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Artigo - Se contar direitinho, vira artigo científico

O ato de fofocar é, até certo ponto, um fenômeno da liberdade. Mas que fique bem claro: até certo ponto!

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Publicado em 03/10/2021 às 06:40

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Diego Monsalvo, professor de filosofia e escritor / DIVULGAÇÃO

Por Diego Monsalvo

O ato de fofocar é, até certo ponto, um fenômeno da liberdade. Mas que fique bem claro, até certo ponto!

A fofoca traz consigo duas características humanas que, juntas, nos transformam naquilo que somos: o querer e o dizer. Nós somos inicialmente aqueles que desejam, aqueles que querem.
O ímpeto da vontade em nossas vidas tece ao nosso redor uma rede de aconchego e desespero. De aconchego, pois acredito que ao desejar algo, me entrego a uma força que parece nutrir minhas escolhas à busca pela completude daquilo que pode, enfim, promover minha felicidade. De desespero, pois, paradoxalmente, me percebo como vítima de algo insaciável, essa mesma vontade, que parece não sossegar enquanto não escolho e sou escolhido, ao mesmo tempo,  como ser e objeto desse mundão de meu Zeus.  Sem folga. Sem desculpa. Sem freio. Sem fim.

O meu querer esgota, o teu desejo trai e  a vontade sempre predomina. Dona de si e de mim e de todos nós! Afinal, como canta Humberto Gessinger, “Mapas e bússola/ Sorte e acaso/ Quem sabe/ Do que depende?”

Por outro lado, o fato de que também somos seres de fala, de linguagem, nos dá uma possibilidade de elaborar o que pensamos e de dizer o que sentimos. Todo amor, toda alma, todo erotismo, assim como toda indiferença, toda miséria, todo ódio só pode se expor na língua!

O que falamos é o que deixamos, é a resposta de como reagimos, é a lógica de como lutamos, é o mal em que nos escondemos.  Não pensem que a linguagem, o ato da fala, o espírito do dizer se encontra só na palavra. Não! O corpo todo fala. Grita. Chora. Vibra e alucina.

Mas o que dizia é que a fofoca, até certo ponto, é libertadora, pois une querer e dizer num só ato e, ao mesmo tempo, nos coloca no centro de uma situação inusitada: ouvir o inesperado, contar o que estava guardado,  trazer à luz o que se queria escondido. Bom, é bem verdade que, tirando isso, a fofoca é só um sinal do vazio que guardamos em nossas vidas, uma vez que precisamos com ela preenchê-lo a partir daquilo que não nos acrescenta nada como seres humanos.

Mas até a fofoca deveria ter regras. Porém, acredito que se as tivesse, não seria mais fofoca, mas o início de um fenômeno científico.

Vejamos, como regra do fofocar ficaria estabelecido: primeiro, ter clareza no tema a ser explorado; traçar um objetivo específico; traçar um método de pesquisa e elaboração da narrativa; fazer testes e análises a partir de assuntos e casos paralelos e, por fim, estabelecer uma teoria que fosse justificada ao máximo e dentro da razão possível, pelas regras próprias da lógica e não pela opinião individual, subjetiva. 

Ou seja, se contar direitinho, vira artigo científico! Mas e aí, ainda é fofoca?

E a ciência, seria uma fofoca formal com rigor, método e regras lógicas prováveis e verificáveis?

Confesso que minha cabeça não acompanha os meus dedos enquanto escrevo, mas, no fundo, bem no fundo mesmo, fofocar nem é verbo, é quase substantivo dessa nossa espécie metida a besta!

* Diego Monsalvo, professor de filosofia e escritor

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