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Santos

Cadeia Velha de Santos não será mais Centro Cultural

Governo do Estado volta atrás em decisão e espaço será compartilhado entre Agência Metropolitana da Baixada Santista e Projeto Guri; uso para artistas locais ainda está em análise

Rafaella Martinez

Publicado em 12/01/2017 às 10:30

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Decisão de 15 de janeiro de 2015 afirmava que Cadeia seria um espaço para incentivo à produção local / Rodrigo Montaldi/DL

“Eu me lembro dos anos da ditadura, na virada da década de 80, em que cada grupo teatral tinha um espaço aqui na Cadeia. Aqui nosso grupo estudou e concebeu um espetáculo que foi parcialmente censurado pela polícia. Desde aqueles anos de efervescência cultural a Cadeia sempre foi um espaço de fomento ao pensamento crítico, ocupado pelos artistas locais”.

A fala do atual diretor de gestão cultural de Praia Grande, Renato Paes, refere-se aos tempos áureos da Cadeia Velha de Santos, imóvel centenário e tradicional abrigo de artes integradas e que passará a funcionar, dentro de algumas semanas, como sede administrativa da Agência Metropolitana da Baixada Santista (Agem). A informação foi transmitida pelo atual secretário de Cultura do Estado, José Roberto Sadek, em coletiva realizada ontem.

A mudança no destino da Cadeia ocorre exatamente um ano após o anúncio oficial da Secretaria de Cultura do Estado de que o imóvel seria um espaço para incentivo à produção cultural, com atividades de formação nos mais diversos formatos e linguagens. A decisão havia sido anunciada após duas audiências públicas e diversos ­protestos da classe ­artística.

De acordo com o novo anúncio do Estado, a prioridade é otimizar custos e usar o prédio para evitar deterioração.

“Todas as oficinas do interior funcionarão em parceria com as cidades. Aqui em Santos, a Prefeitura sinalizou que não havia interesse em assumir o imóvel, por conta de restrições orçamentárias, e conseguimos essa parceria com a Agem, que tem um eixo cultural forte e quer crescer esse eixo”, afirmou Sadek.

De acordo com ele, a sede administrativa da Agem ocupará o primeiro andar da Cadeia, enquanto o polo local do Projeto Guri, programa gratuito de formação musical, será instalado no térreo. Uma sala será de múltiplo uso e outra será ­dedicada a ­exposições.

Questionado, Sadek não deu garantia de que os grupos artísticos locais poderão usar o prédio. “Estamos analisando a melhor forma de uso. O que é possível afirmar categoricamente é que a Cadeia Velha de Santos não será mais um Centro Cultural”, finalizou­.

Aluguel

De acordo com subsecretário de Estado de Assuntos Metropolitanos, Edmur Mesquita, o aluguel do atual espaço onde a Agem está instalada gira em torno de R$ 20 mil.

“Se colocarmos na ponta do lápis são R$ 250 mil anuais que estão sendo gastos com aluguel. Vamos usar esse valor para cuidar da manutenção desse espaço que é referência das mais importantes para a cultura de Santos e região”, apontou.

Mesquita afirmou ainda que a Agem buscará parceria com o setor privado para auxiliar no custeio do espaço.

Oficinas culturais

Ainda de acordo com o secretário, as cidades-sede das oficinas, como Santos, receberão os recursos do Governo do Estado para fazer as atividades de ­oficinas.

“As demais cidades vão solicitar diretamente para a organização social as oficinas que quiserem e a O.S. abastecerá com a atividade solicitada no local determinado. O projeto oficina não parou, o que está parando é a administração predial. Estamos saindo do ramo imobiliário, mas não estamos deixando as ­atividades de formação­”.

Artistas repudiam mudança

O anúncio foi alvo de duras críticas da classe artística de Santos, que se mobilizou desde o fechamento da Cadeia Velha para que o espaço não perdesse a vocação artística. 

“É frustrante e assustador. Estão mudando o caráter da Cadeia e interrompendo a vida cultural pulsante que funcionava durante o dia, a noite e os finais de semana aqui”, afirma o escritor Viegas Amoreira.

“Como fica a geração que já deixou de compartilhar desse espaço nesses cinco anos que o imóvel está fechado? Como ficará quem vier depois? Estamos perdendo um espaço vital. Vemos essa situação com muito desconforto e pesar”, destacou Junior Brassalotti.

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