25 de Abril de 2024 • 16:59
Francisco Marcelino, jornalista, escritor e professor / DIVULGAÇÃO
Por Francisco Marcelino
A doença é um dos aperitivos da morte. Morre-se de muitos modos, por causa da poluição, acidentes, guerras, latrocínio, mas são as doenças que levam os humanos e os animais aos borbotões. O ano de 2020 nos fará para sempre lembrar desse aperitivo cruel, a Covid-19, que levou milhões em cada canto do planeta. Somos pequenos e frágeis diante de doenças.
O ano de 2020 não terminará no dia 31 de dezembro. É o ano em que a Terra, que normalmente demora 365 dias e cerca de seis horas para completar uma volta em torno do Sol, gastará meses e mais meses adicionais para cumprir sua órbita.
Para ajustar as seis horas que não adicionamos ao ano civil de 365 dias, a cada quatro anos acrescentamos um dia no mês de fevereiro, que passa a ter 29 dias. O chamado ano bissexto. Como em 2020 a Terra levará 365 dias e alguns meses para cumprir sua órbita em torno do Sol, com qual nome poderíamos batizá-lo? Não sei. Falta-me criatividade para esse batismo.
Além da doença, 2020 exacerbou a bestialidade e a crueldade humana. Nesse quesito, o Brasil se destacou com louvor. Líderes religiosos e políticos disseminaram (e continuando disseminando) notícias falsas sobre a doença, a vacina e possíveis remédios para curá-la. Um pastor vendia feijões mágicos por R$ 1.000 que poderiam curar a doença.
No Whatsapp, chegou-me há pouco o vídeo de um outro pastor pregando que a vacina chinesa — referência à CoronaVac, que é desenvolvida pela chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan de São Paulo — poderia nos transmitir HIV e até alterar o nosso DNA. Com um discurso baseado em um filme de espionagem, o pastor ainda dizia que um cientista francês, de quem não sabemos o nome nem as credenciais científicas, afirma que o novo coronavírus foi criado num laboratório francês e depois disseminado pela China. Assim como a doença mata aos borbotões, as fake news também.
Quanto aos líderes políticos, esses nos brindaram com fake news proferidas em lives, redes sociais, coletivas de imprensa e comunicados. Com isso, passamos pela fase da negação da doença, a da negação da necessidade de isolamento e de uso de máscaras, a dos remédios que teriam a capacidade de curar a doença até chegar aqui, a da negação da segunda onda e dos benefícios da vacina. Em março, o presidente Jair Bolsonaro disse que o número de mortos pela Covid-19 não passaria de 800. Estamos nos aproximando de 200 mil.
O ano de 2020 não terminará no dia 31 de dezembro, como eu já disse acima. O problema é que não sabemos quando este ano terminará. Não sabemos quando poderemos estourar nossas garrafas de champagne para comemorar um feliz ano novo. E certamente, não sabemos como este ano terminará.
Pelo bem ou pelo mal, entro de férias. Só retornarei aqui no ano civil de 2021.
* Francisco Marcelino, jornalista, escritor e professor
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