Jovem que mora em abrigo emociona público durante formatura do Jepoe em SV

Ângelo Raphael, 16 anos, mora em um abrigo mantido pela Prefeitura de São Vicente. Foi abandonado ainda na infância. Sofreu maus tratos, conheceu as drogas, o mundo do crime e a Fundação Casa. Na manhã ensolarada deste sábado (22), diante de mais de mil pessoas, ele contou sua história e como uma oportunidade está mudando sua vida. Ele é um dos 895 jovens da primeira turma do programa Via Rápida 18 - Jovens em Exercício do Programa de Orientação Estadual (Jepoe) mantido pelo Governo do Estado em 16 cidades.

“Minha mãe morava em um prostíbulo. Assim que nasci fui jogado na rua. Minha avó me pegou para criar, mas aos oito anos me entregou para o Conselho Tutelar. Acabei indo para as ruas. Conheci o vício, as drogas e o crime e fui parar na Fundação Casa. Hoje moro em um abrigo. Os conselheiros tutelares e o pessoal da Seas (Secretaria de Assistência Social) me apoiam muito. Têm me dado muita orientação. O Jepoe é uma grande oportunidade. Abracei os estudos. Antes eu era visto com preconceito e desprezo. Hoje sou visto como um cidadão de bem e honesto”, disse Raphael, em um depoimento emocionado durante a cerimônia de formatura da primeira turma do programa na Cidade.

Ele e o irmão, que também está abrigado, integram o projeto.

A cerimônia de formatura do Jepoe foi realizada neste sábado (22) na Praça Tom Jobim, no Gonzaguinha. O evento reuniu mais de mil pessoas entre jovens participantes do projeto, familiares e autoridades.

“Estou muito orgulhosa dos meus filhos. Tenho dois participando do projeto. É uma oportunidade para que eles aprendam uma profissão”, disse Elisangela Ribeiro, que mora na Vila Margarida.

Danilo Ribeiro, 16 anos, é um dos filhos de Elisangela. Ele, que cursa o nono ano do Ensino Fundamental, já sonha com a futura profissão que aprenderá em uma das capacitações oferecidas pelo Jepoe. “É o meu primeiro curso. Quero me especializar para trabalhar na área de panificação”.

Formatura - Os formandos do curso concluíram a disciplina de formação cidadã, iniciada em 24 de agosto. A partir de agora eles ingressam em uma nova fase, onde poderão escolher dois cursos técnicos entre restauração, auxiliar de veterinária, panificação, administração, paisagismo e manutenção predial. Além disso, os participantes terão um tempo para prestar serviços comunitários todos os dias, sendo monitorados por sargentos aposentados da Polícia Militar. Neste período eles recebem bolsa auxílio de 500 reais, vale-transporte e uniforme.

“O programa muda a lógica da vida dos jovens que estão em vulnerabilidade social. Abre as portas para que eles tenham formação profissional e cidadã e para que olhem a vida com outra perspectiva, a perspectiva da transformação”, disse Rogério Barreto, coordenador operacional do Jepoe no Estado de São Paulo.

O prefeito Pedro Gouvêa ressaltou a importância do projeto. “Prefiro vê-los no sol, em lugar que tenha a esperança de um futuro melhor. Não em celas, em lugares sem cor. O Jepoe é o começo de uma vida de cores. As obras que fazemos pela Cidade acabam esquecidas, mas as obras que fazemos na vida das pessoas essas permanecem”.

A presidente do Fundo Social de Solidariedade de São Paulo, professora Lúcia França, destacou os sonhos ao se dirigir aos formandos: “Não deixem ninguém falar que vocês não podem alguma coisa. Vocês podem sim. Vocês podem muito”.

As aulas do programa são realizadas no período da manhã, das 7h30 às 12h, e no período da tarde, das 13h30 às 18h. Em São Vicente, o time de profissionais é composto por 25 professores, 35 policiais militares, três assistentes sociais e três psicólogas que ficam à disposição dos estudantes. Participam do Via Rápida 18, jovens de baixa renda, entre 16 a 18 anos, sendo o curso de duração de seis meses.