Engenharia do Cinema
Existe um potencial no título, mas fica só nisso
Sony Pictures/Divulgação
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Ao se deparar com Margot Robbie e Colin Farrell estampando o pôster de "A Grande Viagem de Sua Vida", a única sensação que o público consegue ter é a de que se trata de um filme de qualidade.
Mesmo estando na black list de 2020, que reúne os melhores roteiros daquele ano que não chegaram a ser produzidos, isso não foi suficiente para o título possuir uma qualidade plausível.
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A história gira em torno de David (Farrell), um homem tímido que tem um encontro inusitado com a excêntrica Sarah (Robbie) durante um casamento. Entretanto, eles não imaginavam que os carros que ambos alugaram os colocariam em uma viagem juntos, onde teriam a oportunidade de refletir sobre episódios traumáticos em suas vidas.
Um dos principais problemas no roteiro de Seth Reiss, responsável pelo excelente "O Menu", está na dificuldade de gerar simpatia do público por David e Sarah.
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Se, naquele clima de mistério entre Ralph Fiennes e Anya Taylor-Joy, o público conseguia se prender tentando entender suas motivações, aqui não conseguimos nos conectar com os protagonistas, muito menos estabelecer empatia com ambos.
Mesmo que o escopo dos traumas do passado seja responsável por guiar boa parte da trama e sirva de motivação para a dupla continuar a viagem, faltou ao diretor Kogonada (indicado ao BAFTA por "A Vida Depois de Yang") estabelecer um primeiro ato que justificasse nos importarmos com David e Sarah.
Ao invés disso, mais uma vez temos Farrell interpretando um rapaz tímido e acanhado e Robbie uma hippie (inclusive remetendo brevemente ao seu papel de Sharon Tate), ou seja, há uma zona de conforto quando não deveria haver.
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Isso sem citar algumas tomadas em que ambos estão em uma espécie de “vácuo”, fazendo monólogos sobre a vida, entrelaçados com um clima lento acompanhado de diversos índices que mostram passagens traumáticas de suas vidas, remetendo bastante ao cinema japonês.
Quando essas cenas finalmente acontecem, ao invés de escorrerem lágrimas do público, principalmente em duas sequências com Robbie, a única vontade é olhar para o relógio e ver se falta muito para a sessão terminar.
Por mais que o texto de Reiss seja bastante pesado em alguns diálogos proferidos pela Sarah, a direção parece que queria deixar um rumo oposto e transparecer leveza. O mesmo pode-se dizer de David, entretanto, em seu arco é plausível isso ser feito.
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Outro grave descuido é a inserção de nomes como Phoebe Waller-Bridge e Kevin Kline em participações especiais que até funcionam, mas mereciam ter um espaço melhor visto o potencial da comediante (que nítidamente improvisou em seus diálogos) e do veterano.
“A Grande Viagem da Sua Vida” fica apenas na estrada e não consegue seguir caminho, por conta da famosa zona de conforto dos envolvidos.
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