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Artigo - Prazo de validade

Se na Europa o plano de imunização está claramente traçado, no Brasil, sem surpresa, o processo é confuso

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Publicado em 05/12/2020 às 11:29

Atualizado em 05/12/2020 às 12:38

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Francisco Marcelino, jornalista, escritor e professor / DIVULGAÇÃO

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Por Francisco Marcelino

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A Europa se prepara para vacinar sua população. O Reino Unido é o país mais adiantado, com uma campanha que começará nos próximos dias. Outros países da região já detalharam seus planos de imunização, o número de doses asseguradas, a alocação de recursos, a logística de toda a operação. Aqui, na França, o primeiro-ministro Jean Castex anunciou na quinta-feira que o país assegurou 200 milhões de doses, o que permitirá imunizar 100 milhões de pessoas. A população francesa é de cerca de 67 milhões de habitantes. A campanha começa em janeiro, com 1 milhão de doses destinadas aos idosos abrigados em casas de repouso.

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Isso é um alívio. Na verdade, é um alívio em parte. No início do mês passado, uma pesquisa da Odoxa-Dentsu Consulting feita para o Franceinfo e o jornal Le Figaro apontou que metade dos franceses não quer se vacinar. Muitos têm receio dos efeitos colaterais ou da eficácia das vacinas. O ceticismo é ainda maior entre os mais jovens, aqueles entre 25 e 34 anos: uma taxa de 52 por cento. A explicação é simples: esse grupo tem menos risco de desenvolver a forma grave da Covid-19. 

É também um alívio parcial porque sabemos que a vacina não estará disponível para todos os países ao mesmo tempo. A desigualdade social mostra mais uma vez as suas caras. É também um alívio parcial porque alguns países dão claros sinais de incapacidade administrativa.

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Se na Europa o plano de imunização está claramente traçado, no Brasil, sem surpresa, o processo é confuso. O debate começou com o presidente defendendo que a vacinação não fosse obrigatória. Então, passou por uma disputa política com o governador de São Paulo sobre a vacina chinesa. Finalmente, o governo do presidente da "gripezinha" anuncia um plano para o início de março, enquanto que o estado de São Paulo pretende começar sua campanha em janeiro. 

O que o brasileiro de Minas Gerais que mora na fronteira com o estado de São Paulo achará disso? E os brasileiros de outros estados fronteiriços com São Paulo, para não dizer todos os cidadãos do país?

Tudo o que comemos tem prazo de validade. As vacinas têm prazo de validade. A água engarrafada tem prazo de validade. Os testes para Covid-19 também, como bem prova o Ministério da Saúde. Políticos também têm prazo de validade. O prazo deles está escrito na Constituição e é referendado pelo voto. 

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Jair Bolsonaro, que parece já ter nascido estragado, sabe disso. Sabe que seus dias estão contados depois da péssima gestão da pandemia. Por isso que hoje ele nega ter se referido ao Covid-19 como uma "gripezinha", mesmo havendo DUAS gravações sobre isso.

Mas existem as coisas que não estragam. Entre elas, cito a burrice e a inteligência. Por uma coincidência incrível, as duas sempre se encontram a cada quatro anos nas urnas.

Francisco Marcelino, jornalista, escritor e professor

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