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ESG em Transição: entre ceticismo geopolítico e a tangibilização sustentável

Movimento enfrenta desafios complexos, mas também se consolida como pilar irreversível para empresas que almejam relevância global

Claudio Bastos - Cofundador do Manifesto ESG do Porto de Santos

Publicado em 20/05/2025 às 07:00

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A primeira edição do ESG Challenge aconteceu em 2024 / Divulgação

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O Environmental, Social, and Governance (ESG) passa por um momento de paradoxo: enquanto avanços regulatórios e metodológicos ampliam sua tangibilidade, fatores geopolíticos e mudanças no mercado financeiro alimentam ceticismo. Em 2025, o movimento enfrenta desafios complexos, mas também se consolida como pilar irreversível para empresas que almejam relevância global.

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Após anos de crescimento exponencial, os ativos ESG registraram uma queda de 163,2 bilhões de dólares no primeiro trimestre de 2023, reflexo de uma "tempestade perfeita" de incertezas: conflitos como a guerra na Ucrânia e as tensões entre EUA e China redirecionaram investimentos para setores tradicionalmente menos associados à sustentabilidade, como energia e defesa.

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Além disso, a polarização política em países como os EUA, onde metade dos estados adotam medidas para restringir critérios ESG em investimentos públicos, amplia a desconfiança.

Esse cenário é agravado pela percepção de greenwashing e pela falta de padronização nas métricas de avaliação, o que exige transparência e rigor metodológico por parte das empresas.

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O resfriamento do mercado financeiro e os novos “ventos” geopolíticos, porém, não indicam o fim do ESG, mas sua transição para uma fase mais madura. O movimento está se integrando à análise fundamental de negócios, deixando de ser um "termo da moda" para tornar-se parte da gestão estratégica.

Academias e empresas respondem ao ceticismo com ferramentas inovadoras. Destaque para o Integrated Profit & Loss (IP&L), metodologia adotada pela Natura, que converte impactos socioambientais em valores monetários, permitindo comparação direta com resultados financeiros.

Ao atribuir um preço à biodiversidade preservada ou à inclusão de comunidades extrativistas, o modelo combate o greenwashing e oferece transparência. 

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Além do IP&L, outras ferramentas e frameworks, como o SASB (Sustainability Accounting Standards Board) e o TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures), vêm ganhando destaque ao integrar riscos e oportunidades ESG à análise financeira tradicional. A digitalização e o uso de inteligência artificial também estão revolucionando a coleta e análise de dados ESG, permitindo auditorias mais precisas e relatórios em tempo real.

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No campo regulatório, o Pacto Ecológico Europeu (Green Deal) emerge como força transformadora. Com metas como a redução de 55% nas emissões de gases de efeito estufa até 2030 (em relação a 1990) e investimentos da ordem de 1,8 trilhão de euros, a iniciativa pressiona empresas a adotarem padrões rigorosos de sustentabilidade.

A diretiva CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive), por exemplo, exige divulgações detalhadas sobre diversidade, cadeia de valor e emissões, influenciando não apenas europeus, mas também parceiros comerciais globais. Em outras regiões, como Estados Unidos e Ásia, regulações semelhantes vêm sendo discutidas e implementadas, promovendo maior alinhamento internacional e reduzindo o chamado “ESG arbitrage” (migração de empresas para mercados menos exigentes).

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Apesar dos desafios, estudos mostram que 95% dos brasileiros priorizam marcas com práticas sustentáveis, sinalizando que a demanda por responsabilidade social permanece forte. Algumas empresas brasileiras ilustram essa tendência: com metas claras para equidade de gênero e inclusão em lideranças até 2030, demonstrando que ESG gera valor ao alinhar-se a expectativas de consumidores e investidores. 

Ademais, o Brasil, com sua riqueza em biodiversidade e matriz energética limpa, possui potencial para liderar práticas ESG, especialmente em setores como agronegócio, energia renovável e economia circular.

No entanto, desafios como a informalidade, desigualdade social e questões fundiárias ainda dificultam a plena integração dos critérios ESG no país. Pequenas e médias empresas, por exemplo, enfrentam obstáculos para acessar ferramentas e financiamento necessários à implementação de práticas ESG robustas.

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O futuro do ESG dependerá de sua capacidade de adaptação. Geopolítica e flutuações de mercado continuarão a testar seu alcance, mas a crescente padronização de métricas (como as do IP&L) e a força de marcos regulatórios (como o Green Deal) sugerem uma trajetória de consolidação.

Para sobreviver, as empresas precisarão ir além do compliance, integrando critérios ESG ao núcleo de suas operações – não como um selo, mas como alicerce para inovação e perenidade.

Modelos de negócios regenerativos, cadeias de suprimentos transparentes e a adoção de economia circular surgem como diferenciais competitivos, atraindo investimentos de fundos de impacto e de venture capital voltados à sustentabilidade.

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Em um curtíssimo prazo, o ESG não será mais um debate sobre "se" as empresas devem adotá-lo, mas "como" fazê-lo de modo eficaz. Aquelas que transformarem riscos em oportunidades colherão os frutos de um mercado cada vez mais orientado por impacto tangível e sustentabilidade ética.

Questões como a comparabilidade e credibilidade das métricas globais, o papel dos investidores institucionais e o risco de backlash regulatório devem permanecer no centro do debate, impulsionando o amadurecimento e a relevância do ESG para o futuro dos negócios.

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