28 de Março de 2024 • 06:54
Brasil
Frequentadores do local disseram faltar estrutura para atender mais pessoas -por já estar lotado. Eles pediram para não ter os nomes revelados com medo de represálias
Doria chegou a dizer no último domingo que a a cracolândia tinha "acabado" / Rovena Rosa / Agência Brasil
A gestão João Doria (PSDB) negou nesta terça-feira (23) que os usuários de drogas e moradores de rua levados para o centro de acolhida da prefeitura nos últimos dias tenham dormido no chão após operação na região da cracolândia, no centro de São Paulo.
"O que acontece é que muitos moradores de rua se enrolam em cobertores e deitam no chão. A prefeitura não pode impedir que eles fiquem no chão. Ninguém dormiu no chão", afirmou o secretário de assistência social, Filipe Sabará.
A cena foi flagrada pela reportagem na segunda (22). Ao menos duas dezenas de homens dormindo enfileirados no chão frio e duro, sem colchão, tentando se proteger com cobertores acinzentados, dentro do complexo Prates, no Bom Retiro.
Frequentadores do local disseram faltar estrutura para atender mais pessoas -por já estar lotado. Eles pediram para não ter os nomes revelados com medo de represálias. Um homem afirmou haver 55 beliches improvisados na quadra e que teme que novos moradores pudessem ficar em lugar descoberto até de noite.
Nesta terça (23), policiais e agentes de saúde continuam na região. Além de manter os dependentes químicos dispersos, a prefeitura também tem emparedado imóveis. Moradores reclamam que não puderam nem tirar seus pertences de dentro dos imóveis.
Operação
A operação realizada no domingo terminou com 50 suspeitos presos e três adolescentes apreendidos.
De acordo com as investigações, 30 barracas de venda de crack e outras drogas funcionavam na cracolândia. A feira criminosa era tão organizada que aceitava até cartão de débito e crédito na comercialização dos entorpecentes.
Doria chegou a dizer no dia da operação que a a cracolândia tinha "acabado". No dia seguinte, porém, o prefeito atenuou o tom do discurso e passou a usar expressões mais semelhantes às do governador Geraldo Alckmin (PSDB) -que tratou a operação na região como um "primeiro passo".
Doria disse que a ação é contínua e que não se acaba com o consumo de drogas "com um passe de mágica". "Tem que fazer o processo de abordagem e isso leva tempo. Não há milagre", disse ele, rebatizando a área como Nova Luz.
O tucano também negou qualquer disputa com o governo durante a ação. Sem o prefeito, Alckmin visitou novamente a cracolândia nesta segunda. Chegou a ser abordado na rua por dependentes químicos. "Temos que ter realidade de que não vai resolver em 24 horas. É uma questão crônica que envolve questão policial, social e de saúde pública", disse.
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