X

Brasil

Em noite de protestos, Mangueira arrebata Sapucaí

A escola, também conhecida como Verde e Rosa, foi saudada na Apoteose aos gritos de 'é campeã' por apresentar um desfile tão belo quanto combativo

Estadão Conteúdo

Publicado em 12/02/2018 às 12:52

Comentar:

Compartilhe:

A-

A+

Em noite de protestos, Mangueira arrebata Sapucaí / Fernando Grilli | Riotur

A Mangueira despontou como a primeira favorita ao título do carnaval carioca de 2018 nesta noite de abertura do Grupo Especial no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio. A escola, também conhecida como Verde e Rosa, foi saudada na Apoteose aos gritos de "é campeã" por apresentar um desfile tão belo quanto combativo. Em defesa da folia carioca - da qual, aos 90 anos, é símbolo - a Mangueira exaltou em seu enredo escolas de samba, blocos de rua e criticou abertamente o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), considerado por estes grupos um "prefeito anticarnavalesco" - ele é evangélico. 

A Vila Isabel, que cantou seu "Corra que o futuro vem aí" e trouxe carros com efeitos tecnológicos, e a Mocidade Independente de Padre Miguel, com sua viagem à Índia, foram outros destaques. Um carro quebrado tirou as chances do "Cassino do Chacrinha" da Grande Rio. O Império Serrano e sua rota da China vieram simples demais, ao contrário da São Clemente, que fez bonito ao homenagear os 200 anos da Escola Nacional de Belas Artes, vindo muito bem vestida. 

O Paraíso do Tuiuti também fez desfile crítico, este, à persistência da escravidão no Brasil e à precarização das ocupações dos trabalhadores, inclusive com uma ala exibindo uma carteira de trabalho chamuscada. Mas o enredo foi mal explorado, com uma profusão de escravos em alas e carros. Nenhuma outra passagem impactou o público como a da Mangueira. A escola ousou ao apresentar Crivella como "o Judas do carnaval", na figura de um boneco enforcado, junto aos dizeres, extraídos do seu samba: "Prefeito, pecado é não brincar o carnaval". Foi uma alusão ao apoio que o mundo do carnaval deu ao então candidato em sua campanha de 2014 e ao corte que ele, eleito, fez posteriormente nas verbas para os desfiles.

Mais esperada desta primeira noite do Grupo Especial, por conta do enredo crítico, "Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco", tinha carros alegóricos de grande beleza plástica. O carnavalesco Leandro Vieira escolheu tons pouco usados de verde e rosa, mais suaves, e mesclou listras e florais em carros e em alas que representaram blocos tradicionais, como o Bola Preta, o Cacique de Ramos e o Bafo da onça, além de grupos do novo carnaval de rua do Rio, que trazem outros estilos musicais ao samba.

Foliões vieram de pirata, diabo, índios, com Vieira no meio, aplaudido pelo público. O verso do samba "se faltar fantasia, alegria há de sobrar" não se comprovou: a Verde e Rosa estava bem acabada e muito animada, com componentes cantando com vontade as alfinetadas a Crivella. Ele é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e procura se manter afastado do carnaval para não desagradar sua base de apoio evangélica, que condena a festa. Essa semana, disse que valoriza o carnaval, mas ressaltou que a cidade tem outras prioridades.

Mesmo de olho no futuro e na importância de invenções do passado, como a roda e o computador, a Vila isabel teve como estrela, já no abre-alas, o compositor Martinho da Vila, seu maior símbolo. Ele comemorava 80 anos na avenida. Esbanjando luxo, didatismo e alegorias que integravam humanos e equipamentos, a escola se credenciou para voltar no Sábado das Campeãs, quando desfilam as seis melhores - na opinião do júri especializado. O carnavalesco Paulo Barros mais uma vez abusou dos truques tecnológicos nos carros, com alguns bons resultados, como o do rapel na "roda da Vila". Ao final do desfile, Martinho celebrou: "Nunca me imaginei com 80 anos, mas estou aqui pulando carnaval", disse à TV Globo

A Mocidade, atual campeã, junto com a Portela, não se aprofundou na sua viagem à Índia, mesclando divindades, Ganesha, Shiva e outras, ao misticismo brasileiro. A escola estava opulenta e bastante fiel ao seu verde tradicional. O carnavalesco Alexandre Louzada também aproximou a vaca sagrada aos bois do Festival de Parintins. A plateia acompanhou a escola até o dia raiar, embalado por seu lindo samba-enredo.

Na estreia do carnavalesco Renato Lage, campeão cinco vezes na Sapucaí, a Grande Rio divertiu a avenida com uma homenagem ao centenário do apresentador Chacrinha (celebrado em 2017), recorrendo a seu apelo popular mesmo passadas três décadas de sua morte. Mas um problema no sexto e último carro, que empacou na Avenida Presidente Vargas e não entrou no Sambódromo, derrubou a escola. A passagem da agremiação tricolor terminou com desfilantes em prantos. O tempo foi estourado em cinco minutos, o que lhe trará penalidade.

O carro representava o carnaval de Recife, que Abelardo Barbosa brincou quando jovem. Muito largo por conta das ornamentações, ele não conseguiu passar numa agulha de cerca de 10 metros da via para seguir para a Sapucaí.

Apoie o Diário do Litoral
A sua ajuda é fundamental para nós do Diário do Litoral. Por meio do seu apoio conseguiremos elaborar mais reportagens investigativas e produzir matérias especiais mais aprofundadas.

O jornalismo independente e investigativo é o alicerce de uma sociedade mais justa. Nós do Diário do Litoral temos esse compromisso com você, leitor, mantendo nossas notícias e plataformas acessíveis a todos de forma gratuita. Acreditamos que todo cidadão tem o direito a informações verdadeiras para se manter atualizado no mundo em que vivemos.

Para o Diário do Litoral continuar esse trabalho vital, contamos com a generosidade daqueles que têm a capacidade de contribuir. Se você puder, ajude-nos com uma doação mensal ou única, a partir de apenas R$ 5. Leva menos de um minuto para você mostrar o seu apoio.

Obrigado por fazer parte do nosso compromisso com o jornalismo verdadeiro.

VEJA TAMBÉM

ÚLTIMAS

Santos

Grupo de caminhada em policlínica de Santos, irá recomeçar nesta quarta (24)

Ao chegar na policlínica, o munícipe será cadastrado na unidade para o acompanhamento da saúde

Santos

Atenção Cineastas! 'Fábrica do Audiovisual' abre inscrições em Santos

Para participar, os alunos precisam ter mais de 18 anos e morar em Santos

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software

Newsletter