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Praia Grande

PF faz operação contra crime eleitoral em campanha de Haddad em 2012

A PF informou que a operação conta com 30 policiais que cumprem nove mandados de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, São Caetano e Praia Grande

Folhapress

Publicado em 01/06/2017 às 13:30

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A Polícia Federal deflagrou na manhã desta quinta-feira (1º) a Operação Cifra Oculta para apurar crimes eleitorais e lavagem de dinheiro relacionados à campanha de Fernando Haddad (PT) para Prefeitura de São Paulo em 2012.

A PF informou que a operação conta com 30 policiais que cumprem nove mandados de busca e apreensão, expedidos pela 1º Zona Eleitoral de São Paulo, nas cidades de São Paulo, São Caetano e Praia Grande.

A operação é um desmembramento da Operação Lava Jato e começou em novembro de 2015 após o STF (Supremo Tribunal Federal) desmembrar a colaboração premiada de executivos da empresa UTC em anexos para a investigação nos estados.

O inquérito apura o pagamento, pela empreiteira, de dívidas de uma das chapas da campanha de 2012 à Prefeitura de São Paulo, referentes a serviços gráficos no valor de 2,6 milhões. A gráfica pertencia a familiares de Francisco Carlos de Souza, ex-deputado estadual.

Em setembro de 2016, a Folha de S.Paulo mostrou que Souza, conhecido como "Chicão" ou "Chico Gordo", é proprietário da gráfica Souza & Souza, alvo de ação na Justiça Eleitoral movida pelo PSDB em processo que investiga a campanha presidencial da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer em 2014. A suspeita é de que a gráfica seja uma empresa de fachada, sem capacidade de produção de material para campanha e emissora de notas frias.

Em nota, a PF informa que a dívida teria sido paga por meio de um doleiro, em transferências bancárias e dinheiro vivo, para empresas. "Uma empresa mencionada na delação aparece como fornecedora de serviços, com valores informados de cerca de R$ 354 mil. Somente consta na prestação de contas ao TSE outra prestação de serviços gráficos de aproximadamente R$ 253 mil, valores bem inferiores à soma de R$ 2,6 milhões, que teria sido paga pela empreiteira UTC a gráficas.

Empresário teria recebido propina ligada a campanha de Haddad

Na oportunidade, a reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que o dono de uma gráfica investigada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ex-deputado estadual petista Francisco Carlos de Souza recebeu, segundo três delatores da Lava Jato, R$ 2,6 milhões em propina da Petrobras para pagar dívidas da campanha de 2012 do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT).

Na Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef, o acionista da construtora UTC Ricardo Pessoa e o ex-diretor financeiro da empreiteira Walmir Pinheiro apontaram um homem apelidado de "Chicão" como destinatário de transações para quitar despesas de campanha de Haddad, mas não indicaram o nome completo dessa pessoa.

Em depoimento à força-tarefa da operação, em julho de 2015, Youssef afirmou que realizou os repasses para "Chicão" a pedido de Ricardo Pessoa. O delator disse não se lembrar do nome completo dele, mas deixou um número de celular que bate com o de Souza, conforme apuração da Folha.

Posteriormente, Pessoa também fechou acordo de colaboração e confirmou as transferências. O valor, segundo ele, seria descontado da "conta corrente" de propinas devidas ao PT, abastecida com desvios da Petrobras.

Pessoa disse que "Chicão" foi indicado como destinatário dos valores pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

Segundo o ex-diretor financeiro da UTC Walmir Pinheiro, a dívida da campanha de Haddad foi negociada diretamente com "Chicão".

Pinheiro relatou ainda que, em reunião, Vaccari "afirmou que teria uma dívida da campanha de Haddad de R$ 3 milhões com uma gráfica" e "perguntou se poderiam pagar essa dívida e abater o valor na conta corrente que mantinham, decorrente das obras da Petrobras".

Ante a concordância de Pessoa, Pinheiro negociou o pagamento e conseguiu reduzi-lo para R$ 2,6 milhões.

No celular de Pinheiro, o nome de "Chicão" estava registrado como "Chicao jvn" -em referência às iniciais do ex-tesoureiro Vaccari.

Youssef complementou o relato, dizendo que o total do suborno foi repassado de forma parcelada em 2013, em dinheiro vivo ou transferências bancárias feitas por uma das empresas de fachada do doleiro, a Empreiteira Rigidez.

Quebra de sigilo bancário mostra que em 10 de junho de 2013 a Empreiteira Rigidez transferiu R$ 160 mil para outra gráfica ligada a Souza, a LWC Artes Gráficas, que pertencia a sua ex-mulher e a um irmão dele à época dos repasses. De acordo com o doleiro, essa era parte da quitação em favor de "Chicão".

Várias gráficas

Nos anos 70, Souza foi metalúrgico. Na década seguinte, foi fundador do PT e elegeu-se deputado estadual pelo partido. Está no ramo gráfico desde os anos 90, época em que foi dono de uma terceira gráfica, a King Graf.

Na prestação de contas de Haddad em 2012 estão registradas despesas no valor de R$ 354 mil com a LWC.

Naquele ano, a LWC declarou ter prestado serviços para comitês de seis partidos no Estado. Foram R$ 960 mil em despesas oficiais, conforme registro no TSE. Desse total, R$ 866 mil vieram do PT.

Outro lado

Na oportunidade, a assessoria de imprensa do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), a defesa do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e a assessoria do PT negaram envolvimento em um suposto repasse de propina para quitar dívidas de campanha do chefe do Executivo paulistano.

A assessoria do prefeito apontou que a única despesa da campanha de Haddad de 2012 relacionada a Souza referiu-se à gráfica LWC, no valor de R$ 354 mil, que foi paga ainda no período eleitoral.

"Os serviços prestados pela LWC Editora Gráfica à campanha de Fernando Haddad, em 2012, foram todos quitados durante a campanha eleitoral, como atesta a prestação de contas registrada e aprovada no TRE [Tribunal Regional Eleitoral]", afirmou a assessoria.

Segundo o diretório nacional do PT, "todas as operações financeiras do PT foram realizadas estritamente dentro dos parâmetros legais e posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral".

O criminalista Luiz Flávio Borges D'Urso, advogado do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, disse que não há provas de que seu cliente tenha participado de um acerto para pagar dívidas de campanha de Haddad com recursos ilícitos, e isso ocorre porque Vaccari não cometeu os crimes apontados pelos delatores da Operação Lava Jato.

Procurado pela reportagem desde segunda (26) por e-mail, telefone e por intermédio de seu antigo advogado, Luís Carlos, o empresário Francisco Carlos de Souza não quis se manifestar.

Em janeiro, a respeito da apuração do TSE sobre supostas irregularidades na campanha da chapa Dima-Temer em 2014, Souza disse que sua gráfica prestou os serviços pelos quais foi paga.

Para isso, segundo o empresário, sua gráfica terceirizou parte dos serviços.

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