a fabricação do material plástico mais do que dobrou.
Está na hora de a humanidade criar juízo. Criar tribunais que deixem de ser apenas simbólicos, responsáveis por sanções morais e tenham jurisdição soberana para impor sua vontade aos renitentes.
Todos estão chamados a colaborar. Inventar novas fórmulas de plástico que se degrade; fazer design de produtos que necessitem menos de plástico; disseminar a educação ambiental para que o plástico entre na rota da extinção. É a juventude antenada nos algoritmos e na IA que ficará com essa questão a ser resolvida. Por sinal, esta nova geração e aquelas que ainda supostamente virão é que enfrentarão a realidade melancólica de um mundo atulhado de plástico, em que as pessoas sequer saibam o que significa terra, solo, árvore e água limpa.
Não foi isso o que sonhamos para os nossos descendentes. Vamos reagir, senão o plástico vai nos matar. A todos. Sem exceção.
*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.