José Renato Nalini
Não é só a burguesia que está angustiada
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A preocupação com a drástica mudança dos valores e dos costumes não aflige apenas os pais convencionais. Não é só a burguesia que está angustiada com o procedimento de suas crias. Os indígenas também demonstram perplexidade com aquilo que acontece com sua juventude.
O líder Raoni, que já foi cotado para o Nobel da Paz e que esteve com quase todos os presidentes do Brasil, à exceção do anterior ao atual, é considerado a maior liderança indígena do país.
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Ele trata de sua sucessão e enfatiza sua apreensão: “Nos meus sonhos eu vejo os jovens e fico preocupado com eles. Por quê? Porque assim que eu os deixar, no dia em que eu partir, eles não estarão bem. Eles estão mais aprendendo ritmos da cultura dos brancos e esquecendo a nossa!”.
Os indígenas, tão mal compreendidos pelos que chegaram ao território que eles ocuparam durante milhares de anos e o conservaram, alvo de tantos preconceitos, foram guardiões do tesouro que os “civilizados” destruíram e continuam a destruir, malgrado as consequências nefastas que disso resultam.
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“Eu falo para eles não serem assim, para defenderem as terras, os rios, o povo. Isso é que eu falo para eles”. Raoni lança sua autobiografia, chamada “Memórias do Cacique”. Além do relato de sua vida e trajetória, a obra é repleta de mensagens dirigidas às novas gerações, em tom que mistura crítica e frustração.
Não se sabe ao certo qual sua idade. Calcula-se tenha 88 anos. Mas é movido a idealismo e amor pela Terra. Estava entre os líderes convidados pelo saudoso Papa Francisco para o Encontro das Academias Pontifícias em maio de 2024, fazendo o que tem feito ao longo de muitas décadas: transmitir o conhecimento para as novas gerações, às quais recomenda prezarem pela paz, protegerem a floresta e cuidarem do seu povo.
Resta a nós, não indígenas, a reflexão que se impõe: quem chegou depois a este continente chamado Brasil fomos os exploradores de territórios considerados bárbaros. Será que o direito natural não se inclinaria a reconhecer a legitimidade da posse da terra que sempre ocuparam, em detrimento da cultura jurídica de predominância do direito dos brancos? Vale a pena pensar sobre isso e verificar se não há mais preconceito do que direito na discussão sobre o marco legal.
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