X

Brasil

Governo não tem plano para evitar contaminação em locais de vacinação

Plano Nacional da Vacinação contra a Covid-19 diz apenas que a organização da unidade de saúde deve ser feita para evitar aglomerações sem orientações específicas

Gazeta de S. Paulo

Publicado em 14/12/2020 às 14:13

Comentar:

Compartilhe:

A-

A+

Datas para o início da campanha de imunização contra a Covid-19 ainda não estão claro / Alex Pazuello/Fotos Públicas

*Com informações da Folhapress

O Ministério da Saúde ainda não tem um protocolo para evitar a transmissão da Covid-19 nos postos de vacinação. No sábado (12), após semanas de pressão da instituição e da sociedade civil, o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, foi entregue ao STF (Superior Tribunal Federal), no entanto, diz apenas que a organização da unidade de saúde deve ser feita para evitar aglomerações sem orientações específicas.

"Deve-se pensar na disposição e circulação destas pessoas nas unidades de saúde e/ou postos externos de vacinação", afirma o documento, sem dar nenhum detalhe ou orientação clara.

Tudo indica que a vacinação deve ser iniciada em meio à transmissão comunitária do coronavírus Sars-CoV-2 no País, quando o risco de qualquer pessoa se infectar ainda é alto. Inicialmente deverão receber o imunizante os idosos, que são do grupo prioritário e passam por mais riscos. As datas para o início da campanha de imunização contra a Covid-19 ainda não estão claras – o governo federal anunciou que iniciaria em março e o governo do estado de São Paulo diz que pretende começar a vacinar em janeiro.

O Reino Unido, primeiro país a aprovar uma vacina contra a doença pelas vias usuais – após a finalização da terceira fase de testes em humanos (clínicos) – deu início à vacinação da população no dia 8 de dezembro e publicou uma série de orientações específicas para evitar a contaminação pelo vírus nos locais de vacinação. A vacina da Pfizer e da empresa de biotecnologia alemã BioNTech, que é aplicada no Reino Unido, tem um intervalo de 21a 28 dias entre as aplicações.

O planejamento da campanha de vacinação no Reino Unido é feito há meses, e as orientações estão em constante atualização. No documento publicado pelo Serviço Nacional de Saúde (NHS) que define os procedimentos nos locais de vacinação, atualizado nesta última quinta-feira (10), a instituição pede que os pontos de vacinação tenham produtos para higienização das mãos e entradas e saídas separadas para propiciar um fluxo contínuo e evitar interações desnecessárias entre os pacientes.

Os ambientes fechados devem ser grandes o suficiente para permitir o distanciamento e os pacientes podem aguardar sua vez no estacionamento, dentro de seu carro, ou em outras áreas externas. A vacinação no Reino Unido ocorre mediante marcação prévia em um sistema nacional.

"Precauções para controle da infecção devem ser mantidas por todos os funcionários, em todos os locais, o tempo todo", diz o texto.

O monitoramento das pessoas imunizadas, este previsto no documento brasileiro, também é essencial. No Reino Unido, dois funcionários do NHS tiveram uma reação alérgica após receberem a vacina da Pfizer, ainda no primeiro dia da vacinação nacional.

Logo após as ocorrências, a MHRA, agência regulatória britânica, emitiu um alerta e mudou as orientações de segurança para os locais de vacinação. Embora raras, reações alérgicas a qualquer vacina podem acontecer. Mesmo assim, a agência determinou que pessoas com histórico de alergias graves a medicamentos, vacinas ou alimentos não deveriam mais receber o produto e proibiu a segunda dose para aqueles que tiverem sintomas de alergia após a primeira aplicação.

Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) divulgou ainda em outubro um guia para o programa de vacinação contra a Covid-19. Embora não tão concreto quanto o documento britânico, o texto prevê treinamento para os funcionários e monitoramento continuado dos vacinados para avaliar a segurança da substância.

"O Programa Nacional de Imunizações (PNI) é muito bom para a vacinação de rotina, mas vai ter de ser adaptado para algo sem precedentes, uma demanda fora do comum", diz Garret. Segundo a médica, a experiência nas campanhas anteriores jogam a favor do país. Ela cita como exemplo a última campanha de vacinação contra gripe, realizada durante a pandemia, que contou com opções para vacinação mais segura como o drive-thru.

Mas essa experiência pode não ser suficiente na situação que o país deve enfrentar pela frente. Se a vacinação contra o coronavírus for iniciada em março, pode coincidir com o início das campanhas de imunização contra a gripe (que tem um grupo prioritário e de risco semelhante). Para ela, o planejamento deveria levar em conta um espaço entre essas vacinações para que as reações adversas possam ser observadas com segurança.

"A campanha vai precisar de mais pessoal trabalhando e horário estendido. Locais amplos e ao ar livre, como estacionamentos e estádios, podem ser aproveitados para dar mais segurança aos grupos de risco", afirma Raquel Stucchi, infectologista e professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Vacinação por etapas e equipes para levar o imunizante até a casa dos mais debilitados, ações já adotadas em campanhas anteriores, devem ser mantidas, diz Stucchi.

De acordo com a médica, é preciso haver um esforço de comunicação para incentivar as pessoas a voltarem aos postos para uma segunda dose, e esses pacientes não podem se misturar com os que vão aos locais para receber a primeira dose.

A população também deve ser informada sobre qual é a vacina que está tomando, pois os produtos não são intercambiáveis: quem receber a primeira dose da Coronavac, a vacina comprada pelo governo do estado de São Paulo, não pode tomar uma segunda dose da vacina da Pfizer/BioNTech, adquirida pelo governo federal, por exemplo.

As especialistas veem com preocupação o que consideram atraso e falta de coordenação do governo federal para centralizar as ações na construção de uma estratégia de vacinação. "É um planejamento complexo e eu não vejo o Ministério da Saúde preparado para isso neste momento. Houve comodismo, incompetência e falta de interesse. O país tem um histórico de vacinação e estrutura muito boa, mas não adianta nada se não tiver vacina e planejamento", afirma Garret.

"Vejo as iniciativas isoladas de estados e municípios com tristeza. O processo deveria ser centralizado pelo governo federal. Deveríamos aproveitar toda a nossa experiência adquirida nas campanhas anteriores para planejar a vacinação contra a Covid-19. Podemos perder tudo o que foi construído com muito esforço por décadas", conclui Stucchi.

Apoie o Diário do Litoral
A sua ajuda é fundamental para nós do Diário do Litoral. Por meio do seu apoio conseguiremos elaborar mais reportagens investigativas e produzir matérias especiais mais aprofundadas.

O jornalismo independente e investigativo é o alicerce de uma sociedade mais justa. Nós do Diário do Litoral temos esse compromisso com você, leitor, mantendo nossas notícias e plataformas acessíveis a todos de forma gratuita. Acreditamos que todo cidadão tem o direito a informações verdadeiras para se manter atualizado no mundo em que vivemos.

Para o Diário do Litoral continuar esse trabalho vital, contamos com a generosidade daqueles que têm a capacidade de contribuir. Se você puder, ajude-nos com uma doação mensal ou única, a partir de apenas R$ 5. Leva menos de um minuto para você mostrar o seu apoio.

Obrigado por fazer parte do nosso compromisso com o jornalismo verdadeiro.

VEJA TAMBÉM

ÚLTIMAS

Polícia

Homem bate em companheira grávida e é preso em Bertioga

A denúncia foi feita pela mãe da vítima, que tem 18 anos.

Santos

Hospital Pediátrico da Zona Noroeste deve finalmente sair do papel

O hospital terá a área térrea e mais cinco pavimentos. No imóvel em que ele será construído ainda será erguida uma escola e uma quadra poliesportiva

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software

Newsletter