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Por Francisco Marcelino
Pais, avós, cunhados, primos, amigos e até o tio do churrasco têm um ditado para cada ocasião. Se você brigar na rua com o seu irmão, seu pai ou sua mãe dirá: "roupa suja se lava em casa". Para aquele amigo muito nostálgico, você mesmo é quem lembrará que "água passada não move moinho". Que "quem semeia vento, colhe tempestade". Ou ainda lembrando da querida, e tão-maltratada ultimamente, Amazônia: "Onde há fumaça, há fogo".
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Bom, o meu pai — e, certamente, o tiozão do churrasco —, costumava descrever assim os assassinos retratados nas reportagens da tevê: "Aqui, o mais bonzinho matou o pai e a mãe para ir no baile dos órfãos". A lista é longa.
Apesar disso, não encontrei um ditado que pudesse consolar a dor de tantos brasileiros que choram parentes e amigos levados pela Covid-19. Não encontrei tampouco um que pudesse descrever a situação absurda que vivemos. Na verdade, nem mesmo palavras posso pinçar de nossa rica língua portuguesa para colocar aqui. Nem tentem folhear o Aurélio ou o Houaiss. A palavra não estará lá nesses dicionários.
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O descalabro que vivemos é mais do que estatística e mais do que qualquer ditado.
Mais de 100 mil mortos. Em breve, diremos quase 150 mil, porque a cada dia, vemos 40 mil, 50 mil novos infectados. Com uma taxa de letalidade de 3,3%, segundo dados do Ministério da Saúde, já dá para saber o destino de parte dessas 40 mil ou 50 mil pessoas daqui a algumas semanas.
Está cada vez mais claro que não superaremos em breve esse estado de coisas. Para nós, sobrou a torcida por uma vacina. Até lá, será uma agonia. Apesar de ser uma solução difícil, social e economicamente, o confinamento era (e ainda é) a única medida eficaz para desacelerar a transmissão.
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Depois dessa fase, vinham o respeito ao distanciamento social, o porte de máscara e o uso do álcool em gel. Mas o brasileiro fez um confinamento meia-boca e desrespeitou as regras de segurança da fase seguinte. Como resultado, o confinamento durou mais tempo e a contaminação foi maior do que na Europa ou na Argentina.
E quando tudo isso acabar — uma hora acabará —, a obrigação do Brasil será avaliar erros e acertos, inclusive punir quem deve ser punido e premiar os que lutaram contra essa doença. Precisamos estar prontos. Do mesmo jeito que essa pandemia passará, uma nova surgirá. A história nos mostra que foi sempre assim. As epidemias assolam a humanidade de tempos em tempos: a peste negra, a sífilis, a gripe espanhola, o HIV, o ebola.
Agora, com a globalização, essas epidemias se espalham mais rapidamente. Não podemos falhar uma outra vez. Mentira tem perna curta.
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Francisco Marcelino, escritor e cineasta