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Doria demite filho de executivo do lixo que fiscalizava varrição no centro

Em nota, a prefeitura diz que "a decisão foi tomada pelo prefeito com o objetivo de reforçar o compromisso com a lisura nos processos de fiscalização dos trabalhos de varrição"

Folhapress

Publicado em 12/11/2017 às 08:30

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A varrição foi alçada a símbolo da gestão por Doria, que chegou a se vestir de gari / Fotos Públicas

O prefeito João Doria (PSDB) anunciou neste sábado (11) a exoneração do engenheiro Alexis Beghini, 27, responsável pela Coordenadoria de Projetos e Obras da prefeitura regional da Sé, no centro de São Paulo.

A decisão foi tomada após reportagem da Folha ter apontado que Alexis é filho de José Alexis de Carvalho, diretor de empresa contratada pela prefeitura para fazer a coleta de lixo na cidade e conselheiro do sindicato patronal da limpeza urbana.

Em nota, a prefeitura diz que "a decisão foi tomada pelo prefeito com o objetivo de reforçar o compromisso com a lisura nos processos de fiscalização dos trabalhos de varrição".

Beghini assumiu em 20 de setembro a Coordenadoria de Projetos e Obras da Prefeitura Regional da Sé, cargo mais alto responsável pela fiscalização na área. A função dele era coordenar os agentes para detectar, entre outras coisas, problemas em contratos de varrição nos distritos de Bom Retiro, Santa Cecília, Consolação, Bela Vista, República, Liberdade, Cambuci e Sé.

A varrição foi alçada a símbolo da gestão por Doria, que chegou a se vestir de gari. Como revelou a Folha de S.Paulo, porém, a quantidade de toneladas de sujeira varridas na cidade no primeiro semestre deste ano recuou 6% em relação a igual período de 2016.

À reportagem, Beghini e a gestão Doria negaram conflito de interesses. "Os presidentes dessas empresas [de limpeza urbana] me viram nascer, não posso negar, em reuniões me chamam pelo meu apelido, Lequinho. Mas eles sabem que não vai ter conversa", disse Beghini.
Varrição em São Paulo

REDE DE EMPRESAS

Na Sé, a varrição está a cargo do consórcio Inova, composto pelas empresas Paulitec, Vital e Revita. O contrato de varrição com a prefeitura, assinado por R$ 1,12 bilhão em 2011, tinha validade de 36 meses, mas foi prorrogado até dezembro de 2017.

Além da limpeza, abrange a remoção de entulho, lavagem de vias, capinação, pintura de guias, desobstrução de bueiros e bocas de lobo e manutenção de lixeiras.

A Vital é do grupo Queiroz Galvão, integrante do consórcio Ecourbis (detentor de contrato de coleta de lixo). No Ecourbis, a Queiroz Galvão é sócia da Marquise, na qual José Alexis é diretor.
Outra empresa em que José Alexis trabalhou por 11 anos, até 2010, é a Vega Engenharia, pertencente ao grupo da Revita, também sob fiscalização de Beghini -ele mesmo foi estagiário na Vega por um ano e meio.

José Alexis é integrante do conselho do sindicato das empresas de limpeza urbana de São Paulo, do qual Revita e Vital são associadas e que representa os interesses desses grandes grupos -como os que vinham sendo fiscalizados pelo filho dele.

Em agosto, Beghini e seu pai foram alvo de reportagens por terem sido vítimas de um sequestro organizado no Rio de Janeiro por um dos melhores amigos do rapaz.

COLETA

Beghini afirmou à reportagem que, além de fiscalizar os serviços de varrição, pretendia aplicar multas na área de coleta de lixo no caso dos grandes geradores -locais que produzem volume superior a 200 litros diários de resíduos sólidos.

"Nós [fiscais da Sé] não podemos multar na varrição, apenas notificamos, e infelizmente as notificações, pelo que soube, não têm se transformado em multa na Amlurb [autoridade municipal de limpeza] para as empresas.

Agora a gente achou um decreto que permite que prefeituras regionais apliquem multas na coleta, e vamos começar a fazer isso. Se chegar em um lugar e ver lixo por três dias, posso aplicar multa", afirmou.

A prefeitura publicou um novo edital de licitação para os serviços de varrição na cidade, mas que foi suspenso em outubro pelo TCM (Tribunal de Contas do Município). Na avaliação do órgão, havia risco de prejuízo ao poder público no modelo proposto. Na quarta (1º), a licitação foi liberada, mas com exigência de mudanças. Entre elas, a melhora da fiscalização dos serviços das empresas.

Tendo a zeladoria como uma de suas plataformas políticas, Doria trava disputa no PSDB com o governador paulista, Geraldo Alckmin, pela escolha do candidato do partido nas eleições à Presidência no ano que vem.

Alckmin teve papel decisivo na escolha de Doria como candidato tucano na disputa municipal. Para ser candidato em 2018, o prefeito terá de deixar o cargo até abril.

OUTRO LADO

Antes da exoneração, o engenheiro Alexis Beghini afirmou que sua trajetória e a relação do seu pai com os empresários de limpeza urbana não iriam interferir em seu trabalho de fiscalizador na Prefeitura Regional da Sé. "Não há conflito de interesses. Se você olhar pela ótica do poder público, é muito melhor. Todos aqueles vícios, erros e macetes conhecidos eu vou bater. Por exemplo, eu soube que a [empresa] Inova cortou em alguns bairros parte do efetivo. Sabendo disso, convoquei o presidente da Inova, porque não podemos ficar sem áreas cobertas", disse.

"Nunca um diretor da [empresa] Loga tinha vindo na Sé. Agora já estão vindo para começar justamente a trabalhar. Estamos usando o conhecimento a nosso favor", disse, ressaltando que o pai não teve relação com a nomeação.

A gestão João Doria afirmou antes da exoneração que Alexis Beghini foi indicado ao cargo por suas qualificações. "É engenheiro civil formado pela Universidade Anhembi Morumbi [em 2015], frequentou cursos de gestão e liderança; negociação e gestão de pessoas e desenvolvimento da capacidade emocional todos cursados na FGV. É fluente em inglês e espanhol", afirma, em nota.

Além disso, a prefeitura rejeitou qualquer possibilidade de conflito de interesses. "O fato de Alexis ser filho de um executivo não o torna suspeito liminarmente. Qualquer ilação em contrário chega a ser ofensiva ao funcionário, pois parte da premissa de que, na função, ele estaria predisposto a prevaricar."

A gestão disse que, em menos de um mês após a posse, houve "75 autuações de não conformidades da varrição, e todas enviadas para a gestora do contrato". Afirmou que a média mensal é perto de 50. "Alexis já detectou algumas falhas em relação à instalação de papeleiras, além de outros problemas relacionados à questão do descarte de lixo e resíduos", disse.

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