Nilton César Tristão, cientista político / DIVULGAÇÃO
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Por Nilton Cesar Tristão
“Se, pois, alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo aí! não acrediteis; porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mateus 24:24). Parafraseando igualmente o historiador Boris Fausto que durante o plebiscito de 1993, proferiu: “Jamais me imaginei utilizar da pena para defender a República”, podemos, na mesma medida, exclamar que a premência ao ativismo político nunca se fez tão necessária à garantia da manutenção do Estado Democrático de Direito.
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Na história recente do Brasil no pós-1985, presenciamos as tentativas de edificar reformas estruturantes - inspiradas em premissas do liberalismo social nas gestões de Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique - naufragarem diante da ascensão do lulopetismo; este, aliás, responsável por instalar no establishment governamental, quadros identificados com a luta de segmentos minoritários pertencentes ao campo da esquerda ideológica, mas quase sempre refratários às demandas pequeno-burguesas.
Essas circunstâncias associadas ao agravamento nos fundamentos macroeconômicos, como também, à decadência ética notabilizada no segundo mandato de Dilma Rousseff, tornaram-se o caldo de cultura para o surgimento do bolsonarismo, movimento alicerçado em manifestações de ressentimento em que a sensação de impotência individual foi transmutada em raiva comunitária, e onde o colapso mental impede o equilíbrio entre razão e emoção, ou seja, uma crise existencial coletiva.
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O perfil psicológico clássico do militante bolsonarista resume-se ao sujeito que se encontra disposto a cerrar fileiras contra inimigos imaginários simbolizados como comunistas dilapidadores do erário público, acreditando pertencer a uma casta defensora da família, dos bons costumes, da pátria e avessos à corrupção. “Não se enganem, Satanás é um ser real. Ele também é um inimigo explícito de Deus, de seus propósitos, de suas atividades e de seu povo. O nome Satanás significa adversário, e diabo significa acusador” (Mateus 12:24). “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniquidade em ti” (Ezequiel 28:15).
Incontáveis atrocidades foram cometidas no decorrer da cronologia humana motivadas por juízos que não passavam de ardis com o objetivo de ludibriar a essência de um bem superior. As pradarias germinadas com sementes de ódio ou pela polinização do rancor, certamente não proveram frutos adocicados. Portanto, torna-se salutar citar algumas considerações feitas por Paulo Portas, Ex-primeiro-ministro de Portugal: “Hoje se governa por likes, não de interesse geral ou sentido comum, mas pela gritaria nas redes sociais; isso prejudica a capacidade de conviver numa democracia e perverte o essencial da convicção democrática. Eu querer oferecer uma solução melhor que meu adversário difere muito do desejo de eliminá-lo".
Os correligionários de Jair Messias em si não são os inimigos das conquistas civilizatórias, apenas encontram-se deslocados de seu ambiente original. Pois em sua maioria compõe uma classe média depauperada que suportou anos de instabilidades sem qualquer tipo de política compensatória, foram tratados pelas elites dirigentes ora com desprezo, outrora com indiferença. Suportaram incontáveis agruras e ignomínias, e nesse momento transmitem sua revolta, seguindo um líder “insensível à vida e à dor do outro” (Ruth de Aquino). Portanto, a pacificação institucional e o resgate da concórdia social serão alcançados apenas quando encontrarmos uma solução perene a esse verdadeiro impasse.
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