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Inclusão de negros em cargos de liderança é desafio para empresas

Os negros ocupam menos de 30% dos cargos de liderança nas empresas no Brasil; programa de trainee do Magazine Luiza causou repercussão

Gazeta de S. Paulo

Publicado em 27/09/2020 às 07:07

Atualizado em 27/09/2020 às 10:49

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Magazine Luiza anunciou na última semana um programa de trainee 2021 exclusivo para negros / Ale Vianna/Brazil Photo Press/Folhapress

Por Aline Fonseca

A questão da desigualdade racial no Brasil vem sendo discutida com mais frequência nos últimos tempos. Apesar disso, no mercado de trabalho os negros ocupam menos de 30% dos cargos de liderança nas empresas, mesmo sendo a maior parte da força de trabalho no País, um total de 54,9%.

Segundo o último relatório ‘Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil’, com base em pesquisas realizadas em 2018, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no ano passado, somente 29,9% dos cargos gerenciais eram exercidos por pessoas pretas ou pardas. No estado de São Paulo, em 2019, apenas 3,68% dos contratados para cargos de liderança eram negros, segundo levantamento feito pelo Quero Bolsa.

Para tentar mudar essa realidade, muitas empresas têm realizado processos seletivos exclusivos para candidatos negros. É o caso da Bayer, Gerdau, P&G, Banco BV e da Magazine Luiza, que anunciou na última semana um programa de trainee em 2021 apenas para pretos e pardos. Segundo a empresa, o objetivo é trazer mais diversidade racial para os cargos de liderança da companhia, que tem apenas 16% de negros em postos de comando.

A iniciativa da varejista causou elogios e críticas. Entre as críticas estava a acusação que a empresa estaria praticando “racismo reverso” com brancos. O Ministério Público do Trabalho em São Paulo, inclusive, chegou a receber uma série de denúncias contra a empresa por suposta discriminação, porém rejeitou todas. Para o MPT, não houve violação trabalhista, mas sim uma ação afirmativa de reparação histórica.

Para o reitor da Universidade Zumbi dos Palmares e líder do Movimento Ar, José Vicente, a atitude da varejista é corajosa e deve mudar o mercado de trabalho. “Avalio [a iniciativa] como importante, necessária, corajosa e transformadora e, seguramente, vai mudar o mercado”, diz.

Vicente ainda acredita que este tipo de iniciativa é necessária para tentar diminuir o grau de exclusão dos negros e que vai estimular todo o ambiente corporativo a seguir essa tendência. “A ação objetiva e inovadora faz todo mundo questionar, debater, ser contra ou a favor, mas não deixar o tema ficar nem debaixo do tapete e nem fora da mesa de discussão. Por conta disso, as empresas estão, agora, obrigadas e serão necessariamente encaminhadas para um patamar que seja pelo menos idêntico ao da Magazine Luiza”, avalia o reitor.

‘Racismo reverso’ e ilegalidade
Uma das alegações de quem criticou o programa de trainee é que a varejista estaria praticando ‘racismo reverso’ com brancos. O coordenador do SOS Racismo, Cláudio Silva, explica que isso não existe porque o “racismo é determinado pela condição de poder que as pessoas têm, e negro não tem poder no Brasil”.

Sobre a iniciativa ser legal ou não, José Vicente lembra que a reserva de vagas para negros é constitucional. “O Supremo ao longo dos últimos anos declarou como totalmente constitucionais medidas de cotas para negros tanto em concursos públicos, quanto nas universidades, tanto nos estágios”, finaliza.

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