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Artigo - Uma guerra para chamar de sua

Como toda guerra, a da vacina produzirá morte e flagelo. Brasileiros que poderiam ser imunizados, caso as vacinas se mostrarem seguras e eficazes, virarão estatística da aritmética da morte

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Publicado em 12/12/2020 às 07:02

Atualizado em 12/12/2020 às 11:55

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Francisco Marcelino, jornalista, escritor e professor / DIVULGAÇÃO

Por Francisco Marcelino

Ditadores gostam de guerras. A história nos brinda com muitos exemplos. Não podemos dizer que Jair Bolsonaro seja um ditador, porque ele foi eleito pelo voto popular. Mas não custa lembrar que Adolf Hitler também chegou ao poder na Alemanha pelo voto. Mesmo não sendo ainda um ditador, a cabeça de Jair Bolsonaro é o espelho perfeito do ditador: agride jornalistas, articula o fechamento da mais alta corte do país ou mente sobre dados concretos, como a devastação da Amazônia, o racismo ou a chegada da segunda onda da pandemia ao Brasil.

É um candidato a ditador que ainda não conseguiu vencer as amarras democráticas construídas no país desde o fim da ditadura militar. 

Assim, depois de ameaçar com pólvora a maior potência do planeta caso a saliva não fosse suficiente para resolver o problema da Amazônia, o seu governo se vê em meio à guerra da vacina. Guerra que se desenhava há meses. No fim de outubro, o presidente ordenou que o seu Ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, suspendesse acordo para comprar doses da vacina CoronaVac, que vem sendo desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantan de São Paulo. Nessa guerra, o governo federal deu o primeiro tiro ao deixar de explicar as razões científicas para a suspensão da compra. 

E como em toda guerra, informação é tudo. No caso do presidente, vale a desinformação. Nos últimos dias, vem negando que chamou a Covid-19 de uma “gripezinha”, apesar de haver duas gravações sobre isso. Esta semana, o presidente Bolsonaro atacou em outro fronte: disse que o Brasil vive o “finalzinho” da pandemia. Todos os dados demonstram que isso não é verdade: a cada dia o número de óbitos cresce, assim como a média móvel semanal desses dados; em alguns estados, sendo o Rio de Janeiro o maior exemplo, as UTIs atingem seu limite de ocupação; as contaminações estão em alta na maioria dos estados.

Como toda guerra, a da vacina produzirá morte e flagelo. Brasileiros que poderiam ser imunizados, caso as vacinas se mostrarem seguras e eficazes, virarão estatística da aritmética da morte.  E o que dirá Bolsonaro e o seu ministro diante dos dados? “E daí?” Ou então: “Vamos ter que enfrentá-lo (o vírus), mas enfrentar como homem, porra. Não como moleque. (...) Todos nós iremos morrer um dia.”

O fato é que o governo Bolsonaro lançou esta guerra porque não tem nenhum plano para enfrentar a pandemia. Enquanto o Ministério da Economia não sabe o que fazer diante da chegada da segunda onda, a pasta da Saúde não preparou a compra de seringas nem determinou que imunizantes serão de fato usados. Para piorar, a cada tanto, o ministro Pazuello anuncia novas datas de vacinação. 

Todo ditador tem uma guerra para chamar de sua. E guerras costumam gerar muitos crimes.

* Francisco Marcelino, jornalista, escritor e professor

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