Nilton César Tristão, cientista político / DIVULGAÇÃO
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Perante um mundo em desabalada carreira na direção de mudanças sociais, comportamentais, geopolíticas, econômicas, sanitárias e climáticas profundas, vale a pena rememorar a frase do saudoso ex-governador Mário Covas: “Adversidade? Não me venha falar em adversidade. Diante dela, só há três atitudes possíveis – enfrentar, combater e vencer”.
O interessante em vivenciar os períodos de grandes crises e transformações globais está na possibilidade de observar as alterações promovidas no âmago do espírito humano, principalmente, aquelas que fortalecem ou debilitam os postulados de liberdade, concórdia e universalismo.
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Ou seja, podemos perceber no cotidiano o desequilíbrio energético entre a dualidade permanente de yin e yang, um estado intrínseco e doloroso que descreve o movimento cíclico no desenvolvimento de nossa essência subjetiva, a dialética que modera o antagonismo recorrente entre a escuridão e a luz; obscurantismo e ilustração; perversão e decência; e define os limites do que somos capazes de perpetrar em nome do bem ou a desígnio do mal.
Provavelmente a purificação do ser não passa do enfrentamento constante de seus próprios demônios, quando a decadência moral nos exige uma reflexão profunda de nossas verdadeiras missões na edificação de sociedades justas e igualitárias. “Mas a besta foi presa, e com ela o falso profeta que havia realizado os sinais milagrosos em nome dela, com os quais ele havia enganado os que receberam a marca da besta e adoraram a imagem dela. Os dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre” (Apocalipse 19:20).
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Em outros termos, a tribulação sempre se propaga em nome do justo e vem revestida da pseudo vontade da divindade suprema, invariavelmente vocalizada por algum líder carismático e messiânico que se utiliza de signos e linguagens para seduzir as almas incautas e sedentas por esclarecimentos.
Nesse final de semana, 01 de agosto de 2021, presenciamos novamente as manifestações minguadas dos “adoradores” de Jair Bolsonaro, onde a pequena plateia extasiada em Belo Horizonte, bradava como se estivesse em pleno culto religioso a seguinte súplica: “Presidente Bolsonaro, viemos às ruas para lhe apoiar... Presidente Bolsonaro somos o seu exército... Presidente Bolsonaro autorizo... Presidente Bolsonaro autorizo... Presidente Bolsonaro autorizo... eu autorizo, eu autorizo, eu autorizo...”.
A catarse geralmente abordada pela filosofia para definir conceitos de limpeza e purificação pode também ser manipulada com os objetivos de zombar do sofrimento de Joice Hasselmann ou das inúmeras formas de agressões contra as mulheres; menosprezar a quantidade de compatriotas que sucumbiram pela pestilência da covid-19; disseminar bulas de tratamentos precoces ineficazes e prejudiciais à saúde do usuário; atentar contra os avanços civilizatórios representados pela independência dos poderes republicanos e do Estado Democrático de Direito; utilizar a defesa do voto auditável como o símbolo da nova espada templária no enfrentamento contra os infiéis e ainda, acreditar que a luta contra a corrupção justifica o avanço de outras ignomínias que comprometem os avanços promovidos pelo pensamento iluminista.
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Em resumo, o movimento bolsonarista está fadado ao depósito na lata de lixo da história e será motivo de vergonha aos seus seguidores mais contumazes. Sua superação traduz a exigência imemorável de recobrar a estabilidade cognitiva que nos torna indivíduos melhores e aptos para irmos além.
Nilton C. Tristão
Cientista Político