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Refugiados ganham bolsas para cursar universidade no Brasil

No caso das primeiras bolsas concedidas, foi feito contato com os refugiados que foram pré-selecionados e que corresponderiam ao perfil estabelecido.

Agência Brasil

Publicado em 11/03/2018 às 21:56

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Bolsas de estudo permitirão que refugiados estudem em universidade no Rio de Janeiro / Tomaz Silva/Agência Brasil

A Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro (Cáritas Rio), que atua há 40 anos na busca pela proteção e promoção social dos direitos de refugiados e solicitantes de refúgio, assinou convênio com a Universidade Veiga de Almeida (UVA) para concessão de cinco bolsas integrais a refugiados que poderão cursar graduação naquela instituição de ensino. A iniciativa permite que esses refugiados possam reconstruir suas vidas profissionais.

Os primeiros alunos que ingressarão na universidade, que fica no bairro do Maracanã, por meio da parceria são da República Democrática do Congo, Gâmbia e Venezuela, e estão na faixa etária de 23 a 50 anos.Vão cursar Relações Internacionais, Fisioterapia e Ciências da Computação.

O processo seletivo é feito pela Cáritas e inclui verificação de documentação exigida pelo Ministério da Educação (MEC) para matrícula no ensino superior, que é a conclusão do ensino médio, com documento comprobatório, traduzido ou não, declaração sobre a escolha da graduação e entrevista pessoal com a equipe acadêmica da UVA.

No caso das primeiras bolsas concedidas, foi feito contato com os refugiados que foram pré-selecionados e que corresponderiam ao perfil estabelecido.

“Nós fizemos uma seleção entre eles para ver quem estava mais apto a entrar”, disse à Agência Brasil a coordenadora do Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio (Pare) da Cáritas Rio, Aline Thuller.

Importância do intercâmbio

O pró-reitor de graduação da UVA, Carlos Eduardo Nunes-Ferreira, afirmou que é função da universidade se manter aberta a demandas da sociedade e do mundo. “O ingresso dos cinco novos alunos não é somente motivo de orgulho para a UVA; é também a possibilidade de um rico intercâmbio de culturas para nossos alunos e professores”, disse. A ideia é realizar a cada ano, em todo o primeiro semestre, novas seleções para bolsas integrais.

“A gente fica muito animado com isso, porque a notícia já se espalhou e outras pessoas que a gente não tinha selecionado estão demonstrando interesse. A gente fica feliz porque entende que essa possibilidade que a Veiga de Almeida abre é, na verdade, um passo muito importante na vida dessas pessoas. A gente fala em integração local e pensa na inserção no mercado de trabalho. Mas o que a universidade está fazendo é abrindo a possibilidade para que eles se integrem com ainda mais dignidade no país; que eles possam realizar sonhos, mas também possibilitar que eles se insiram na sociedade brasileira com qualificação”, destacou Aline Thuller.

Por isso, a Cáritas Rio vê com grande alegria a parceria com a UVA e seu futuro desdobramento. “É uma parceria muito importante para a gente”, completou a coordenadora. Ela acredita que essa primeira prática com a universidade poderá ser replicada por outras instituições privadas e públicas, para que abram oportunidades para que refugiados estudem.

Segundo Aline, já há conversas avançadas com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e com a Universidade Federal Fluminense (UFF) visando a elaboração de vestibulares diferenciados para refugiados.

O perfil dos bolsistas

Mariama Bah veio de um país (Gâmbia) onde o destino das mulheres é bem definido na sociedade: casar, ter filhos e cuidar da casa. Ela casou cedo, aos 13 anos, e teve uma filha, aos 14 anos, mas conseguiu fugir e chegou em 2013 ao Brasil, onde cursou o ensino médio, concluído no ano passado, graças à intervenção da Cáritas Rio.

Mariama disse à Agência Brasil que escolheu cursar relações internacionais no campus Tijuca “porque tem muito a ver comigo, com os sonhos, com o que eu quero fazer na minha vida”.

Lembrou que teve a filha, hoje com 15 anos, muito jovem ainda, ao sair da escola. Sonhava, porém, em ter educação superior. “Dentro da minha família, nenhuma mulher tem educação superior. Não tem ensino médio, muito menos faculdade. Era um sonho fazer isso [estudar]”, confessou.

Desde criança, Mariama fez trabalhos voluntários junto a entidades como a Cruz Vermelha, mas nunca imaginou que um dia seria refugiada e que precisaria que outras pessoas fizessem algo por ela.

Atualmente com 29 anos, ela acredita que a bolsa concedida pela universidade vai proporcionar lutar para levar educação às mulheres e jovens.

“A gente pode passar muitas coisas na vida, mas pode vencer com educação. Eu me sinto bem fazendo isso, falando para as meninas que nosso lugar não é na cozinha ou só cuidando dos filhos. Eu não sou contra isso, mas acho que você não precisa deixar de ser o que quer ser para se dedicar só ao casamento”, salientou.

Na última quinta-feira (8), ela teve sua primeira aula na universidade e está confiante que vai ser a primeira mulher universitária de seu país. Mariama mora em Cabuçu, bairro do município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Os quatro demais primeiros bolsistas do convênio com a UVA são Kabagambe Magbo Sammy, da República Democrática do Congo, que vai estudar Ciências da Computação no campu' Tijuca; Oscar Orlando Santander Rodriguez, da Venezuela, advogado e ex-funcionário de uma empresa estatal venezuelana, vai fazer Relações Internacionais no campus Barra; Isamar Andreína Suárez Suárez, da Venezuela, ex-atleta de alto rendimento de Rugby, vai cursar Fisioterapia, no campus Tijuca; e Ana Maria Guerra Herrera, também da Venezuela, escolheu a graduação em Fisioterapia.

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