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Major Olimpio: 'Em qualquer lugar sério do mundo Doria não seria mais governador'

Nesta entrevista exclusiva, o senador explica por que busca o impeachment de Doria e anuncia que vai ser candidato ao Governo de SP em 2022

Bruno Hoffmann

Publicado em 28/02/2021 às 08:50

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Major Olimpio é senador da República pelo PSL-SP / Daniel Villaça/Gazeta de S. Paulo

Nas últimas semanas, houve uma intensificação de protestos contra o governador João Doria (PSDB), principalmente por conta do aumento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em São Paulo. Em praticamente todos os atos o senador Major Olimpio (PSL-SP) esteve presente para cobrar o tucano - dentro de um combate político que promove desde a década de 1990 contra o PSDB no Estado.

Em entrevista exclusiva à Gazeta, o senador explica por que acredita que Doria deve sofrer um processo de impeachment e analisa o cenário político estadual e federal, sob a pandemia. Ele também anuncia que pretende se candidatar ao governo de São Paulo em 2022, motivado principalmente, em suas palavras, pelo desejo do setor de segurança pública. “Estão me estimulando, para não dizer me escalando, para disputar o governo do Estado no ano que vem”.

Nas últimas semanas, o sr. tem participado de vários atos contra Doria. Quais os principais erros do governador?
Os erros maiores de Doria são justamente a dissimulação e o não cumprimento da palavra. É uma característica dele. Foi assim como prefeito. Ele perdeu a eleição na Capital, mas ganhou enganando no Interior. Ele se agarrou no Bolsonaro. O Doria, com aquele Bolsodoria, saiu enganando a população. Disse que teria um padrão de segurança pública, um padrão de saúde, e este ano cortou R$ 80 milhões de Santas Casas e hospitais filantrópicos. Nada que ele usa na frente das câmeras acaba se concretizando. Ele promete o que não entrega, ele assume compromissos que depois não cumpre, e isso é um grande problema para qualquer administrador público. Eu entrei com dois pedidos de impeachment dele, tenho pedidos de investigação sobre mau uso de recursos públicos do Covid, de verbas federais pelo estado de São Paulo. Eu entendo que a saída dele é necessária para São Paulo.

Há alguma chance real do impeachment do Doria ocorrer neste momento?
Não, não tem. A Assembleia Legislativa virou um puxadinho do Palácio dos Bandeirantes. O governador tem uma maioria absolutamente folgada e não haverá processo de impeachment. Infelizmente, é isso.

Se os critérios fossem estritamente técnicos, haveria motivos para o seu afastamento?
Totalmente. Em qualquer lugar sério do mundo ele já não seria mais o governador. É lamentável a postura da Assembleia, e vou dar um dado: nós estamos agora com 130 produtos que aumentaram o ICMS. Foi votado uma lei em outubro na Assembleia Legislativa em que a maioria dos deputados ganhou R$ 30 milhões de indicação de emendas para votar com o Doria, dando esse salvo conduto para ele, para a partir de agora não precisar mais consultar o legislativo sobre mudanças em tributos. E aí ele mexe no que quer. Ele conseguiu esse grande cheque em branco. Tem deputado o xingando por causa disso aí, vai participar de manifestação, mas votou a favor disso. A picaretagem é grande.

Doria, assim como dizem de Bolsonaro, também busca polarizar o debate político?
Ele vive disso hoje. Ele está tentando se posicionar como um alternativo entre Bolsonaro e esquerda, o PT. Bolsonaro é um cara previsível: você sabe se apertar um bolão aqui a reação dele é essa. E o Doria está tentando ter um protagonismo nacional como o anti-Bolsonaro, salvador da pátria, e acho que não está funcionando isso. No interior do estado de São Paulo ele virou um sinônimo de palavrão. O Doria hoje está fazendo uma campanha para os outros 25 estados e o distrito federal.

Entre o presidente e o governador, quem se desgastou mais na pandemia?
Mais desgastado foi o Bolsonaro, porque foi irresponsável com esse negacionismo, colocou todos os obstáculos do mundo para qualquer coisa que pudesse ser vacina. Fez, dentro desse discurso negacionista, usando discurso ideológico, dizendo que vacina da China jamais, e hoje tem que anunciar compra de vacinas do Butantan. E os insumos da vacina de Oxford também são produzidos na China. Ele tropeçou demais no discurso. Trocou dois ministros da Saúde, tem um hoje que além de ser negacionista está sendo incompetente na condução da saúde. Logicamente, o presidente ainda tem muita força política, um nicho de 30%, 35% da população brasileira de seguidores, que arrumam argumentos para não se aprofundarem na discussão do que está acontecendo na saúde pública.

Como viu os novos decretos de armas do governo federal? Acredita que o legislativo vai mantê-los?
Eu já venho nessa briga em defesa da legítima defesa não é quando virei deputado, ou agora, porque estava no mesmo partido do Bolsonaro. Eu sou muito mais antigo do que eles nessa briga. O presidente não extrapolou competência no poder dele de regulamentar, não alterou nenhum conteúdo do estatuto do desarmamento. Juridicamente, o ato dele foi perfeito. Agora, politicamente vai se dar um degladio. Pelo perfil da Câmara, a tendência maior é da manutenção dos decretos. No Senado, hoje, eu tenho dúvidas. É muito dividido o posicionamento dos senadores.

Quais suas expectativas para as próximas eleições presidenciais?
É imprevisível. Os dois adversários já se escolheram: Bolsonaro e PT. Mas pode entrar alguém jogando areia na farofa dos dois chamado Sergio Moro. Sergio Moro entrar nessa parada corre o risco de ou o PT ou Bolsonaro não estar nesse segundo turno, e eles sabem disso. Ciro Gomes não tem esse potencial para isso – tem inteligência mas tem uma loucura atrás, e a língua dele condena. O Luciano Huck eu não acredito que vai se meter realmente nisso aí. Ele está mais para substituir o Faustão.

E Doria?
Acredito que ele vai se quebrar. Acho que ele vai dançar mais feio do que foi o Geraldo Alckmin, e o Alckmin fez 4,9% na eleição presidencial [em 2018].

O sr. já disse que estava desiludido com a política. Pretende se candidatar em 2022?
Eu queria abandonar a política eleitoral e a disputa de urnas, mas muitos segmentos, principalmente o meu original, que é a e a área de segurança pública, têm sido arrebentado nos últimos 28 anos dos governos do PSDB em São Paulo. E estão me estimulando, para não dizer me escalando, para disputar o governo do Estado no ano que vem. Isso logicamente tem um caminho, que é justamente primeiro o meu partido político se sensibilizar para isso e me lançar, depois eventualmente buscarmos alianças e disputar efetivamente o governo E mais ainda: o Doria tem feito uma administração lastimável na minha visão no estado de São Paulo e, possivelmente, na visão da maioria da população. Nós vamos precisar de muito pulso, muita firmeza para a reconstrução de São Paulo. Não é só a questão da pandemia. Na ótica da segurança pública, voltou a ter sequestro, sequestro relâmpago, roubo a banco. Onde o governo não se mostra firme, a segurança pública fica frágil. E São Paulo está frágil com isso.

O sr. conversa com outros partidos, para alianças?
Converso com todo mundo, desde que estejam em sintonia com os princípios do meu partido. Nós temos um tempo significativo de televisão e rádio, e logicamente vamos buscar se tivermos alinhamento programático. E eu sei que um número de partidos muito significativo estará no bolso do atual governador, ou da aliança que virá a partir dele, e eu não tenho nem a condição de sair às compras e nem o ânimo moral de fazer isso. Têm partidos que temos conversado, e que seria interessantes de estarmos numa base, porque tem conteudo e alinhamento com a gente. Mas não é sangria desatada.

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