É triste constatar que o desmatamento ilegal na Amazônia recrudesça no ano em que o Brasil receberá a COP30. Acelerou-se a devastação em maio de 2025, um sinal de alerta não apenas ao governo, como a toda a nacionalidade. O bioma é um dos mais importantes do planeta para o equilíbrio ecológico total.
De acordo com os dados do Deter – sistema de monitoramento via satélite do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisa Espacial, divulgados em 6.6.25, a destruição do bioma amazônico em 2025 superou o registrado em 2024 pelo segundo mês seguido. Em maio, foram destruídos 960 km2, contra 400 km2 em 2024. Aumento de 92%! Em abril o aumento foi de 55%, cenário muito preocupante, já que se aproxima nova temporada de incêndios.
A degradação da floresta assumiu novo perfil. Colabora com a devastação o agravamento da emergência climática e das graves secas consecutivas. Foram muitos incêndios neste século: 2005, 2010, 2015, 2016, 202 e 2024. Aquele temido “ponto de não retorno” e “colapso do bioma” parece estar chegando. Já existe um colapso registrado na área incendiada, que era floresta e já não é. Um colapso existe quando um local é reiteradamente incendiado e a área deixa de ter as características de floresta.
O prejuízo é evidente: perda da biodiversidade, do carbono, da função ecológica. Já não é mais um espaço florestal, um colapso nessa estrutura imprescindível à vida. Qualquer espécie de vida, inclusive a humana. A Amazônia era úmida e se regenerava naturalmente. Mas as emergências climáticas evidenciaram sua fragilidade. Quem diria que ela enfrentaria secas, se ela é detentora – ou pelo menos foi – de vinte por cento da água doce disponível para todos os terráqueos?
Houve uma flagrante mudança da trajetória histórica, ainda até então desconhecida pelos climatologistas. Isso é motivo para preocupação de toda a nacionalidade. O Sudeste depende da Amazônia para manter o seu regime de chuvas. Será preciso explicar que todos estamos no mesmo barco? No caso, o único planeta que nos acolhe e que nos permitiu edificar esta civilização que nos encanta, nos extasia, nos emociona?
Por egoísmo, por ganância – que rima com ignorância – vamos jogar tudo isso fora? Parece que essa escolha já foi feita. Lamentável!
*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.