Falta de oxigênio em hospitais instaura caos em Manaus / REPRODUÇÃO/TWITTER
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Por Francisco Marcelino
O Santos está na final da Libertadores. A notícia já é velha. A novidade poderia ser essa: Marinho, o astro do time, chega para treinar no dia seguinte e descobre que não há quase bolas no centro de treinamento nem chuteiras. Na sala de ginástica, faltam equipamentos para toda a equipe. Então, o técnico Cuca decide que Marinho treina, enquanto que os goleiros aguardam. O que dirá a torcida? No mínimo, que faltou administração.
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Mas isso é apenas futebol e uma hipótese. (Bom, não entremos na questão do atraso de salários, que não é uma hipótese.) No mundo real, quando você chega ao seu escritório, há papel no banheiro, café e água para todos os funcionários, o elevador está funcionando e por aí vai.
No mundo real, em Manaus, o médico chega ao hospital, desinfecta-se, veste a sua indumentária anti-covid e checa como estão os seus pacientes. Dez minutos depois, ele descobre que só tem ar para mais duas horas. Logo mais, ele verá seus pacientes morrerem por asfixia. Uma agonia. De quem é a culpa? Com certeza, não é do médico, da enfermeira ou do Marinho. É dos administradores, da esfera municipal até a federal. É de quem protesta contra as medidas de isolamento, o uso de máscara e ainda defende o chamado tratamento precoce, o que inclui a administração de drogas sem eficácia comprovada.
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Quem se responsabilizará ou será responsabilizado por essas mortes por asfixia que estão acontecendo em Manaus? Alguns dos pacientes escaparão, mas poderão sofrer danos cerebrais irreversíveis. Quem se responsabilizará por isso?
Os culpados não querem entender que medidas de isolamento são adotadas para evitar o colapso do sistema de saúde, o que acaba de acontecer com Manaus. E isso era previsível. Com uma semana no cargo, o prefeito David Almeida (Avante) anunciou a construção de 22 mil sepulturas para evitar o colapso do sistema funerário da cidade. A lógica é canhestra: evita-se o colapso do sistema funerário, enquanto que o da saúde corre solto.
Na Baixada Santista, é comum usar o termo pejorativo farofeiro para descrever os turistas que descem a Serra do Mar para passar um dia na praia. Mas, vejam, o farofeiro sabe que para um dia de farofa na praia é preciso levar o guarda-sol, as cadeiras, o isopor com água, refrigerante e cerveja, o protetor solar, brinquedos para as crianças e, claro, o frango com farofa! Uma organização exemplar.
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Na farofa do governo federal, a vacina que deveria vir da Índia virá do Butantã, mesmo que tenha sido acusada de causar anomalias genéticas medonhas. Na farofa do governo federal, o início da campanha de vacinação será no dia D e na hora H. Na farofa do governo federal, não foi prevista a compra de seringas. Na farofa do governo federal, a pobre Venezuela oferece oxigênio para o Amazonas.
Francisco Marcelino, jornalista, escritor e professor