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Homem que atacou Bolsonaro ameaçou matar candidato 5 dias antes do atentado, diz PF

Ele ameaçou de morte o candidato cinco antes por meio de uma postagem em uma rede social

Folhapress

Publicado em 28/09/2018 às 21:00

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Adélio Bispo desferiu uma facada em Jair Bolsonaro em Juiz de Fora / Reprodução

A Polícia Federal informou nesta sexta-feira (28), em Brasília, que o homem que praticou o atentado a faca contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL-RJ), Adélio Bispo de Oliveira, ameaçou de morte o candidato cinco antes por meio de uma postagem em uma rede social.

Na mensagem de 1º de setembro localizada pela PF em uma página dedicada a Bolsonaro, Oliveira "manifestou seu desapreço pelo candidato, rotulando-o de 'Marionete do Capitalismo' e 'Bonequinha de Woshiton [Washington]", segundo o relatório final da PF. Oliveira escreveu: "Espero que esta sua valentia realmente exista o dia em que me vê". De acordo com a PF, Oliveira terminou a postagem dizendo "que o candidato merecia um tiro na cabeça".

A PF também apontou que Oliveira tentou, meses antes, adquirir uma arma de fogo mas desistiu por causa de "dificuldades" previstas na atual legislação brasileira de controle de armas.

Em seus discursos, Bolsonaro tem defendido a mudança da atual lei, em vigor desde os anos 2000, a fim de ampliar o uso de armamento pela população civil. Se Oliveira tivesse utilizado uma arma de fogo em vez de uma faca no atentado do último dia 6, em Juiz de Fora (MG), o disparo poderia ter sido fatal para Bolsonaro, pois o ex-garçom esteve a poucos centímetros do candidato.

O inquérito que apurou o crime foi concluído nesta sexta-feira (28) pelo delegado da PF Rodrigo Morais, delegado regional de combate ao crime organizado de Minas Gerais. Ele apontou que Oliveira agiu movido por "inconformismo político", em razão de "discordar de algumas opiniões políticas e alguns discursos" de Bolsonaro.

Oliveira foi indiciado nesta sexta-feira por crime previsto na LSN (Lei de Segurança Nacional) que, por envolver crime de grave lesão, prevê pena de seis a 20 anos de reclusão. "Ficou claro que havia essa discordância em relação aos projetos políticos do candidato e dessa forma se configurou o crime contra a segurança nacional", disse Morais. A PF apontou que Oliveira postou em rede social, meses antes do atentado, uma ameaça de morte contra o candidato.

A PF confirmou que por volta de julho passado Oliveira frequentou um stand de tiros em Florianópolis (SC), onde deu cerca de 70 disparos em um treinamento de três dias que custou cerca de R$ 600. Oliveira declarou à PF que ele pretendia comprar uma arma de fogo para se defender, pois se dizia sob ameaça após ter feito denúncias contra um político de Uberaba (MG).

No entanto, segundo a PF, Oliveira desistiu da compra por duas razões: o custo da arma e os entraves burocráticos. Pelas regras atuais, Oliveira teria que obter uma autorização de porte especial de arma na própria PF, após a análise de uma série de critérios. "Ele disse que teria dificuldades de justificar o uso da arma de fogo", disse Morais.

O mesmo stand tinha como sócios dois dos filhos de Bolsonaro, mas Oliveira e eles não chegaram a se encontrar, segundo a PF. Esgotadas as apurações sobre esse ponto, a polícia entende que houve uma coincidência. Oliveira disse que só depois do atentado soube da ligação do stand com a família Bolsonaro.
A PF concluiu que Oliveira agiu sozinho no dia do crime. Foi descartada a teoria conspiratória levantada por internautas em redes sociais e aplicativos de mensagens de que outras pessoas ajudaram a "passar" para Oliveira a faca do crime no meio da multidão. A PF analisou centenas de horas de gravações de câmeras de rua e de estabelecimentos comerciais na região do atentado.

"Chegamos à conclusão de que naquele dia, naquele momento, realmente [Oliveira] teria agido sozinho. Realmente não contou com a participação de ninguém. Todas aquelas imagens sobre participação de terceiros não se confirmaram. Ao contrário, [as pessoas] estavam ali para apoiar o candidato", disse Morais, que concedeu a entrevista coletiva à imprensa, na sede da PF em Brasília, ao lado do coordenador-geral de polícia de repressão a drogas e facções criminosas da PF Júlio César Baida Filho.

A PF confirmou, conforme antecipado pela Folha de S.Paulo na semana passada, que nas contas bancárias de Oliveira não surgiu nenhuma movimentação financeira suspeita e que o dinheiro que circulou por elas tinha "origem sustentável", ou seja, pode ser explicado por pagamentos normais trabalhistas. A ausência de um financiamento para o crime ajudou a reforçar a tese de que Oliveira agiu sozinho no atentado.

A investigação ouviu 30 testemunhas e analisou dois terabytes de informações, 600 documentos e cerca de 1.200 fotografias. Foram apreendidos seis computadores utilizados por Oliveira em uma lan house. Além disso, a PF arrecadou 6.000 mensagens trocadas em aplicativos de celular e mais 1.060 e-mails. Todo esse material passará a ser analisado em um segundo inquérito, já aberto, que pretende averiguar se outras pessoas colaboraram para o planejamento do crime. A PF não encontrou nenhum indício nesse sentido até agora, mas por via das dúvidas resolveu abrir a segunda investigação.

"O que nós concluímos é que no dia ele [Oliveira] estava sozinho, a investigação prossegue no sentido de identificar outros envolvidos mas não necessariamente alguém que tenha planejado com ele, alguém que tenha algum envolvimento de qualquer forma", disse o delegado da PF.

O relatório final do primeiro inquérito, entregue à Justiça Federal de Juiz de Fora, será agora analisado pelo Ministério Público Federal, que poderá oferecer denúncia contra Oliveira ou pedir ao juiz novas diligências. Oliveira está preso no presídio federal de Campo Grande (MS).

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