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Movimento enfrenta desafios complexos, mas também se consolida como pilar irreversível para empresas que almejam relevância global
A primeira edição do ESG Challenge aconteceu em 2024 / Divulgação
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O Environmental, Social, and Governance (ESG) passa por um momento de paradoxo: enquanto avanços regulatórios e metodológicos ampliam sua tangibilidade, fatores geopolíticos e mudanças no mercado financeiro alimentam ceticismo. Em 2025, o movimento enfrenta desafios complexos, mas também se consolida como pilar irreversível para empresas que almejam relevância global.
Após anos de crescimento exponencial, os ativos ESG registraram uma queda de 163,2 bilhões de dólares no primeiro trimestre de 2023, reflexo de uma "tempestade perfeita" de incertezas: conflitos como a guerra na Ucrânia e as tensões entre EUA e China redirecionaram investimentos para setores tradicionalmente menos associados à sustentabilidade, como energia e defesa.
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Além disso, a polarização política em países como os EUA, onde metade dos estados adotam medidas para restringir critérios ESG em investimentos públicos, amplia a desconfiança.
Esse cenário é agravado pela percepção de greenwashing e pela falta de padronização nas métricas de avaliação, o que exige transparência e rigor metodológico por parte das empresas.
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O resfriamento do mercado financeiro e os novos “ventos” geopolíticos, porém, não indicam o fim do ESG, mas sua transição para uma fase mais madura. O movimento está se integrando à análise fundamental de negócios, deixando de ser um "termo da moda" para tornar-se parte da gestão estratégica.
Academias e empresas respondem ao ceticismo com ferramentas inovadoras. Destaque para o Integrated Profit & Loss (IP&L), metodologia adotada pela Natura, que converte impactos socioambientais em valores monetários, permitindo comparação direta com resultados financeiros.
Ao atribuir um preço à biodiversidade preservada ou à inclusão de comunidades extrativistas, o modelo combate o greenwashing e oferece transparência.
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Além do IP&L, outras ferramentas e frameworks, como o SASB (Sustainability Accounting Standards Board) e o TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures), vêm ganhando destaque ao integrar riscos e oportunidades ESG à análise financeira tradicional. A digitalização e o uso de inteligência artificial também estão revolucionando a coleta e análise de dados ESG, permitindo auditorias mais precisas e relatórios em tempo real.
No campo regulatório, o Pacto Ecológico Europeu (Green Deal) emerge como força transformadora. Com metas como a redução de 55% nas emissões de gases de efeito estufa até 2030 (em relação a 1990) e investimentos da ordem de 1,8 trilhão de euros, a iniciativa pressiona empresas a adotarem padrões rigorosos de sustentabilidade.
A diretiva CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive), por exemplo, exige divulgações detalhadas sobre diversidade, cadeia de valor e emissões, influenciando não apenas europeus, mas também parceiros comerciais globais. Em outras regiões, como Estados Unidos e Ásia, regulações semelhantes vêm sendo discutidas e implementadas, promovendo maior alinhamento internacional e reduzindo o chamado “ESG arbitrage” (migração de empresas para mercados menos exigentes).
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Apesar dos desafios, estudos mostram que 95% dos brasileiros priorizam marcas com práticas sustentáveis, sinalizando que a demanda por responsabilidade social permanece forte. Algumas empresas brasileiras ilustram essa tendência: com metas claras para equidade de gênero e inclusão em lideranças até 2030, demonstrando que ESG gera valor ao alinhar-se a expectativas de consumidores e investidores.
Ademais, o Brasil, com sua riqueza em biodiversidade e matriz energética limpa, possui potencial para liderar práticas ESG, especialmente em setores como agronegócio, energia renovável e economia circular.
No entanto, desafios como a informalidade, desigualdade social e questões fundiárias ainda dificultam a plena integração dos critérios ESG no país. Pequenas e médias empresas, por exemplo, enfrentam obstáculos para acessar ferramentas e financiamento necessários à implementação de práticas ESG robustas.
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O futuro do ESG dependerá de sua capacidade de adaptação. Geopolítica e flutuações de mercado continuarão a testar seu alcance, mas a crescente padronização de métricas (como as do IP&L) e a força de marcos regulatórios (como o Green Deal) sugerem uma trajetória de consolidação.
Para sobreviver, as empresas precisarão ir além do compliance, integrando critérios ESG ao núcleo de suas operações – não como um selo, mas como alicerce para inovação e perenidade.
Modelos de negócios regenerativos, cadeias de suprimentos transparentes e a adoção de economia circular surgem como diferenciais competitivos, atraindo investimentos de fundos de impacto e de venture capital voltados à sustentabilidade.
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Em um curtíssimo prazo, o ESG não será mais um debate sobre "se" as empresas devem adotá-lo, mas "como" fazê-lo de modo eficaz. Aquelas que transformarem riscos em oportunidades colherão os frutos de um mercado cada vez mais orientado por impacto tangível e sustentabilidade ética.
Questões como a comparabilidade e credibilidade das métricas globais, o papel dos investidores institucionais e o risco de backlash regulatório devem permanecer no centro do debate, impulsionando o amadurecimento e a relevância do ESG para o futuro dos negócios.