'Guerra dos Mundos'? Só se for contra a lógica de um bom roteiro

Gravado em meados de 2020, a "nova versão" de "Guerra dos Mundos" tentou surfar na onda de sucessos como "Buscando" e optou por contar a clássica história de HG Wells na perspectiva de uma tela de computador.

No entanto, a ideia não só acabou dando errado, como o projeto ficou quase cinco anos engavetado, até o produtor Timur Bekmambetov ("O Procurado") resolver lançá-lo sem alarde na plataforma do Prime Video.

A história é centrada em um funcionário de um departamento de segurança dos Estados Unidos, William Radford (Ice Cube), em um dia normal de trabalho. Porém, ele é surpreendido com uma misteriosa invasão alienígena e, ao mesmo tempo que tenta descobrir como ajudar o país, tenta salvar a vida de seus filhos, uma vez que está preso em uma sala e não tem como sair.

O roteiro de Kenny Golde e Marc Hyman apresenta uma versão nitidamente pobre do longa de Steven Spielberg e Tom Cruise (que chegou a ser cotado para fazer uma ponta breve correndo em uma cena), pois, além de não haver conectividade com o público, não há como estabelecer uma ligação com nenhum dos personagens.

Se, de um lado, temos o Ice Cube sendo o mesmo personagem de "Anjos da Lei", do outro, temos mais uma trama política e reviravoltas que já conseguimos matar por conta de brechas no roteiro.

Tentarei me esquivar de spoilers, mas, em determinada cena, os agentes vão tentar invadir um apartamento para pegar um hacker e, ao entrarem no local, o próprio não está lá. Em questão de cinco minutos, vemos um dos coadjuvantes correndo pela rua, sem motivo aparente. Logo, já conseguimos entender a identidade do antagonista por conta deste breve deslize.

Isso sem falar que a produção foi adquirida pela Amazon e, possivelmente, a empresa resolveu inserir diversas propagandas dos seus serviços em torno do personagem Mark (Devon Bostick), que é genro de William e trabalha como entregador para a empresa. Com direito a inserções do logo da marca e até mesmo à "capacidade" dos drones de entrega, diante de um cenário caótico.

"Guerra dos Mundos" mostra que ainda é possível ser inimigo do entretenimento, ao tentar criar uma nova versão forçada de uma produção que já foi exaustivamente adaptada.